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COVID-19: Estudo português diz que anticorpos duram até cinco meses

Pipeta roxa a encher tubos num laboratório para investigar tratamento de doenças e vírus, como a COVID-19
Foto: Unsplash
Amostras de sangue acusaram a presença de anticorpos para o coronavírus passados 40 a 150 dias após um teste positivo. Estudo vai ser apresentado a peritos da OMS.

Um estudo feito em Portugal, mas ainda não revisto por pares, confirmou que anticorpos contra o coronavírus da COVID-19 permanecem no corpo até cinco meses após a infeção, disse à agência ‘Lusa’ o imunologista Marc Veldhoen, coordenador do trabalho.

Marc Veldhoen, que trabalha no Instituto de Medicina Molecular (IMM) João Lobo Antunes da Universidade de Lisboa, onde lidera o laboratório de Regulação do Sistema Imunitário, adiantou que o estudo vai ser apresentado a 18 de setembro a peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O estudo, que será submetido para publicação na especialidade “nos próximos dias”, está disponível no portal Medrxiv, que distribui versões pré-publicadas, portanto não validadas pelos pares, de artigos científicos sobre ciências da saúde.

Apesar de o período de cinco meses ser “relativamente curto” para uma resposta imunitária, Marc Veldhoen encara os resultados com certo otimismo, uma vez que indicam que os anticorpos para o coronavírus SARS-CoV-2, na origem da doença respiratória COVID-19, “podem circular e é provável que circulem para a maioria das pessoas, durante esse tempo”.

Amostras de sangue de 189 pessoas (de um total de 210) acusaram a presença de anticorpos para o coronavírus passados 40 a 150 dias após um teste positivo de diagnóstico à COVID-19. As pessoas, entre os 18 e os 58 anos, eram saudáveis (não tinham uma doença conhecida) e a maioria (69%) eram homens.

“A boa notícia é que, nas pessoas das quais obtivemos amostras de sangue quase cinco meses após um teste para a COVID-19 positivo, pudemos detetar ainda anticorpos e os níveis de IgC [um tipo de anticorpo] permaneceram bons”, afirmou o imunologista do IMM, acrescentando que os anticorpos detetados “são úteis”, pois, ao ligarem-se ao SARS-CoV-2, inibem o coronavírus de atacar as células, tendo por isso um efeito neutralizador.

Questões por responder

O estudo não responde, contudo, a uma “questão premente”, essencial para uma vacina (que induz a formação de anticorpos) eficaz contra a COVID-19: por quanto tempo estes anticorpos circulam, em média, no organismo, isto é, quanto tempo dura o seu efeito protetor.

O investigador holandês ressalvou, ainda, que o estudo — por se basear em amostras de sangue colhidas em momentos distintos após a confirmação da infeção, não sendo por isso um acompanhamento individualizado das pessoas ao longo do mesmo período — não permite aferir se alguém revelou baixos níveis de anticorpos desde o início ou se os níveis caíram mais rápido devido, por exemplo, à idade ou à gravidade dos sintomas.

Marc Veldhoen salientou que, tal como acontece normalmente com a maioria das infeções, os níveis de anticorpos para o SARS-CoV-2 detetados no sangue, que atingem um pico passadas três semanas sobre o aparecimento de sintomas, diminuem a partir da quarta semana.

“Se bem que os níveis de anticorpos não sejam tão elevados como na terceira semana, podemos facilmente detetá-los até aos 150 dias [cinco meses]”, sustentou.

Os anticorpos, detetáveis no soro sanguíneo, são glicoproteínas produzidas por células do sistema imunitário em resposta a um antigénio, como uma bactéria ou um vírus como o SARS-CoV-2, com o qual reage, causando o seu enfraquecimento ou destruição.

O imunologista do IMM esclareceu que ter níveis baixos de anticorpos neutralizadores do novo coronavírus, “ou mesmo nenhum”, tal “não significa que não exista nenhuma proteção imunitária”.