Contabilidade e Finanças Opinião

O Capital Humano como Fator Diferenciador

Por Paula Franco, bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC)

O Dia Internacional do Contabilista foi assinalado a 10 de novembro último. Foi nesse dia, em 1494, que Frei Luca Pacioli publicou a famosa Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalita, livro que permitiu a difusão da contabilidade. Em Portugal, a Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) decidiu celebrar, desde 2018, o «Dia do Contabilista» a 21 de setembro, dia de S. Mateus. A efeméride é, por norma, comemorada com uma conferência em que contabilistas certificados e personalidades externas à instituição refletem sobre as conquistas alcançadas e os desafios que se deparam à profissão.

«O futuro presente da profissão» foi o tema escolhido para as celebrações deste ano do «Dia do Contabilista». Um marco assinalado numa altura muito especial para a OCC e para a própria profissão: está em curso o processo de renovação geracional. Até final de outubro foram cerca de 5 500 os candidatos que se submeteram aos dois primeiros exames de acesso, realizados nos dias 19 e 26, à luz do novo Estatuto da OCC. Estes milhares de candidatos que sonham e ambicionam aceder à “casa dos contabilistas” são a prova inequívoca de que esta profissão é atrativa e que o “sangue novo” que trazem vai permitir dar um novo impulso a uma classe algo envelhecida.

Um dos grandes desafios da atualidade, e também das décadas que se avizinham, é a crescente sofisticação tecnológica, que abreviadamente é conhecida por IA – acrónimo de inteligência artificial. Ainda não é clara a dimensão do impacto que terá no mercado de trabalho e, logicamente, no capital humano. Uma coisa é certa: o acesso às ferramentas geradas pela IA está cada vez mais democratizado e não é possível contornar o inevitável: não saberemos viver sem ela, tanto nas nossas vidas quotidianas, mas especialmente no contexto profissional.

Apesar deste paradigma tecnológico, cada vez mais vincado e abrangente, a componente humana vai continuar a prevalecer como o fator diferenciador. Não tenhamos disso dúvida. Contra alguns prognósticos, a contabilidade e os contabilistas vão sobreviver a este tsunami tecnológico. Obviamente que o capital humano terá de adaptar- se, reconvertendo as suas competências. Nada que as novas gerações não o consigam, com maior ou menor dificuldade. Mas o cenário de escassez de talento está a levar a uma crescente competitividade das profissões pelo recrutamento dos mais capazes para o seu lado. É neste desafio em que estamos fortemente empenhados e mobilizados. Tudo em prol de organizações mais ágeis, com altos níveis de produtividade e eficiência. A IA não vai matar o emprego, mas vai mudar a face do mercado de trabalho. É na adequada adaptação do capital humano às múltiplas ferramentas proporcionadas pela tecnologia que vai residir a chave do sucesso.