Saúde e Bem-Estar

Hipnoterapia: Romper preconceitos

Alberto Lopes é uma cara bem conhecida dos portugueses. Licenciado em psicologia e mestre em neuropsicologia trabalha como hipnoterapeuta clínico há vários anos e é especialista em neuropsicologia.  Muito tem feito para quebra os paradigmas e os mitos criados em volta da hipnose – esse estado de olhos fechados e mente aberta que não é sono, nem sonho, mas um estado alterado de consciência.

Apesar da existência de algum ceticismo pela hipnose, a Organização Mundial da Saúde considera-a uma clínica válida e recomenda-a em diversos tratamentos. A hipnoterapia está devidamente regulamentada em Portugal?

Na realidade, Portugal ainda carece de uma regulamentação sobre a prática clínica da hipnose. Apesar de instituições de prestígio internacional como a OMS, a Associação Psiquiatra Americana (APA), a American Medical Association (AMA), entre outras, regulamentarem e recomendarem o uso da hipnose clínica aos profissionais da área, no nosso país ainda persistem alguns mitos e preconceitos no uso da técnica pelos profissionais de saúde. Em Portugal a maioria dos profissionais hipnoterapeutas estão agrupadas em associações que regulam o setor. Por exemplo, a Associação Portuguesa de Hipnose Clínica e Hipnoanálise, do qual eu sou o seu presidente, é a associação mais antiga, representativa e a que mais tem contribuído para a dignificação e credibilização do uso da técnica. A APHCH é pioneira na acreditação de hipnoterapeutas em Portugal e procura munir os seus profissionais com as devidas competências técnicas deontológicas e éticas sobre a hipnoterapia. Contudo, é importante que se diga que instituições como a Ordem do Psicólogos Portugueses (OPP) sugere o uso da hipnose pelos psicólogos, como uma das ferramentas de que dispõe na sua prática clínica. Outro exemplo das vantagens do uso da hipnose em ambientes de saúde é dado pela Direção Geral de Saúde (DGS), numa comunicação aos seus profissionais em 2014 a tutela aconselha o uso da hipnose no controlo da dor e, passo a citar: «a hipnose e a meditação podem aumentar os níveis endógenos de endorfinas e atuar sobre os mecanismos cerebrais de controlo da dor» (ORIENTAÇÃO – DGS. 2014. Intervenções Psicossociais; ponto c).

Para um leigo, como podemos definir o transe e o estado de transe hipnótico?

Pessoalmente gosto de dizer que a hipnose será uma interessante combinação de relaxamento físico e perspicácia mental. Mas, por definição, a hipnose é um estado específico de consciência e ele pode acontecer pela concentração da atenção do sujeito num ponto uma sensação ou uma ideia. Na realidade a hipnose é, em si, um estado modificado da consciência, que concede a capacidade do facilitador de salientar seletivamente a atenção do sujeito para uma determinada emoção, sensação ou ideia, em detrimento de tudo o resto. Ou seja, podemos aferir que o transe hipnótico promove um estado especial de atenção em que mente do individuo em transe deixa de prestar atenção aos estímulos periféricos, em detrimento das suas sensações e processos internos e isso é potenciado para efetuar mudanças qualitativas e posterior intervenção hipnoterapêutica de reestruturação cognitiva da problemática do paciente.

Em que género de tratamentos pode ser implementada a hipnoterapia? Este pode ser um método de combater doenças como a depressão ou ansiedade, evitando fármacos?

A terapêutica com o uso da hipnose procura tratar sobretudo as emoções, a forma como ela poda afetar ou ajudar a combater a doença psicológica ou física, mas também da consciência e da ligação entre corpo e mente. Refiro muitas vezes que a hipnose é uma técnica de grande abranagência clínica. A sua relevãncia no tratamento da ansiedade e depressão está mais do que comprovada. Mas a hipnose clínica tem dado uma contribuição em áreas tão importantes como a psicologia e psiquiatria, não só nas perturbações mais comuns como a depressão no tratamento de medos e fobias, mas também revela-se eficaz no controlo das adições como o tabaco e alcool. Outra área onde tem sido de grande ajuda é no controlo e modulação da dor crónica e aguda. Atualmente, a hipnose tem sido aplicada com inumeras vantagens numa melhor gestão da co-morbilidade nos tratamentos de doenças oncológicas e auto-imunes e/ou doenças psicossomáticas, entre elas:  as doenças reumáticas e dermatológicas, o cancro, a fibromialgia  e outras perturbações de índole psicossomáticas.

A clínica Dr Alberto Lopes é uma das mais conceituadas a nível nacional, a que se deve esse sucesso?

