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COVID-19: Grande ensaio clínico testa quatro tratamentos

Um grande ensaio clínico acaba de ser lançado para testar quatro tratamentos experimentais contra o novo coronavírus em vários países europeus. A informação é avançada pela agência de notícias francesa AFP (France Presse).
unsplash.com /@CDC

Um grande ensaio clínico acaba de ser lançado para testar quatro tratamentos experimentais contra o novo coronavírus em vários países europeus. A informação é avançada pela agência de notícias francesa AFP (France Presse).

O ensaio Discovery, lançado no domingo, deve incluir 3.200 pacientes europeus em França, na Bélgica, nos Países Baixos, no Luxemburgo, no Reino Unido, na Alemanha e em Espanha, podendo chegar a outros países. Cada paciente receberá um dos quatro tratamentos terapêuticos de forma aleatória, distribuídos mediante uma operação de informática. Não é o médico que decide. “Isto nos permite definir a amostra do teste”, explica a médica Florence Ader, infectologista no hospital da Cruz Vermelha do Centro Hospitalar Universitário (CHU), que comanda o projeto.

Pacientes envolvidos

Em França, a experiência abrange 800 participantes. São apenas elegíveis pacientes hospitalizados nos serviços de doenças infeciosas e reanimação. São doentes que apresentam sintomas respiratórios, nomeadamente pneumonia, e/ou que precisem de um suporte de oxigénio, precisou Ader.

O tratamento começou rapidamente para estes pacientes, uma vez que “os prazos parecem ser um fator importante nesta doença”, assinala a especialista.

Quanto mais se avança na doença, menos a presença do vírus é importante. “Se queremos um efeito antiviral numa molécula, este deve ser administrado muito cedo”, acrescentou Bruno Lina, professor de biologia em Lyon.

O remdesivir:

É um antiviral concebido inicialmente para o vírus ébola, mas “com um raio de ação mais amplo, uma vez que interage com outros vírus e é, sobretudo, capaz de bloquear a reprodução deste novo coronavírus”, explica Bruno Lina. “Esperamos muito desta molécula, uma vez que os primeiros resultados in vitro foram muito bons”, o virologista.

O lopinavir combinado com o ritonavir:

Trata-se também de “reciclar” um medicamento contra o VIH, que consiste em “bloquear a reprodução do vírus”, de acordo com o investigador: “Percebemos que funciona no tubo de ensaio”.

A combinação já foi testada na China, mas com resultados mitigados, principalmente porque muitos dos pacientes “foram incluídos muito tardiamente”, mas de acordo com o investigador: “Percebemos que funciona no tubo de ensaio”.

O ensaio Discovery, lançado muito antes na evolução da covid-19, será complementar ao teste chinês.

A mesma combinação lopinavir/ritonavir, associada ao interferon-beta:

Esta associação é considerada interessante, tendo em conta que a doença compreende duas fases: Uma fase virológica, na qual se pensa que os antivirais “podem ter um efeito importante”, e uma fase com “síndrome inflamatória”, podendo provocar danos no sistema pulmonar e na qual se espera poder bloquear o processo inflamatório, explicou o especialista.

A hidroxicloroquina:

O quarto tratamento, primo da cloroquina, medicamento contra o paludismo que suscitou muitos debates, não está previsto para o início. Este medicamento, semelhante à cloroquina, não estava previsto, a princípio. Foi incluído a pedido da OMS e do governo francês.

“Pareceu-nos lógico adicioná-lo porque foram-nos fornecidos dados recentes, nomeadamente um artigo chinês publicado a 9 de março no maior jornal de infeciologia norte-americano, que apresenta um número considerável de argumentos interessantes”, justificou Florence Ader. Porquê a hidroxicloroquina, em vez da cloroquina? As duas moléculas agem da mesma forma, mas a primeira apresenta menos riscos de toxicidade, segundo Lina.

Prazos

Em França, os primeiros tratamentos começaram no domingo no Hospital Bichat, em Paris, e no CHU, em Lyon. A seleção dos hospitais fez-se “em função da cartografia da epidemia” e o recrutamento dos 800 pacientes franceses será concluída “o mais rápido possível”.

Nos outros países, “caberá à capacidade de cada país desenvolver os respetivos ensaios”, indicou Ader. A primeira avaliação clínica realizar-se-á ao 15.º dia de tratamento, e “nas semanas seguintes começará a haver resultados”, previu.

Assim que o ensaio demonstre “a superioridade de um dos quatro regimes de tratamento”, os investigadores tencionam sugerir aos reguladores em França e no mundo que o utilizem.

O tratamento poderá ser libertado “muito rapidamente”, tendo em conta que a população se encontra numa situação de “carência terapêutica”, sublinharam, apelando, no entanto, para “prudência” enquanto não se conhecerem os efeitos.