Uma escola que ensina a essência da arte – acreditar e sonhar. O Conservatório D’Artes de Loures (CAL) tem percorrido o seu próprio caminho, ao longo da qual tem ajudado a elevar os sonhos de uma grande comunidade de jovens. Um projeto onde além de se lecionar música, se ensinam valores e integração social.
A música é uma das nossas grandes paixões, mas poucos sabem explicar o porquê. Trata-se de algo intrínseco que parece que vem logo agarrado a nós desde que nascemos e que tende a aumentar de tamanho, incorporando novas formas à medida que os anos passam. Ninguém sabe como surge tal interesse que acaba por ser uma paixão que facilmente se torna num amor constante sem fim. Foi esta paixão inexplicável que levou um grupo de amigos a fundar o Conservatório D’Artes de Loures.
Situada na zona do Catujal, esta instituição insere-se num dos contextos com maiores fragilidades sociais e económicas do concelho de Loures. Elisabete Fernandes, Carlos Santos e Nanci, mentores deste projeto, cresceram aqui, fazendo parte da origem do Conservatório.
Explicando essa génese, remete-nos para a Banda Filarmónica local, da qual faziam parte e onde criaram raízes cruciais para o seu crescimento. A música transformava-se no alicerce principal para a construção das suas personalidades e inclusive dos seus percursos profissionais.
“A história do Conservatório é um pouco a história das nossas vidas”, referem. Em determinado momento começaram a entender que o ensino desta arte não estava apenas limitado a educar, era algo “mais elitista. Já não bastava ter um instrumento, tínhamos que ter um de determinada marca, não podíamos ter partituras em fotocópias, mas sempre as originais e isso fazia com que outros colegas ficassem logo em ir”, sublinham.
Ainda durante a fase da adolescência, este grupo juntara- se para promover alguns projetos artísticos e educativos na comunidade. O sonho era que essa dinâmica se viesse a refletir no aparecimento de um Conservatório. “Queríamos ter uma escola onde qualquer um pudesse ter acesso a este tipo de ensino, uma escola de todos, que correspondesse às expectativas e possibilidades de cada um. Na altura tínhamos 11 ou 12 anos, mas aquele desejo de crianças, apesar de ingénuo, manteve-se” e assim, a 21 de outubro de 2008, esse sonho acabava por se concretizar.
Hoje, a ação educativa do CAL chega a mais de 8 mil crianças e jovens. A sua oferta de Ensino Artístico Especializado da Música inclui os cursos de Iniciação, do Ensino Básico e do Secundário, sendo lecionada em articulação com todos os agrupamentos do concelho de Loures e ainda com alguns de Lisboa. Paralelamente, tem vindo a ser reforçado o ensino de outras expressões artísticas como o Teatro, o Teatro Musical e a Dança.
Sempre inspirado pelo objetivo de chegar a todos, o CAL desenvolve diversos programas e projetos, onde através de diversas práticas artísticas com fins educativos, artísticos, culturais, terapêuticos e sociais, promove o desenvolvimento humano e social, contribuindo assim para a construção de
um mundo melhor.
Mais do que um estabelecimento de ensino, assume uma relevante dimensão social e inclusivamente afetiva junto dos jovens desta comunidade, contando para isso com profissionais especializados neste domínio. Elisabete Fernandes salienta que existe, na filosofia do CAL, a preocupação em “ensinar” os alunos a sonhar, assim como o respeito pela peculiaridade de cada um”.
Também merecedor de evidência é o seu intenso trabalho de organização e participação em espetáculos e demais eventos. São aproximadamente 600 por ano letivo, desde a presença dos seus alunos em lares de idosos ou centros de acolhimento, até às performances em grandes salas como o Coliseu dos Recreios, o Centro Cultural de Belém, a Aula Magna ou a Casa da Música.
No Conservatório D’Artes de Loures o objetivo vai muito para lá do ensino da música. “A prioridade é a integração social através da arte, aqui queremos formar pessoas, indivíduos capazes”.
Quanto ao futuro, o grupo partilha que um dos desafios reside nas condições dos antigos alunos que prosseguem para o Ensino Superior: “Continuam a precisar da nossa ajuda e é nesse sentido que estamos a criar um Centro de Investigação, interno, mas com a colaboração de instituições do Ensino Superior, para que venha a funcionar como uma incubadora de start-ups ligadas às artes e que, assim, os consigamos auxiliar na gestão das suas carreiras”. Outro grande desejo é a construção de um Centro Cultural, que preencha a lacuna existente no concelho no que toca a espaços para o acolhimento de espetáculos artísticos.