Quanto mais antiga é a história de um país mais emocionante se torna percorrer alguns caminhos. O caso mais óbvio será o da Via Ápia em Roma, começada a construir em 312 a.C, e onde muitos troços estão ainda transitáveis nos nossos dias. Essa fantástica civilização romana também chegou a Portugal, séculos mais tarde como sabemos, e algumas das nossas estradas mais famosas têm percursos, pontes ou outros marcos que nos remetem para esse tempo. É o caso da Estrada Nacional 103.
Não há total consenso sobre o verdadeiro traçado dessa estrada muito antiga que ligava Bracara Augusta (Braga) a Astúrica Augusta (Astorga, Espanha) por Aquae Flaviae (Chaves). Mas muitos defendem que grande parte do traçado em território português faz parte daquela que hoje conhecemos por Estrada Nacional 103.
Para muitos é a estrada de Braga a Chaves, mas começa mais no litoral e prolonga-se ainda mais para o interior. Atravessa assim todo o norte do país de uma extremidade à outra. O quilómetro zero fica numa rotunda de ligação à EN13 em Neiva, no concelho de Viana do Castelo, daí segue rapidamente para Esposende e, um pouco mais à frente, entramos já em Barcelos. Aqui sim, atravessamos todo o concelho e a própria cidade, cruzando o Cávado na icónica ponte medieval. Depois é seguir até Braga, num dos troços mais movimentados dos seus mais de 260 quilómetros de extensão.
Em plena cidade de Braga ainda nem a meio do percurso chegámos. É preciso começar a subir a Serra do Carvalho em direção à Póvoa de Lanhoso. Podemos fazer um pequeno desvio para visitar o centro da vila e o seu castelo que, do alto do impressionante maciço granítico, parece zelar por nós à distância enquanto seguimos para Vieira do Minho. No entroncamento das Cerdeirinhas fica uma das mais difíceis decisões – virar à direita rumo à sede do concelho e à Serra da Cabreira ou, um pouco mais à frente, descer em direção às pontes do Rio Caldo e à Serra do Gerês. Ou ainda, claro, seguir em frente e continuar pela EN 103 fora. São muitas as curvas e de rara beleza as deste troço que nos leva do Minho a Trás-os-Montes. Em cada escapatória da estrada, que nos recorda o antigo traçado, encontramos facilmente um miradouro para o Gerês com a Cabreira a guardar-nos as costas. Depois das barragens da Caniçada e Salamonde, é com a albufeira da Venda Nova em fundo que entramos então em Montalegre. No topo do “Reino Maravilhoso” há muitos quilómetros a fazer ao longo das terras do Barroso, já num ritmo mais calmo, contornando o imenso espelho de água da albufeira do Alto Rabagão. Começamos então a descer em direção a Boticas, sempre com um horizonte a perder de vista, antes de entrar em território de Chaves. Mais uma cidade e um rio para atravessar nestas terras frias, agora o Tâmega. Tempo ainda para “espreitar” o extremo norte de Valpaços antes de entrar em Vinhais. A nossa road trip termina então em Bragança, décimo segundo município desta rota nortenha. Uma estrada de memórias vivas que tem tanto para contar. Esperamos continuar a partilhar algumas ao longo dos próximos meses.