Deitam-se mas sentem o cérebro aos atropelos, lutam contra o coração, que lhes esmurra o peito, e perdem. A insónia afeta cada vez mais portugueses e o seu tratamento passa, na maioria das vezes, pela utilização de fármacos. No entanto, existem outras soluções que se revelam mais eficientes e saudáveis. Eulália Gomes, psicóloga e CEO da Consulta da Insónia deu-nos a conhecer mais sobre a sua clínica e sobre a importância do sono.
Como psicóloga, quando se começou a interessar pelo sono?
O meu interesse pelo sono como psicóloga vem de há muitos anos, de um periodo da minha vida profissional em meio empresarial, durante o qual lidei de modo directo com o impacto que o stress tem sobre a qualidade do sono. Durante 13 anos sofri de insónia e por prescrição médica durante a maioria desses anos o tratamento que fiz foi um ansiolítico da classe das benzodiazepinas. Por não conseguir dormir melhor tentei por várias vezes acabar com a toma desta molécula ou substitui-la por outra menos prejudicial, sempre com base no aconselhamento médico, mas nunca resultou. Há cerca de dois anos, na sequência de uma pós graduação que fiz, senti absoluta necessidade de melhorar a minha memória e capacidade de aprendizagem. Esta necessidade a par do meu interesse pelas questões do sono, levou-me à procura de artigos científicos sobre este assunto e toda esta informação permitiu-me conhecer as novas formas de tratamento, bem diferentes das que me tinham sido propostas no decurso das minhas dificuldades . É assim que tomo conhecimento da taxa de sucesso do programa de terapia cognitivo-comportamental para a insónia do Royal London Hospital for Integrated Medicine, decido inscrever-me para fazer o tratamento e acabo por fazer a especialidade.
Quais as principais valências da Consulta da Insónia?
A especialidade da psicologia do sono aborda os fatores comportamentais, psicológicos e fisiológicos envolvidos em toda a gama de distúrbios do sono para todas as idades e populações.
A Consulta da Insónia avalia o padrão do sono, determina as causas das dificuldades sentidas, faz o diagnóstico do distúrbio e propõe o tratamento com recurso à terapia cógnito-comportamental, durante 5 semanas.
Como se distingue alguém que dorme mal de quem tem insónia?
A insónia pode ser caracterizada com base na sua duração. A insónia aguda é breve e geralmente acontece na sequência das circunstâncias da vida (por exemplo, quando não se consegue dormir na noite anterior a um exame, ou depois de receber notícias difíceis). Muitas pessoas experimentam esse tipo de interrupção do sono, o qual tendem a resolver-se sem qualquer tratamento.
A insónia crónica é um sono com dificuldade em adormecer, interrompido ou com despertares matinais precoces, que ocorre pelo menos três noites por semana e dura pelo menos três meses. Os distúrbios crónicos da insónia podem ter muitas causas, mas o problema está na sua perpetuação. As pessoas com insónia crónica podem beneficiar de tratamento para que voltem aos padrões de sono saudáveis. Depois há outros distúrbios do sono que provocam igualmente alteração no padrão do sono.
Apesar de ser um dos campos da neurologia, esta área ainda é vista como medicina alternativa. Nesse sentido, a importância do sono acaba por ser desvalorizada?
A medicina do sono só recentemente foi reconhecida como uma especialidade da medicina. O seu desenvolvimento é baseado num crescente conhecimento sobre a fisiologia do sono, a biologia circadiana e a fisiopatologia dos distúrbios do sono. As intervenções psicológicas que hoje são internacionalmente recomendadas como tratamento para a insónia resultam de um conjunto de meta-análises, que combina os resultados de múltiplos estudos científicos e permitem selecionar as técnicas com melhores resultados clínicos.
Hoje usa-se e abusa-se de fármacos, essencialmente em problemas relacionados com o sono. A Consulta da Insónia é uma alternativa mais saudável e mais eficiente que as soluções químicas?
Na Consulta da Insónia o tratamento é cognitivo e comportamental, sem recurso a qualquer medicação, aliás parte do programa dedica-se a retirar a medicação quando ela está presente. A eficiência a curto e longo prazo é comprovadamente maior do que a utilização de medicação, pois esta vai deixando de fazer feitos, muitas vezes piora a situação e tem efeito secundários graves.
Em que medida as tecnologias e as novas exigências profissionais influenciam o sono?
A dificuldade em gerir a ansiedade, a ausência de rotinas e o abuso de substâncias são, em princípio, indutores de insónia. O uso de tecnologia perto da hora de dormir, não é recomendado, mas especialmente, se for fonte de preocupação, por ex. receber um e-mail a pedir uma resposta, não ajuda o sono a vir. A exposição à luz é um tema, mas de acordo com os estudos atuais, tem menos impacto do que se poderia imaginar.
Que pequenas coisas da nossa rotina diária podem ser alteradas para termos uma noite de sono melhor?
O sono é de facto um comportamento condicionado pelo dia. A chamada higiene do sono é importante, mas sozinha ela não resolve os problemas de insónia. De acordo com a ciência, existem duas técnicas fundamentais para resolver a insónia: ter uma rotina de horário de dormir e acordar e não condicionar a cama a estados de vigília. Estas técnicas são desenvolvidas no tratamento que proporcionamos, com cálculo da eficiência do sono e determinação do intervalo ideal de dormir e acordar de cada pessoa.
A consulta da insónia tem consultas em Lisboa e no Porto.
Eulália Gomes
Eulalia.gomes@consultadainsonia.pt