A atividade prestamista é o recurso ao crédito sem burocracias. Maria Luísa Borges, administradora da Companhia União de Crédito Popular (CUCP), apresentou-nos uma das mais emblemáticas empresas do setor e as vantagens deste tipo de empréstimo.
A história da Companhia União de Crédito Popular perdura por mais de 145 anos, que segredos existem para alcançar esta longevidade e, ainda assim, permanecerem como uma referência nacional? São a empresa do ramo prestamista mais antiga?
Não há qualquer segredo. Há muito trabalho com profissionalismo, seriedade e fundamentalmente com o enfoque no cliente. Na CUCP não paga comissões, juro de mora e por grama, pagamos acima da média do mercado.
De facto, a CUCP já existe desde 1875, e poucas foram as alterações ao nível da gestão, o que faz com que esta companhia seja tão ‘antiga’. A história é muito simples. Em finais do sec. XIX alguns senhores da cidade do Porto percebem o quão difícil estava a ser levar acabo toda a sua atividade e resolvem criar a Companhia União Popular Penhorista, SARL. Nasce com o objetivo:
1º – Emprestar sobre objetos de ouro e prata, roupas, móveis, mercadorias diversas e artefactos nacionais;
2º – Emprestar sobre as ações da Companhia, ações de Bancos, e inscrições de dívida pública nacional interna e externa;
3º – Emprestar a indivíduos da classe industrial sobre todos os seus produtos;
4º- Promover a venda dos mesmos produtos por módica comissão, nesta cidade, ou onde tenham melhor e pronta extração;
5º – Comprar, quando lhe convenha, qualquer penhor que seu dono resolva vender razoavelmente;
6º – Receber em depósito qualquer quantia não inferior a quinhentos réis em conta corrente, à ordem, ou a prazo com juro arbitrado pelo diretor. Nenhum depósito, porém, teria direito a juro uma vez que a quantia mínima que tivesse em depósito fosse inferior a 5$000 réis;
Em 1898, era então Rei de Portugal: D, Carlos I, 33º Rei de Portugal, por Decreto a Companhia Popular Penhorista, passa definitivamente a Companhia União de Crédito Popular.
Pelo ano de 1930 / 1931 os acionistas e depositantes veem-se a braços com uma fraude financeira que leva à tomada da seguinte posição: os acionistas ficam sem os seus depósitos e os depositantes não acionistas perdem 90 por cento, podendo com os 10 por cento que recebem reabilitar a Companhia. Foi assim que dois depositantes: Porfírio Fernandes Barbosa e Aurélio d’Araújo tomam conta da CUCP começando uma nova etapa. O primeiro era inspetor das oficinas dos Caminhos de Ferro e o segundo professor no Instituto Comercial pertencendo a uma família abastada da cidade do Porto, a família Cassels.
A 1 de Abril de 1933 é admitido o Sr. António Ribeiro Barbosa através do seu tio Porfírio Fernandes Barbosa, que vem a ser o guarda-livros e mais tarde Presidente da administração até ao ano de 2002 em que pede a sua exoneração. Hoje 13/11/2020 ainda está vivo e muito lúcido, fazendo-nos muitas visitas.
Em 22 de Fevereiro de 1943 é admitido o Sr. Manuel Aleixo Ferreira, com apenas 16 anos, que ascende a Presidente de Administração com a saída do seu colega, como sempre se trataram, António Barbosa. Manuel Aleixo Ferreira traz para a CUCP os seus sobrinhos Maria Luísa Borges e Bruno Gonçalves. Em 2018 Manuel Aleixo com 92 anos morre. E, foi uma grande perda porque é com o trabalho de Manuel Aleixo e António Barbosa que esta esta casa tem o prestígio que tem. Felizmente que nós, os sobrinhos, pudemos “beber” os seus conhecimentos. Para dar continuidade ao projeto juntamos o braço direito do tio, o António Fernandes.
Trabalham apenas com ourivesaria e relojoaria ou também com outros bens?
Hoje, na CUCP só trabalhamos com ouro, joias, pratas e relógios em ouro. A atividade prestamista mudou o seu paradigma de 1974 até cerca de 2003. Se até 1974 os bens entregues para penhor eram tudo quanto mais tarde se pudesse vender, desde sapatos, lençóis, cabeças de máquina de costura, estatuetas em terracota, violinos, livros, tudo servia para que os clientes pudessem levar o dinheiro que momentaneamente necessitavam. Com o evoluir dos tempos os bens de ouro, pratas, joias e relógios em ouro passam a ter a supremacia, até porque as adeleiras começam a escassear. As adeleiras eram as pessoas que em alturas de leilão compravam os penhores que os clientes abandonavam. Curiosamente, as adeleiras de ontem são as casas de venda de usados de hoje.
