A imprensa espanhola tem estado a destacar (e a elogiar) o discurso de António Costa a atacar as declarações do ministro das finanças holandês ofensivas para Espanha e Itália.
Esta quinta-feira, no final da reunião do Conselho Europeu por videoconferência, o primeiro-ministro português mostrou-se irritado com as palavras do ministro das Finanças dos Países Baixos, Wopke Hoekstra.
O governante holandês afirmou que a Comissão Europeia devia investigar países, tal como Espanha, que dizem não ter margem orçamental para lidar com a crise provocada pela pandemia de Covid-19, apesar de a zona euro estar a crescer há sete anos consecutivos.
“Esse é um discurso repugnante no quadro da União Europeia. A expressão é mesmo esta: repugnante. Ninguém está disponível para voltar a ouvir ministros das Finanças holandeses como aqueles que já ouvimos em 2008, 2009, 2010 e em anos consecutivos”, afirmou António Costa.
As palavras do primeiro ministro não ecoaram no vazio e foram enaltecidas por várias personalidades e jornais.
O ‘El País‘, diário generalista mais vendido em Espanha, coloca em grande destaque no site, assinalando que “Portugal arremete contra a repugnante resposta dos Países Baixos à crise sanitária”.
Wopke Hoekstra, ministro holandês, afirmou que Itália e Espanha deviam ser investigadas por não terem dinheiro para fazer face à pandemia. “Repugnante”, catalogou António Costa em relação a estas declarações.
“Bravo señor Costa”, “tinha que ser um português” e “bravo por este homem, tanto que aprender com Portugal”, são apenas alguns dos muitos comentários a elogiar as palavras de Costa.
Nem os jornais desportivos espanhóis deixaram passar esta atitude do primeiro-ministro português. O ‘Mundo Deportivo‘ destacou também no seu site o ataque de Costa, escrevendo que o mesmo “carregou contra a Holanda pelas declarações repulsivas, sem sentido e totalmente inaceitáveis de Hoekstra”.
Também o “El Economista” diz que Portugal está furioso com a Holanda, citando António Costa: “Não foi Espanha que criou ou importou o coronavírus”. O jornal espanhol adianta que as palavras do ministro holandês “são de uma irresponsabilidade absoluta” e são “uma maldade recorrente que mina o espírito europeu”, citando António Costa.
Também Enrique Santiago, deputado do Podemos, apoiou as palavras proferidas por Costa e agradeceu a Portugal por “colocar bom senso à Holanda”.
Gracias #Portugal por poner sensatez frente a la insolidaria actitud de Holanda tras el fracaso de la cumbre por el #Coronavirus
— Enrique Santiago (@ensanro) March 27, 2020
La pandemia no entiende de nacionalidades#Estevirusloparamosunidos pic.twitter.com/JWqvfb7L2w
Primeiro-ministro indignado pelas declarações de ministro holandês
António Costa não se arrepende. Menos de 24 horas depois de ter considerado “repugnante” e antieuropeia a observação do ministro holandês das Finanças à situação orçamental de espanhóis e italianos que não lhes permite fazer frente à pandemia do novo coronavírus, o primeiro-ministro reiterou a afirmação nesta sexta-feira.
A uma pergunta de uma jornalista sobre se não se teria excedido, Costa interrompeu a visita ao Centro para a Excelência e Inovação da Indústria Automóvel, em Matosinhos, e foi directo: “Excedi-me? Estão a brincar comigo?”.
“Pretender resolver a pandemia na Holanda se não o fizer em Espanha ou Itália, é não compreender nada”, disse o primeiro-ministro.
“A União Europeia ou faz o que tem de fazer ou a União Europeia acabará. Acho que só as pessoas que não têm a menor sensibilidade ou a menor compreensão do que é esta realidade dramática que estamos neste momento a enfrentar – perante dramas como o da Itália ou da Espanha, e em todos os países e na Holanda também – é que é possível dizerem que é preciso ir saber porque é que a Itália e a Espanha não têm condições orçamentais para enfrentar estas situações”
António Costa
“A última coisa que qualquer político responsável pode fazer neste cenário é não compreender que a prioridade das prioridades é salvar vidas e combater este vírus, é criar condições para tão rapidamente quanto possível as empresas poderem funcionar, os empregos voltarem a ser seguros, as famílias poderem voltar a ter rendimentos. Só assim é que as finanças públicas são sustentáveis”, acentuou.
O chefe do executivo português reiterou assim as críticas que já tinha dirigido na quinta-feira, no final do Conselho Europeu, ao ministro das Finanças holandês por ter defendido que a Comissão Europeia devia investigar porque não tem a Itália ou a Espanha margem orçamental para lidar com os efeitos da crise do novo coronavírus.
“A última coisa que qualquer político responsável pode fazer neste cenário é não compreender que a prioridade das prioridades é salvar vidas e combater este vírus, é criar condições para tão rapidamente quanto possível as empresas poderem funcionar, os empregos voltarem a ser seguros, as famílias poderem voltar a ter rendimentos. Só assim é que as finanças públicas são sustentáveis”, acentuou.
António Costa disse que “não há finanças públicas saudáveis com economias mortas, pessoas no desemprego e colapsos no sistema de saúde”, referindo que “isso são ficções dos manuais neoliberais, mas que não existem” e apontou que “um ministro das Finanças, seja de que país for, tem de compreender muito bem as prioridades”.
“E quem quer estar numa UE a 27 tem de perceber que estar numa união não é viver em isolamento, por si só, é partilhar com os outros as dificuldades e as vantagens. Um ministro das Finanças que mais beneficia com a existência de um mercado interno e com a existência da zona euro, devia ser dos primeiros a perceber que num espírito de união estamos cá para nos apoiar uns aos outros”.
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