A ofensiva turca no nordeste da Síria resultou rapidamente em largas dezenas de mortos, combatentes e civis, entre os quais Hevrin Khalaf, líder do partido “Síria do Futuro”. Os Estados Unidos e a União Europeia já condenaram publicamente esta ofensiva militar em solo sírio e Donald Trump já anunciou sanções contra a Turquia.
Em apenas cinco dias o ataque militar do exército turco provocou cerca de 40 vítimas mortais civis e mais 80 combatentes curdos foram também mortos durante os confrontos no nordeste da Síria. Uma das vítimas foi Hevrin Khalaf, líder de um partido político curdo, assassinada aos 35 anos após ser apedrejada e violada por rebeldes pró-turcos. Segundo a comunicação do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, as vítimas foram executadas na cidade de Tal Abyad, no sul da Síria.
Ontem, as lideranças curdas anunciaram um acordo com o governo sírio, de forma a unirem forças e fazerem frente à ofensiva militar turca. Este acordo também prevê a libertação das cidades sírias que estão neste momento sob o domínio da Turquia. Os curdos são um povo de constituído por 35 milhões de pessoas, compreendidas pela Síria, Irão, Iraque e Turquia, que procuram a sua autonomia manifestando resistência contra os governos destas regiões. A união entre Síria e os curdos prende-se com o facto de o ataque militar da Turquia na Síria recair numa área onde habitava o povo curdo.
Retiro das tropas americanas na origem do incidente
No passado dia 7 de outubro o presidente dos Estados Unidos da América decretou o retiro das tropas americanas do norte da Síria, onde está a fronteira com a Turquia. Nos últimos seis anos os curdos da Síria foram os principais aliados dos Estados Unidos na guerra com o Estado Islâmico e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan já tinha acusado as milícias curdas de terrorismo. A saída das tropas americanas do território sírio abriu a porta para a invasão turca e logo no dia 9 começaram as ofensivas militares de Erdogan, numa região onde habitam cerca de 2 milhões de curdos. Segundo o presidente turco, o objetivo da ofensiva é controlar militarmente a região e enviar para lá os sírios que se refugiaram na Turquia, devido à guerra civil.
O retiro das tropas americanas sob ordem de Donald Trump foi inclusivamente considerado uma traição por alguns aliados dos Estados Unidos, que receiam que a instabilidade criada na Síria venha a fortalecer o Estado Islâmico, bem como a aproximação dos curdos com o governo sírio e russo, adversários do país norte americano.
Entretanto, Donald Trump, e de acordo com o Secretário da Defesa dos Estados Unidos, deu ordem para que as todas as forças militares americanas abandonassem a região no imediato, apelando ao governo turco para que cesse a operação militar corrente. Além disso, A ofensiva turca, contra os curdos no norte da Síria, levou o presidente dos EUA a aumentar o valor das taxas sobre o aço à Turquia. Donald Trump ameaça ainda Ancara com mais sanções e pede o cessar-fogo na região.
Através do twitter Trump fala do aumento dos impostos sobre o aço em 50 por cento, isto depois destes terem sido reduzidos, há seis meses, e anuncia a suspensão das negociações para um acordo comercial entre os dois países.
Europa preocupada
A presidente do Conselho da Europa, Liliane Maury Pasquier, emitiu este fim de semana um comunicado, revelando uma forte preocupação com intervenção militar da Turquia na Síria, reforçando a importância de proteger os milhares de civis e inocentes envolvidos neste confronto. “É com grande preocupação que tenho acompanhado os eventos relacionados à intervenção militar da Turquia no norte da Síria. Essa intervenção implica riscos e as suas consequências para a população da região são desastrosas. Lamento a perda de vidas, especialmente de civis”. Tal como o governo americano, Pasquier apelou ao fim da ofensiva que “já provocou sérias consequências humanitárias”, representando um “perigo real de violação dos padrões internacionais de proteção dos direitos humanos”.
A União Europeia também condenou a ofensiva turca na Síria. A chefe da Diplomacia da UE, Federica Mogherini, fala das consequências humanitárias mas enfatiza a questão da segurança: “Uma das consequências, mais imediatas, destas atividades militares, no nordeste da Síria, é o DAESH poder reencontrar um espaço para respirar dentro desse território. Isso preocupa-nos, enormemente. Essa é uma ameaça à segurança da União Europeia”, explicou Mogherini.
A resposta da Síria
Numa aliança com os curdos, as tropas do governo sírio entrarão nas próximas horas na cidade de Kobani, uma cidade que faz fronteira com a Turquia, naquilo que será a retaliação da ofensiva militar do regime de Erdogan, segundo o canal libanês Al Mayadeen. O posto de controlo dos Estados Unidos perto de Kobani foi abandonado pelas tropas norte americanas e a fronteira será agora protegida pela força militar da Síria, uma decisão apoiada pelos morados do norte do país.