Em entrevista à Sapo referiu que “a população ainda não percebeu que recorrer aos prestamistas é uma segurança”. De que forma este serviço é uma maior segurança para os portugueses?
Disse e continuo a afirmar. Se precisa de dinheiro ou guardar os seus bens, a um prestamista deve recorrer. A taxa de juro mensal é mais barata do que a do cartão de crédito e os bens estão seguros- A atividade prestamista rege-se pelo decreto-lei 160/2015 de 11 de agosto. É uma atividade com sigilo. Mas, recorrer a um prestamista não precisa de ser só porque necessita de liquidez. Imagine que está a afazer obras em casa ou então vai de férias. Porque não deixar os seus bens guardados num prestamista? A atividade é obrigada a ter um seguro para ressarcir os clientes em casos de perda.
Considera que a maior parte dos portugueses tem conhecimento da existência desta atividade? Atualmente a atividade de prestamista tem uma maior credibilidade?
Infelizmente ainda há um estigma relativamente aos penhoristas. Em tempos idos, mas muito, muito lá para trás, o termo prestamista era desconhecido. O termos mais usados era o prego ou o invejoso. Não me pergunte porquê invejoso que não sei responder. Os clientes de hoje são de todas as classes sociais e já não há qualquer “vergonha” em ir ao prestamista. Já reparou que só cá vem quem tem bens? Ao banco vão os que nada têm. Assim, dizemos, invista em ouro. Venha à CUCP e coloque-nos as suas dificuldades. Claro que o penhor é feito com base em bens de ouro, joias, pratas e relógios em ouro. No entanto, imagine que não tem ouro, nem joias, nem pratas, apenas tem 200€ e necessita de 500€. Venha ter connosco e resolvemos a questão. Cada caso é um caso.
Como funcionam os leilões? Quem pode participar? Têm, também eles, uma grande carga burocrática para se realizarem?
Os leiloes são um ato marginal da atividade prestamista, mas, que tem um grande peso. Nós prestamistas temos de fazer leilões para poder continuar a trabalhar. A lei permite que vão a leilão os penhores com três meses consecutivos de juros em atraso. Mas, cada prestamista é livre de poder alargar este prazo. Os leilões são públicos, mas, 99 por cento dos compradores ou são industriais ou comerciantes de usados.
Hoje fazer um leilão é uma maratona sem sentido e com custos avultados. Estamos com a Associação dos Prestamistas de Portugal (APP) a sensibilizar o poder económico e político para os constrangimentos que o decreto-lei, que nos rege, trouxe para atividade.
Para além dos leilões têm também uma ourivesaria digital. Em altura de pandemia a aposta em plataformas online são fundamentais?
Sem dúvida que esta forma de vender é uma facilidade para o cliente. Entramos há pouco na era digital das vendas daí que não possamos dizer se é um sucesso. Estamos a gatinhar.
Devido à pandemia a atividade de empréstimos assente no penhor teve uma perda de 50 por cento no mês de abril. A Companhia União de Crédito Popular já retomou esta quebra? Com os problemas financeiro provocados nas famílias portuguesas a tendência não seria haver uma maior procura?
Não percebemos porque esta atividade está com tanta diminuição. Ou, será que percebemos? Com o ouro em alta as casas de compra e venda de ouro já começaram a aparecer e o desconhecimento da forma como é feito um penhor leva a que os novos clientes “escorreguem” nessas casas.
Fazer um penhor é muito simples. Basta dirigir-se com os bens e o cartão de identificação. Depois de explicar ao cliente que paga uma taxa de cerca de 1 por cento ao mês de juro e que pode em qualquer momento amortizar a dívida ficando sempre a pagar sobre o que deve, pode-se avançar para fazer o contrato. FUJAM de quem vos quer comprar com opção de venda (VOC). Para além de levarem menos do que se fizessem uma venda direta, depois pagam muito mais. Nos penhores não paga mais do que aquilo que contratualiza e de acordo com a lei. Lembre-se de que as taxas são emitidas pelo Banco de Portugal.