Como cofundadora e diretora executiva da Direito Mental, não posso deixar de afirmar: é urgente mudar o rumo da saúde mental no setor jurídico em Portugal. Em 2022, fundámos esta associação porque percebemos que o silêncio em torno do bem-estar já não podia continuar. Acredito profundamente na necessidade de derrubar barreiras, combater o estigma e criar um ambiente de trabalho mais humano. Este é o compromisso que me move, tanto profissional quanto pessoalmente.
Recentemente, em colaboração com o ProChild CoLAB e o Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho, realizámos um estudo que confirmou aquilo que muitos de nós já suspeitávamos: o setor jurídico está a enfrentar uma crise de saúde mental. Os números são preocupantes e não podemos ignorá-los. Mais de metade dos advogados sente-se privado de participar em momentos familiares e 35% não voltaria a escolher esta profissão. Ainda mais alarmante, 34% já foi diagnosticado com ansiedade, burnout ou depressão, e 15% admitiram ter tido pensamentos suicidas recentemente. Estes dados são um grito de alerta que nos desafia a agir.
Um dos pilares do nosso trabalho é o apoio direto às sociedades de advogados, os nossos principais associados. Sabemos que estas organizações têm um papel crucial na construção de ambientes de trabalho mais saudáveis e, por isso, temos trabalhado lado a lado para implementar programas de bem-estar que se adaptem às suas realidades específicas. Desenvolvemos sessões de formação focadas em gestão emocional, capacitação de líderes para promoverem práticas de bem-estar, e estamos continuamente a fornecer recursos e orientações práticas.
Sei, por experiência própria, o peso que o estigma tem no setor. Ao longo de mais de 20 anos como advogada, testemunhei o impacto negativo de uma cultura de silêncio e de resistência à procura de ajuda. Esta é uma realidade que me comprometi a transformar. Através da Direito Mental, temos organizado Fóruns de Boas Práticas, onde promovemos o diálogo aberto e a partilha de experiências, bem como estabelecido parcerias, como com a Mindful Business Charter no Reino Unido, para implementar práticas de apoio consistentes e eficazes.
Estamos a construir um ecossistema onde todos os profissionais do Direito possam sentir-se valorizados e apoiados. Sei que a mudança não acontece do dia para a noite, mas sei também que cada ação que tomamos é um passo importante para quebrar o estigma. Tenho orgulho no caminho que percorremos e acredito num futuro onde a saúde mental não seja um tabu, mas uma prioridade. Vamos continuar a transformar o setor jurídico, um passo de cada vez, até que cada profissional se sinta seguro, valorizado e, sobretudo, humano.