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De Itália para o Mundo, as mensagens multiplicam-se

Multiplicam-se as frases, slogans e hashtags que apelam à comunidade virtual para se manter informada e longe dos espaços públicos. Mas é de Itália que vêm os principais apelos através de testemunhos reais que enfrentam diariamente a principal frente de 'guerra' contra o novo coronavírus.
Unspalsh / Federico Beccari @federize

Multiplicam-se as frases, slogans e hashtags que apelam à comunidade virtual para se manter informada e longe dos espaços públicos. Mas é de Itália que vêm os principais apelos através de testemunhos reais que enfrentam diariamente a principal frente de ‘guerra‘ contra o novo coronavírus.

Chama-se Jason Yanowitz e recorreu ao Twitter para deixar uma forte mensagem ao mundo sobre a pandemia de coronavírus Covid-19. Jason começou por achar que a covid-19 não era assim tão grave, mas foi uma questão de pouco tempo até o homem, que vive em Itália, perceber as verdadeiras consequências desta pandemia. Agora, num país devastado pelo novo coronavírus, Jason utilizou as redes sociais para apelar ao mundo que ganhe consciência da situação e deixa vários conselhos.

“Penso que todos sabem que a Itália se encontra em quarentena devido à covid-19. A situação é má, mas pior é ver o resto do mundo a agir como se isto não fosse acontecer com eles. Sabemos que pensam assim, porque nós também pensámos”, começa a escrever.

Jason enumerou as fases que o país atravessou até chegar à situação atual.

“Sabemos que o coronavírus existe e começam a surgir os primeiros casos no nosso país”. Contudo, “não há nada com que nos preocuparmos, porque é apenas uma gripe má“, descreveu.

Numa segunda fase, os casos começam a aumentar, algumas cidades entraram em quarentena e acreditava-se que a comunicação social estaria a exagerar na forma como noticiavam a situação, por isso, os media começaram por ser acusados de causar o pânico desnecessariamente. “A situação é triste, mas estão a ser tomadas medidas por isso nada temos com que nos preocupar”, ironiza.

Contudo, numa terceira fase, as coisas começam a mudar. “O número de casos começa a aumentar de forma vertiginosa. Surgem as primeiras mortes, 25% de Itália entra em quarentena, começam a  fechar-se escolas e universidades. Os avisos para evitar o contacto social bem como para lavar as mãos é repetido vezes sem conta, mas as pessoas continuam sem entender a gravidade da situação”. Ainda assim, “cerca de 10 mil pessoas da zona de quarentena escapam dessa área na mesma noite em que a quarentena é decretada para voltar para as suas casas no resto do país“.

“Ainda não percebem a seriedade da situação. Em todos os sítios as pessoas aconselham a lavar as mãos e limitar as saídas, grupos grandes são proibidos, a cada 5 minutos na TV lembram essas regras. Mas ainda não se estabeleceu na mente das pessoas”, escreve.

Já na quarta fase recorre-se ao estado de emergência nacional. O número de casos não para de aumentar, as escolas e universidades estão todas encerradas por pelo menos um mês. “É uma emergência nacional de saúde. Os hospitais estão em esforço, unidades inteiras são esvaziadas para dar espaço aos pacientes do coronavírus. Não há médicos e enfermeiras suficientes. Começam a chamar aposentados e alunos finalistas. Acabaram os turnos, trabalha o máximo que puderes”, relata. Mas “os médicos e enfermeiros estão a ser infetados, e contagiam as suas famílias. Existem muitos casos de pneumonia, muitas pessoas precisam de cuidados intensivos e não há lugar para todos.

Neste ponto é como estar em guerra: Os médicos precisam de escolher, com base nas hipóteses de sobrevivência. Significa que idosos e pacientes que sofreram, por exemplo, AVC’s não podem ser tratados porque os casos de coronavírus têm prioridade. Não há recursos suficientes para todos. Gostava de estar a brincar, mas é literalmente o que aconteceu. As pessoas morreram porque não havia espaço, Tenho um médico amigo que me ligou arrasado porque teve de deixar três pessoas morrerem naquele dia. Enfermeiras choram porque vêm pessoas a morrer e não podem fazer nada a não ser oferecer um pouco de oxigénio. O parente de um amigo morreu ontem de coronavírus porque eles não o podiam tratar. É um caos e o sistema está a entrar em colapso. O coronavírus e a crise que o mesmo está a provocar, é o que se ouve em todo o lado”.

Na quinta fase todo o país entra em quarentena. “Lembram-se do idiota que saiu da zona em quarentena para outra parte de Itália? Bem, a quarentena é decretada em todo o país. O objetivo é atrasar a propagação do vírus o máximo possível. As pessoas podem ir ao trabalho, fazer compras, ir à farmácia e todas as empresas ainda estão abertas porque, caso contrário, a economia entraria em colapso. Agora há medo, vê-se muitas pessoas com máscaras e luvas por perto, mas ainda existem pessoas que pensam que são invencíveis, que vão a restaurantes em grandes grupos, saem com amigos para beber e por aí fora”.

O país entra na sexta fase. Poucos dias depois, é então anunciado que todas (ou a maioria) das empresas estão fechadas: bares restaurantes, centros comerciais, todo o tipo de lojas. Tudo, exceto supermercados e farmácias. Apenas se pode circular se transportarmos connosco uma certificação – um documento oficial em que declaramos o nome, de onde viemos e para onde estamos a ir e porquê. “Se fores encontrado na rua sem razão válida, corres o risco de uma multa e se fores um paciente positivo desconhecido corres o risco de enfrentar uma pena de prisão de 1 a 12 anos por homicídio”.

