Para Sónia Melo, o momento decisivo no empreendedorismo é aquele em que a coragem e a visão superam o medo. Nesta entrevista, a private chef fala-nos das qualidades que considera fundamentais para uma mulher empreendedora alcançar o sucesso, e também da importância do networking e da colaboração entre mulheres, especialmente em setores como a gastronomia, onde a inovação e o apoio mútuo podem fazer toda a diferença.
Sónia, o momento decisivo para qualquer empreendedor é aquele em que se toma a decisão de avançar e materializar uma ideia, quase sempre arriscando muito. Como é que foi esse momento inicial para si?
Esse momento foi, sem dúvida, de grande desafio e introspeção. Ao decidir lançar o meu serviço de private chef, estava ciente dos riscos e das incertezas envolvidas. Para muitos, o conceito ainda era (e é) desconhecido, especialmente num contexto como o dos Açores, onde a cultura gastronómica é mais tradicional e menos orientada para experiências personalizadas.
No entanto, havia uma paixão e uma visão que me guiavam. Sempre acreditei que a gastronomia é uma forma de contar histórias, a cozinha um local de partilha e queria criar algo que não só mostrasse o melhor dos ingredientes locais, mas também proporcionasse uma experiência única e intimista para os meus clientes.
O momento decisivo veio quando percebi que, apesar dos desafios, havia uma oportunidade real de oferecer um serviço diferenciado e exclusivo, algo que pudesse elevar a experiência
gastronómica nos Açores e ao mesmo tempo criar memórias inesquecíveis para quem visita as ilhas. Não foi fácil, mas o desejo de transformar a minha paixão em algo palpável superou o medo de falhar. E, assim, a nossa marca Chez Sónia nasceu, num misto de coragem e determinação.
Qual a importância do networking e da colaboração entre mulheres empreendedoras, particularmente na gastronomia?
O networking e a colaboração entre mulheres empreendedoras, especialmente na gastronomia, são fundamentais para o sucesso e crescimento de qualquer projeto. Esta ligação cria um ambiente de apoio e partilha de conhecimentos que é essencial num setor que, historicamente, tem sido dominado por homens.
Partilha de experiências e conhecimento: O networking permite que mulheres empreendedoras troquem experiências e aprendam umas com as outras. Na gastronomia, onde o saber é muitas vezes adquirido através da prática e da experimentação, é extremamente valioso poder partilhar histórias de sucesso e também de fracasso.
Oportunidades de colaboração: Quando mulheres se unem, surgem oportunidades de colaboração que, de outra forma, poderiam não acontecer. Seja através de eventos gastronómicos, parcerias em produtos locais ou projetos conjuntos, a união de forças pode criar sinergias poderosas e abrir novas portas. Suporte emocional e motivacional: Empreender é, muitas vezes, um caminho solitário, e poder contar com uma rede de mulheres que compreendem os desafios e as pressões pode fazer toda a diferença. Este apoio mútuo dá-nos a força para enfrentar adversidades e a motivação para continuar a lutar pelos nossos objetivos.
Construção de uma comunidade mais inclusiva: Quando mulheres se apoiam e colaboram, ajudam a criar uma comunidade mais inclusiva e diversa. Na gastronomia, isso significa trazer novas perspetivas, técnicas e sabores para a mesa, enriquecendo a oferta e criando uma experiência mais rica e autêntica para os clientes. Expansão de redes de contacto: O networking também é uma ferramenta essencial para expandir a nossa rede de contactos e chegar a novos clientes, parceiros e fornecedores. Para alguém que, como eu, trabalha com turistas estrangeiros, é uma forma de ganhar visibilidade e credibilidade num mercado mais amplo.
Quais são as suas principais fontes de inspiração para o seu trabalho, e qual o significado que tem para si perceber que é também um exemplo a seguir para outras mulheres?
As minhas principais fontes de inspiração vêm de vários lugares, mas destaco especialmente três: a cultura e os produtos dos Açores; as memórias e as pessoas; a vontade de aprender e inovar. Perceber que sou vista como um exemplo a seguir por outras mulheres é um sentimento de grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma fonte de gratidão. Saber que, através do meu trabalho, posso inspirar outras mulheres a acreditarem nas suas capacidades e a seguirem os seus sonhos é extremamente gratificante.
É uma validação de que o esforço, a dedicação e a paixão que coloco em cada prato vão além da mesa — têm um impacto positivo na vida de outras pessoas. Se eu puder ajudar a quebrar barreiras e contribuir para que mais mulheres se sintam encorajadas a empreender, sinto que estou a fazer a diferença e a criar um legado que vai muito além da cozinha.
Enquanto mulher empreendedora, que mensagem gostaria de deixar para as jovens mulheres que sonham em construir os seus próprios negócios?
Acreditem no vosso valor e na vossa visão, mesmo quando os desafios parecerem grandes. Tenham coragem para arriscar, persistência para ultrapassar as dificuldades e confiança para seguirem o vosso caminho. Nunca se esqueçam de que a vossa voz e as vossas ideias são únicas — são exatamente o que o mundo precisa. Sejam apaixonadas, autênticas, amigas e, acima de tudo, não desistam dos vossos sonhos.
As principais qualidades que uma mulher empreendedora precisa de ter para ser bem-sucedida. “Resiliência – O caminho do empreendedorismo é repleto de desafios, contratempos e momentos de incerteza. Ter a capacidade de enfrentar adversidades e seguir em frente, aprendendo com os erros e melhorando continuamente, é essencial. Autoconfiança – É importante acreditar no nosso valor, nas nossas ideias e na nossa capacidade de fazer acontecer. Num mundo onde, muitas vezes, ainda enfrentamos barreiras e preconceitos, ter confiança nas nossas competências é a chave para superar obstáculos. Visão e criatividade – Ser capaz de visualizar o que queremos construir e, ao mesmo tempo, encontrar formas inovadoras de alcançar os nossos objetivos, especialmente quando os recursos são limitados. É a criatividade que nos ajuda a pensar “fora da caixa” e a diferenciar-nos no mercado. Gestão emocional – Saber lidar com o stress, com a pressão e com as críticas é vital. O empreendedorismo pode ser solitário e desafiante, por isso é importante saber equilibrar a vida pessoal e profissional e manter a saúde mental. Capacidade de adaptação – O mercado está em constante mudança e, especialmente na gastronomia, as tendências mudam rapidamente. Uma mulher empreendedora precisa estar preparada para se adaptar e ajustar a sua estratégia sempre que necessário, aproveitando as oportunidades que surgem. Empatia e comunicação – Saber ouvir e entender as necessidades dos clientes, dos colaboradores e dos parceiros é fundamental. Ter empatia ajuda a criar ligações mais fortes e a construir uma marca autêntica e humanizada”. |