Este território faz a transição do Algarve para o Alentejo, da serra para a planície. Desde tempos idos transeuntes trilharam antigos caminhos por vales e montes, entre montados e pousios. O convite à introspeção e contemplação da natureza seguem de braço dado. Ouvir o canto do melro, um cuco, avistar uma águia ou uma perdiz pode acontecer a qualquer momento, uma descoberta constante a acontecer na tranquilidade dos campos.
Chegados à ribeira do Vascão, junto a um moinho de água, passamos uma ponte pedonal e entramos no Alentejo. O Vascão surge-nos como um sítio com pegos aprazíveis e uma biodiversidade assinalável, que se torna convidativo a uma pausa e a retemperar forças para se tornar ao caminho.
Depois passa-se por Monte Branco na direção de um dos pontos marcantes do percurso, a Igreja Matriz de Santa Cruz. Aqui constamos a presença da Ordem de Santiago, visível nos símbolos do pórtico manuelino, nos fechos da abóbada da capela-mor e nos lavados da sacristia. A igreja fica fora da aldeia, está ladeado pela pequena capela da Senhora da Lapa, onde outrora acorriam os que padeciam de dores de cabeça. Também nas imediações deparamos com as ruinas da capela de S. Bento. Este era certamente sítio de romarias, de devoção, e de passagem de peregrinos.
Continuamos a trilhar caminhos que atestam a importância da Ordem de santiago por estas paragens, o sítio da “Dorte” (da Ordem), a sucessiva toponímica onomástica medieval, transportam-nos para o povoamento e cenários de outros tempos.
Em Almodôvar avistamos uma ponte medieval e entramos pela mítica E.N. 2 em direção ao centro. O Mercado Municipal apresenta painéis de azulejos do artista Jorge Colaço, encontramos a igreja matriz com a heráldica da Ordem de Santiago no pórtico. Por perto fica a Praça da República onde temos os antigos Paços do Concelho, agora museu dedicado à obra de Severo Portela, ilustre pintor que tem obra por todo o país. Logo ali, a igreja da misericórdia, uma janela manuelina, ao fundo o Convento de Nossa Senhora da Conceição, antiga escola teológica franciscana. A igreja ostenta um órgão de tubos com motivos orientais e altares de talha dourada, que nos impelem a passar por lá.
Um dos pontos de visita obrigatória é o Museu da Escrita do Sudoeste, dedicado à escrita mais antiga da Península Ibérica, enigmática grafia com mais de 2500 anos. Fica mesmo ao lado torre do relógio e no percurso dos Caminhos de Santiago.
Depois ruma-se a norte, passando pela antiga estrada de Ourique, em que os montados e os rebanhos de ovelhas preenchem o horizonte até à aldeia do Rosário, onde na igreja paroquial, entre as várias pinturas murais, surge a imagem de Santiago Mata-Mouros.
Um percurso recomendado, que nos transporta numa simbiose harmoniosa entre a natureza e o património, que chama por todos os que procuram desfrutar do tempo e do espaço.