O resto do mundo, exceto a Itália, a China e a Coreia, está apenas a começar a alcançar outras fases, então deixe-me dizer uma coisa: Vocês não têm ideia do que está a chegar. Eu sei porque há duas semanas era eu quem não tinha ideia”, começa por aconselhar, pedindo a todos que fiquem em casa.

Jason refere que “este problema não se vai resolver sozinho” e assume que custa ver determinados países a adiar decisões que são essências para salvar os seus.

A enfermeira que se tornou símbolo da luta ao coronavírus em Itália

A fotografia de uma enfermeira a dormir tornou-se símbolo do cansaço e do esforço dos profissionais de saúde em Itália. A imagem foi captada no hospital de Cremona, no norte de Itália. A província é uma das mais afetadas pelo coronavírus Covid-19.

Segundo o jornal Il Quotidiano Italiano, a enfermeira foi fotografada depois do turno da noite – que termina às seis da manhã – no hospital. Descansava durante cinco minutos antes de voltar ao trabalho, com a cabeça em cima de um lenço à frente do computador.

O fotógrafo, um médico, deixou algumas declarações ao jornal italiano. “Estamos todos a ser testados por esta situação, mas os enfermeiros mais que todos. Não se poupam. No início de cada turno, és assaltado por um sentimento de angústia, um nó na garganta para esconder o medo, depois respiras profundamente, pões a máscara e recomeças”, relatou.

“Ninguém está a salvo”

O enfermeiro ítalo-brasileiros Dante Baldi, de 54 anos, trabalha há mais de 30 anos na Policlínica Gemelli, o maior hospital de Roma. Por lá, setores inteiros foram fechados e adaptados para abrigar exclusivamente os pacientes infectados pelo coronavírus.

“Se uma pessoa em estado grave for muito idosa, nós deixa-mos morrer. É preciso escolher, e não posso deixar que um ventilador seja ocupado por alguém de 90 anos, com uma perspectiva de um ou dois anos de vida, e ignorar alguém de 60 anos, que tem uma perspectiva de longevidade maior. Todos os dias testemunho isto”, diz Baldi numa entrevista entrevista à revista brasileira ÉPOCA, da rede Globo.

Ele menciona um dos casos vividos para ilustrar a dura rotina vivida no hospital de Roma. “Ontem um senhor de 86 anos estava agonizando e acabou por morrer porque não havia lugar nem possibilidade de o salvar. A situação no hospital está quase em colapso. Fechamos as salas operatórias e deixamos de fazer todas as cirurgias, mesmo as marcadas como urgentes.”

Baldi ressalta que o novo coronavírus pode ser mortal até para os mais novos. “Estamos a testar muitas pessoas, e neste momento registamos uma taxa de mortalidade superior a 5%. Primeiro era só com os mais velhos, mas o vírus está a entrar em mutação infectando crianças e jovens. Estamos todos cientes do que está a acontecer. Ninguém está a salvo.”

“Não somos heróis”

Paolo Miranda é enfermeiro no Hospital de Cremona, cidade localizada a sudoeste de Milão, Lombardia. A região continua a ser a mais afetada em todo o país pela pandemia, com mais de 27 mil casos registados.

Durante os vários turnos que fez no hospital, entre 11 e 15 de março, registou a exaustão que, já então, era visível no rosto dos colegas. Quinze dias depois, o cenário não é muito melhor.

Algumas das imagens, feitas no único hospital de Cremona, na Itália, foram publicadas no Instagram e têm sensibilizado o mundo. “Estou a tentar capturar o máximo de momentos possível, esperando, no final, poder contar uma história através de imagens que nos ajudará a refletir o futuro”, escreveu numa das fotografias.

“Non siamo eroi, siamo dei professionisti e soprattutto persone” (Não somos heróis, somos profissionais e, acima de tudo, pessoas) escreve numa das fotografias publicadas, retratando a impotência dos profissionais de saúde perante a pandemia do novo coronavírus.

Italianos mandam mensagem para italianos de há 10 dias atrás

Que mensagem os italianos de hoje mandariam para os italianos de há 10 dias atrás? Pode parecer estranho, mas um video com intuito de recuar no tempo para alertar o mundo foi produzido pelo coletivo de artistas A Thing By, de Milão. No video são recolhidos depoimentos de vários italianos que há pouco mais de uma semana desvalorizavam as consequências da COVID-19.

A mensagem é destinada às pessoas de países que não chegaram ao ponto crítico de Itália, mas que pode vir a chegar: “Nós subestimamos, não façam o mesmo”, diz um dos testemunhos. “Vão viver momentos de união que jamais imaginaram”, relata outro.

“Andrà tutto bene”

Enquanto as escolas e as creches não reabrem, milhares de crianças italianas têm feito em casa o que normalmente estariam a fazer nas aulas: desenhos. Mas estes rabiscos têm uma mensagem de esperança. Uma única, igual para todos. A frase “Andrà tutto bene” (“vai ficar tudo bem”) está a aparecer escrita em folhas, lençóis, cartolinas, autocolantes um pouco por todo o lado: pendurada nas varandas, colada em montras de lojas, nas redes sociais através das fotografias que as famílias destas crianças estão a publicar.

Recorde-se que a Itália é o segundo país do mundo mais afetado pela pandemia com mais de 63.927 casos e mais de 6.077 mortes.