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COVID-19 força empresas a mudar de negócio

Em tempo de guerra não se limpam armas. Enquanto há setores a beneficiar com o novo coronavírus, outros tantos tiveram de mudar de negócio. Não estamos a falar daqueles exemplos que lutam para sobreviver a esta crise igualmente económica, mas sim das empresas que se adaptaram para ajudar todos a prevenir e combater o vírus.

Esta é uma das poucas notícias positivas em torno do assunto COVID-19. Há várias empresas que estão a converter as suas linhas de produção para produzirem máscaras cirúrgicas, batas, gel desinfetante e todo o equipamento médico que está a escassear, numa altura em que o país conta já com 23 vítimas mortais e 2060 pessoas infetadas (segundo os dados oficiais divulgados a 23 de março, pelas 12h00).

Segundo a agência noticiosa ‘Lusa’, o grupo Super Bock juntamente com a Destilaria Levira, as têxteis Polopique, Calvelex, Lameirinho, Riopele, Paulo de Oliveira, Sonix, Spars, um grupo de 26 cervejeiros artesanais e um grupo de voluntários do Fundão, são exemplos de empresas e grupos que uniram esforços e estão a produzir equipamentos que estão a fazer muita falta, principalmente aos profissionais de saúde.

A Super Bock e a Destilaria Levira estabeleceram uma parceria para a produção de gel desinfetante para as mãos, que vai ser oferecido a três unidades hospitalares da região do Porto.

“Para começo, são cerca de 56 mil litros de álcool da produção de cerveja sem álcool que vão ser transformados, pela Destilaria Levira, em aproximadamente 14 mil litros de álcool gel para as mãos, num processo de fabrico que segue as diretrizes da Organização Mundial de Saúde. Destinam-se a várias unidades hospitalares do norte do país, para que disponham de uma maior quantidade destes produtos indispensáveis para a prevenção e tratamento da infeção com a Covid-19″, explica o grupo Super Bock, em comunicado, replicado pela ‘Lusa’.

Tal como a Super Bock Group e a Destilaria Levira, um grupo de cervejeiros artesanais disponibilizou o bactericida, fungicida e viruscida que usam habitualmente. Este grupo disse à ‘Lusa’ que, desde o início do estado de alerta no país, a 16 de março, já ofereceu 80 mil litros de solução desinfetante a instituições de todo o país.

A Polopique, Calvelex, Lameirinho, Riopele e Paulo de Oliveira são cinco empresas de têxtil que uniram esforços para produzirem batas para os profissionais de saúde. Já foram oferecidas as primeiras 200 batas ao Hospital de Guimarães.

“Estas empresas aceitaram o desafio da Anivec para que as empresas da fileira têxtil e do vestuário colocassem os seus ativos e a sua capacidade instalada à disposição do SNS”, disse, por sua vez ao ‘ECO’ da ‘Sapo’, o presidente da Calvelex (e da Anivec), César Araújo.

A Sonix, empresa têxtil sediada em Barcelos, tomou a mesma providência e decidiu suspender parcialmente a produção e começou a produzir batas e máscaras para entregar nos principais hospitais do Norte.

Já a Spars, empresa de Vila Nova de Gaia, também se disponibilizou para reconverter parte da linha de produção e passar a fabricar cerca de cinco mil máscaras por dia, que não são consideradas um equipamento de proteção individual. “É um produto para proteção comunitária”, alertou desde logo à SIC, Jorge Santos, sócio-gerente da Spars. É uma alternativa para “deixar aquilo que é equipamento de proteção individual para as pessoas que estão na primeira linha de combate a esta pandemia”.

Com a mesma iniciativa uma rede de voluntariado do Fundão, que integra pessoas e instituições do Fundão, distrito de Castelo Branco, está a produzir máscaras de proteção em tecido para ceder à proteção civil. O objetivo é produzir máscaras de proteção reutilizáveis em tecido para fazer face às necessidades locais e que serão distribuídas em função das necessidades do executivo.

Ideia ótima, mas e a qualidade?

Salienta o ‘ECO’ que, apesar de toda esta onda de solidariedade, o diretor geral do Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário (Citeve), alerta que neste momento estão a ser produzidas máscaras em Portugal que “são um perigo porque não têm qualquer garantia”. Destaca ainda que já foram realizados alguns testes e a conclusão a que chegaram é que efetivamente essas “máscaras não protegem”.

“Quando estamos a falar de máscaras, estamos a falar de coisas muito específicas, com licenças (…) é necessário fazer as devidas verificações para que o produto final corresponda ao nível de segurança que é pretendido, esse tem sido o nosso trabalho: ajudar as empresas a ter a certeza que aquilo que estão a fazer está a ser bem feito e que não vai ter um efeito contra producente nos cidadãos”, explica Brás Costa.

Perante este cenário, Brás Costa explica ao ‘ECO’ que o Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário está a fazer é um dossiê técnico onde vai constatar cada especificação de cada peça, tendo em conta as matérias-primas disponíveis no nosso país, como por exemplo, as máscaras para profissionais de saúde e as máscaras pelo uso da população.

Ventiladores a caminho

O primeiro-ministro já afirmou que o Governo está a apoiar um centro tecnológico que está a desenvolver condições para a produção nacional de ventiladores e que várias empresas reorientaram a sua produção para produtos de proteção individual.

No final do Conselho de Ministros de 18 de março, em que anunciou o conjunto de medidas económicas e sociais devido à pandemia, António Costa referiu não ter havido até ao momento necessidade de fazer requisição civil daquele tipo de equipamento.

“Estamos a apoiar um centro tecnológico que está a desenvolver, para disponibilizar de uma forma aberta a todas as empresas, a criação de condições para a criação nacional de ventiladores”, precisou António Costa, adiantando que o Governo está também a trabalhar e a apoiar um conjunto de empresas e outras entidades que estão a reorientar a sua produção para o fabrico de equipamentos de proteção individual.

Ao mesmo tempo, acrescentou, o Executivo está a apoiar empresas que estão a desenvolver novas formas de teste rápido, sendo que algumas já se encontram a proceder a testes reais.

O objetivo é criar condições para que os testes de despiste da COVID-19 possam ser massificados. Esta segunda-feira, 23 de março, Lisboa abriu dois centros de teste drive-in, apenas para quem tem prescrição médica do SNS. No Porto, uma das zonas mais fustigadas com o novo coronavírus, o Queimódromo, no Parque da Cidade, já está convertido num espaço semelhante há mais de uma semana.