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Surto da COVID-19 controlado em maio

Cientistas da China e EUA quiseram “ultrapassar as limitações dos modelos epidemiológicos” e desenvolveram um método com base na inteligência artificial que pode projetar a evolução da COVID-19 no mundo.

A cumprir a “intervenção de saúde pública ativa” desde 17 de março, Portugal poderia ter o pico da epidemiano decorrer do dia de hoje, a 23 deste mês, segundo o exercício feito por cientistas dos EUA e china e adaptado ao nosso país. Segundo os mesmos cálculos, o controlo do surto poderia acontecer a 5 de Maio e, no final de 65 dias de epidemia, contaríamos um total de 2655 casos no país.

A equipa apresentou uma série de cálculos e cenários numa pré-publicação de um artigo divulgado na última segunda-feira. No entanto, o estudo rapidamente ficou desatualizado e foi ultrapassado pela realidade. O trabalho falava de Portugal e de outros 29 países, mas apresentava apenas o cenário para uma intervenção de saúde pública ativa a começar a 9 de Março – o que, como sabemos, não aconteceu.

Momiao Xiong, investigador no Departamento de Bioestatística na Escola de Saúde Pública da Universidade do Texas, em Houston (EUA), atualizou os dados, a pedido do jornal Público. Os novos cálculos assumem como ponto de partida os dados da última segunda-feira, quando tínhamos 245 casos confirmados e partem do pressuposto de que a intervenção ativa de saúde pública entraria em vigor no dia seguinte, 17 de Março.

Perante estes dados, Momiao Xiong afirma que o pico da pandemia em Portugal será a 23 de Março, com o registo de 205 novos casos confirmados nesse dia e que o controlo do surto acontecerá no início de Maio, com um total de 2655. Importa agora perceber como se explicam estes números.

No seu estudo os cientistas apresentam estimativas para dois cenários possíveis: um em que existe uma intervenção limitada de saúde pública e outro que mostra o resultado que teríamos se uma “intervenção ativa”, com interação social restrita e quarentena, tivesse começado a 9 de Março. No entanto, e como sabemos que isso não aconteceu, para encontrarmos os novos números não basta empurrar os cálculos no calendário. Pela sua complexidade os modelos têm de ter em conta uma série de variáveis e parâmetros que, entre outras coisas, são influenciados por previsões de contágios de uma pessoa infetada.

Segundo explicam, foi desenvolvido “um método de auto-codificadores modificados (MAE, na sigla em inglês) para prever a trajectória de disseminação de COVID-19 nos países afetados, sob diferentes níveis e prazos das estratégias de intervenção”.

O principal objetivo deste modelo é responder a duas questões importantes. “A primeira pergunta é se é necessária ou não uma intervenção abrangente não medicamentosa em saúde pública. A segunda pergunta é qual a importância do tempo de intervenção”. E a resposta vem logo a seguir: “A nossa análise mostra que as intervenções de saúde pública devem ser executadas o mais cedo possível”. Como já sabíamos pelos números.

Os autores concluem que, a nível mundial, um atraso de quatro semanas, a contar de 8 de Março, na adoção de medidas de proteção causaria um aumento do número total de mortes de 7174 para 133.608 e levava a que o controlo do surto só fosse conseguido a 22 de Agosto, em vez de 25 de Junho, como inicialmente previsto.

“Após a intervenção ativa, o número total final previsto de casos no mundo seria reduzido de três milhões 929 mil 641 casos para 211 mil, ou seja, 94,6% de potenciais casos seriam eliminados e o tempo de duração foi reduzido de 215 dias para 157 dias, com a data final a mudar de 22 de Agosto para 25 de Junho”, salientam no artigo.

Numa altura em que o tempo é um dos piores inimigos, é espectável que o estudo possa já estar desatualizado, uma vez que todas as medidas podem não ter sido tomadas atempadamente. No entanto, a ideia principal que os autores querem comunicar mantém-se: achatar a curva com uma intervenção ativa de saúde pública “é extremamente importante”.

Momiao Xiong realça essa importância e equaciona outros cenários mais otimistas para Portugal. Assim, se a ação de saúde pública só arrancasse a 23 de Março teríamos um pico a 30 de Março e um total de 14.825 casos, com fim anunciado para 2 de Junho. Por fim, se a intervenção apenas começasse a 30 de Março o pico seria a 3 de Abril e o total de casos chegaria aos 59.674 a 22 de Junho.