Na verdade, até agora, não existia em Portugal nenhuma clínica que oferecesse tratamentos na área da hipnoterapia com dignidade no atendimento e competência nos seus profissionais. As nossas instalações são muito acolhedoras e com dignidade que a técnica merce ser reconhecida. Há algo que também sempre nos pautamos uma boa informação para esclarecer mitos, preconceitos ou dúvidas sobre a aplicação da técnica. de forma que a pessoa que recorre à hipnoterapia se sinta como se estivesse em casa. Em segundo lugar sempre houve uma preocupação em dotar o corpo clínico da Clínica Dr. Alberto Lopes, com os melhores profissionais formados em várias áreas de saúde.  Preocupados em preencher esta grave lacuna todo o profissional de saúde que faz parte do meu corpo clínico, para além das formações na área da saúde que possa possuir, tem de fazer uma formação em Hipnose Clínica Integrativa HCI, visando cumprir os requisitos técnicos e deontológicos que o seu Conselho Científico da APHCH recomenda a todos os profissionais de hipnose. Os cursos de Hipnose Clinica Integrativa HCI, facilitados por mim, são os únicos no nosso país que são acreditados pela DGERT e engloba um período mínimo de horas recomendado de formação, que pode ir até 12 meses com estágio clínico obrigatório. Sendo que, para receber o diploma de hipnoterapeuta acreditado, é obrigatória uma componente de estágio em ambiente real de consultório, acompanhado com hipnoterapeutas seniores recomendados pela Associação Portuguesa de Hipnose e Terapia Regressiva. Pensamos que para um futuro hipnoterapeuta, não basta só a teoria das aulas, é sempre necessária a prática com os doentes em ambiente clínico. Assim, os nossos terapeutas são competentes e idóneos na sua área de intervenção, mas sobretudo, exigimos que reúnam um conjunto de competências na área da saúde mental, hipnoterapêutica, filosóficas e até espiritual.

Os pacientes têm sempre consciência do que se passou no processo terapêutico?

Evidentemente que sim! Repare que a hipnose não é a inconsciência do sujeito, bem pelo contrário, é hiperconsciência. Quer dizer, consciência expandida. Importa esclarecer que, em momento algum o paciente perde a consciência do processo, muito menos o controlo de tudo o que passa à sua volta, podendo em qualquer momento despertar do transe hipnótico. Na verdade, trata-se de um estado especial de concentração focalizada e consciência expandida, em comparação com os estágios normais de vigília e sono. Com a mente devidamente hipnotizado o paciente pode ter acesso a memórias e emoções esquecidas à muito tempo, e que podem estar a ser vividas em estado de drama no presente. A hipnose, através da hiperconsciência, permite um mergulho introspetivo nas trajetórias e memórias esquecidas do ser.

Alberto Lopes

Dizem que o consciente é inteligente, mas o inconsciente é sábio. Talvez, digo eu, seja no nosso inconsciente, onde existe um vasto reservatório de experiências e saberes ancestrais, que devidamente acedidos, compreendidos e potenciados podem ser usados como coadjuvante para restaurar o equilíbrio psicofísico do paciente. Uma coisa é certa, creio que a hipnoterapia é atualmente considerada, por quase todos os especialistas, uma terapia breve, inócua e natural. E que pode ser usada isolada ou complementarmente, e com bastante sucesso, na maioria das perturbações psicológicas e psicossomáticas. Recordo que os recentes estudos provam que o estado hipnótico é uma condição mental em que o cérebro apresenta alta atividade psíquica, e uma maior irrigação cortical e subcortical, que desencadeia importantes reações cerebrais. Por exemplo, ocorre um aumento na produção de várias moléculas neurotransmissoras como: endorfinas e serotonina – que liberta estímulos de bem-estar, combatendo a depressão-, a dopamina e noradrenalina – que ajuda grandemente na cura de doenças ao fortalecer o sistema imunológico e manter a nossa homeostasia interna-, etc. Efetivamente, a hipnose é hoje reconhecida como uma importante ferramenta para tratar e ultrapassar a maioria das perturbações psicológicas, eliminar as dores e ansiedade e, também, vencer quase todos os nossos medos. Além disso, ela está a ser usada com eficácia para diminuir o sofrimento de pacientes com neoplasias, doenças neurodegenerativas e psicossomáticas. A hipnose permite diminuir o receio dos tratamentos oncológicos, assim com enfrentar eficazmente as principais fobias e a famigerada depressão.

Tal como conta no seu livro “A Terapia do Encantamento”, a hipnose é também uma forma de autoconhecimento e autocontrole?

Sim, é verdade! Afirmo, muitas vezes, que a hipnose dá respostas às principais perguntas da vida. A hipnose clínica de regressão pode e deve estar disponível para mais pessoas que a ela queiram recorrer, mas importa muito passar uma imagem profissionalizante dos hipnoterapeutas. A hipnose clínica traz algo de nova à forma como fazemos psicoterapia e creio que ainda falta dar uma oportunidade à técnica para demonstrar todo o seu extraordinário poder de auxiliar.

Se é verdade que a hipnose não é uma panaceia que tudo cura, compreende-se, como todas as técnicas de saúde tem as suas limitações, mas ela apresenta uma abordagem mais humanizada e integrativa na forma como podemos tratar do doente.  Ou seja, creio que a hipnose clínica é um interessante método de intervenção e que pode ajudar os profissionais de saúde a compreender e a utilizar melhor a psicodinâmica interna do cérebro humano, nos diversos estágios de transe. Aprendendo como aflorar dimensões da psique que promovem o autoconhecimento da principal raiz do problema. Sobretudo, aqueles que foquem a autocura, para promover harmonia, saúde e crescimento pessoal. Daí, que se impõe aos profissionais envolvidos na prestação de cuidados de saúde a necessária atualização de novas metodologias e abordagens psicoterapêuticas mais naturais humanizadas e que respeite o equilíbrio psicofisiológico do doente.