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COVID-19: Quem diria que o exemplo de contenção vinha da Ásia?

A Coreia do Sul aprendeu com a última infeção provocada pelo coronavírus MERS-CoV, o Japão protegeu logo a população envelhecida e até na China – onde isto tudo começou – foi tudo controlado. Isto é o que temos a aprender com estes países asiáticos.

Comecemos com números. A Coreia do Sul teve 38 mortos aquando do surto da MERS (Síndrome Respiratória do Médio Oriente), o que representa uma taxa de mortalidade superior a 18%. Isto foi em 2015, apesar da infeção provocada pelo coronavírus MERS-CoV ter sido detetada pela primeira vez em 2012. Em 2020, o novo coronavírus representa 1,06% de mortalidade, uma das taxas mais baixas desta pandemia. Como é que conseguiram? Com testes em massa e medidas de contenção rápidas, eficazes e cumpridas pela população.

Os testes em massa são testes rápidos, do género dos testes de gravidez, em que se coloca a amostra e mostra a reação. O teste coreano, feito a partir de um sistema de inteligência artificial baseado em big data [grande volume de dados estruturados e não estruturados que são gerados a cada segundo], tem várias soluções químicas. As amostras são colhidas dos pacientes e misturadas nas soluções, que reagem com o conteúdo genético presente.

Segundo a CNN, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da Coreia do Sul  (KCDC, na sigla em inglês), que normalmente pode levar até um ano e meio para aprovar a libertação desse tipo de teste, pô-lo pronto a funcionar no espaço de apenas uma semana. A Seegene, empresa responsável pelo kit, tem pelo menos 30 países na fila de espera dos pedidos. E é apenas uma das quatro empresas coreanas que fabricam o teste. A companhia produz cerca de 10 mil kits por semana, sendo que cada um deles pode testar 100 pacientes – ou seja, um milhão de pessoas por semana.

Além disto, a Coreia do Sul instalou estações de drive-through para realizar os exames rápidos sem que as pessoas saiam dos seus automóveis. É só chegar de carro que os profissionais da saúde – todos com máscaras cirúrgicas e fatos de proteção da cabeça aos pés – recolhem as amostras para fazer o exame. É usado um cotonete comprido para retirar muco do interior da boca e garganta e outro cotonete para retirar amostra do nariz das pessoas.

As amostras são colocadas num tubo e enviadas rapidamente para um laboratório. O teste é realizado em ambiente de pressão negativa para evitar qualquer tipo de contaminação. A precisão é de 98% e leva entre um e dois dias para o resultado ficar pronto.

A pessoa recebe um telefonema se o teste for positivo ou uma mensagem de texto, se for negativo. Se o diagnóstico for positivo, a deslocação dos pacientes é rastreada por vídeo-vigilância ou telemóvel. Mensagens por SMS são depois enviadas quando aparece um novo caso perto de casa ou do local de trabalho.

A testagem em massa da população também permite a identificação de casos assintomáticos (sem sintomas).

Cerca de 96% dos laboratórios públicos e privados estão aptos a realizar testes para o novo coronavírus e são a linha de frente no combate à doença, segundo a BBC.

Tal como noticiou a SIC Notícias, 500 clínicas, das quais dezenas são móveis, fizeram quase 300 mil testes nas últimas semanas. Isto permitiu detetar mais cedo focos de infeção.

O regresso às aulas foi adiado, pela terceira vez, pelo governo sul-coreano, para o início de abril. E, desde que eclodiu a epidemia na península coreana, houve uma campanha de informação pública com o apelo à participação cívica e, sobretudo, a autorização para os testes em massa.

“Fizemos o nosso melhor para armazenarmos recursos e trabalhamos com esforço para fazer testes em massa a pessoas e realizar quarentenas”, disse o epidemiologista Hwang Seung-sik, professor na Universidade Nacional de Seul, citado pela televisão árabe Al-Jazeera. “Mas o coronavírus anda por aí há três meses e não é muito claro quais os preparativos que fizeram os Estados Unidos e os países europeus.”

A Coreia começou a ter registos pouco depois do início da epidemia na China. O primeiro relato de um caso foi feito em 20 de janeiro. O pico de casos novos em 24 horas ocorreu em 29 de fevereiro – com 909 registos – e na quarta-feira (18 de março), era de apenas 93.

No Japão, país com a população mais envelhecida do mundo, as medidas foram igualmente eficazes. Tóquio cancelou o acesso a parques e evitou multidões na passagem da tocha olímpica, sendo que os Jogos ainda estão previstos acontecer no verão. Apenas os casos mais graves podem ser encaminhados para os hospitais. A maioria dos pacientes com sintomas leves está em tratamento ambulatório e sob vigilância médica regular. Os grupos de infetados (são 21) estão a ser controlados pelas autoridades e são mantidos juntos, para evitar novos contágios.

No entanto, como noticia o ‘Expresso’, a Coreia do Sul, tal como a China – onde o surto da COVID-19 começou no final do ano passado, mas que também tomou medidas drásticas para controlar a pandemia, como a quarentena obrigatória -, está a ter um aumento de casos positivos numa altura em que parecia estar tudo controlado. Esta quinta-feira, 19 de março, registaram-se 152 novos casos, na quarta mais 93 e na véspera mais 84. Tudo porque os sul-coreanos que viviam no estrangeiro regressaram a casa.