César Araújo, que dirige a Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção, defende um setor mais competitivo, com mudanças na lei mas sem esquecer os trabalhadores.
As declarações foram feitas numa entrevista ao ‘Dinheiro Vivo’. “Os salários até aos 750 euros não deviam pagar impostos”, disse César Araújo, presidente da associação há quatro anos e que se prepara para recandidatar no cargo.
Falando do estado atual do setor têxtil, com a deslocalização de empresas de Portugal para outros países como Marrocos e Turquia – nomeadamente a Inditex (dona da Zara) -, César Araújo desvalorizou o assunto pois “faz tudo parte da economia de mercado” e falou da realidade nacional.
“A verdade é que nós temos um grave problema de absentismo em Portugal. Chegamos a ter 10% a 20% das pessoas a faltar. Eu defendo que até aos 750 euros os trabalhadores não deviam pagar impostos. Mas precisamos, também, de uma lei laboral mais flexível, permitindo trabalhar mais nos picos de grande produção e compensar depois”, explicou.
A questão fulcral, disse, é que a Europa maltrata o setor. “Há setores protegidos na Europa, mas o vestuário é maltratado. Temos de fazer chegar a nossa voz ao Parlamento Europeu, é preciso olhar para a indústria e não abrir as portas sem regras. Portugal manteve uma indústria forte, de excelência, porque temos uma matriz familiar.”
A Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção tem “uma base de quatro mil empresas e de 120 mil postos de trabalho”, mas há muitas que podem fechar devido aos custos que têm ou ao simples facto dos fundos europeus só serem dados às PME’s até 250 trabalhadores.
“Portugal tem o maior custo elétrico da Europa, tem uma carga fiscal brutal e a água com uma das faturas mais caras. Nós sabemos que a água vai ser o petróleo do futuro e, por isso, já estamos a caminhar, juntamente com os nossos colegas da têxtil, para criarmos uma indústria mais amiga do ambiente e com menor uso da água. Mas tem de haver uma consciência do trabalhador de que temos de produzir mais e melhor”, disse na entrevista.
Ciente que não é possível competir com países, como o Bangladesh ou Vietname, que têm “um salário efetivo inferior a cem euros”, apesar de Portugal – a par de Itália – ser o único país da Europa com uma “indústria de vestuário de excelência”, César Araújo já só pensa no futuro.
“A própria robotização está a reduzir postos de trabalho. Mas há quem esteja a automatizar e quem esteja a fazer o caminho inverso. No futuro, provavelmente, vamos comunicar que é um produto Made in Portugal, mas também que é um produto Made by People. Serão indústrias de nicho que se vão diferenciar por esse bem saber fazer”, completou.