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Baião e a EN 108: onde “a grandeza iguala a graça”

Baião posiciona-se como um lugar inspirador, onde o slow tourism se afirma, permitindo a fruição de momentos que ficam na memória dos sentidos.

A sua gastronomia diferenciadora, confecionada com produtos locais de qualidade e produzidos ainda de forma artesanal, servidos com acolhedora e genuína hospitalidade das suas gentes, as paisagens naturais únicas, marcadas pela imponência das suas serras, majestosamente serpenteadas pelos seus rios, deixando revelar um património cultural riquíssimo, são apenas alguns traços de um território ímpar. A cerca de 45 minutos da cidade do Porto e do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, as terras de Baião revelam-se abençoadas pela natureza. Desde o rio Douro, limite Sul do concelho, até ao ponto mais alto da Serra do Marão, 25 km a Norte do rio, encontram-se altitudes que marcam paisagens de tirar o fôlego e que vão dos 60 aos 1416 metros de altitude. A EN 108, sendo o mote deste roteiro, encontra no rio Douro

o seu elemento agregador ao longo da margem direita, conferindo-lhe paisagens arrebatadoras. Dos 213 km navegáveis, em território português, o Douro, estendendo-se por Baião ao longo de cerca de 30 km, deixa-se contemplar em viagem pelas estradas, entre Frende e a Albufeira da Pala. É através deste curso de água que o Porto se liga ao Douro Vinhateiro, outrora de extrema relevância nas trocas comerciais não só do Vinho do Porto, mas também dos vinhos produzidos na Quinta do Mosteiro de Ancede no séc. XVI, sendo ainda um local privilegiado para a prática de atividades náuticas. O mesmo Douro que já servia de inspiração a Eça de Queiroz.

O rio defronte descia, preguiçoso e como adormentado sob a calma já pesada de Maio, abraçando, sem um sussurro, uma larga ilhota de pedra que rebrilhava. Para além a serra crescia em corcovas doces, com uma funda prega onde se aninhava, bem junta e esquecida do mundo, uma vilazinha clara. O espaço imenso repousava num imenso silêncio. (…) A grandeza igualava a graça.

“A Cidade e as Serras”, Eça de Queiroz

São muitos e diversos os motivos que justificam a visita e paragem em Baião, na sua vertente duriense. Desde logo, o Mosteiro de Ancede – Centro Cultural. Fundado no início do século XII, a primeira referência documental surge em 1120 na Bula do Papa Calisto II, tendo sido adquirido pela Câmara Municipal de Baião em 1985. Para além dos edifícios conventuais, o complexo é composto pela igreja, capela, terrenos agrícolas, chafarizes, fontes, tanques, celeiros e adega. Convertido em centro cultural, o MACC – Baião acolhe eventos de natureza diversa, designadamente exposições temporárias e permanentes, conferências, concertos e jantares temáticos, assumindo-se como uma referência cultural da região.

Baião é também referência na literatura. Escritores como Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Alves Redol, Agustina Bessa-Luís e Soeiro Pereira Gomes, e ainda o escritor de literatura infantojuvenil António Mota, referenciam amiúde esta paisagem.

Um território que serviu de inspiração para diversas obras, realçando-se o romance de Eça de Queiroz “A Cidade e as Serras”, tendo como principal cenário a “Casa de Tormes”, localizada em Santa Cruz do Douro, que é hoje sede da Fundação Eça de Queiroz, um espaço museológico da vida e obra do escritor, que preserva o seu espólio e mantém vivo o cenário baionense, descrito e eternizado nesta sua obra, sendo de visita obrigatória.

Outra referência igualmente incontornável é a Serra da Aboboreira, recentemente classificada como paisagem regional protegida, que apresenta vestígios da ocupação mais antiga deste território, remontando à Pré-História, prolongando-se por 4000 anos (do V ao I milénio a.C.). Sendo uma das maiores necrópoles megalíticas do país, destaca-se neste conjunto o “Dólmen de Chã de Parada”, classificado como Monumento Nacional desde 1910, e que pode ser visitado.

Outro aspeto assinalável, que traduz a riqueza e a distinção dos saberes e tradições locais, são as bengalas de Gestaçô, assim batizadas pelo facto de ter sido na freguesia de Gestaçô que se instalaram as primeiras oficinas no final do século XIX. Conhecidas pela sua técnica original de dobragem e decoração, com particular dedicação ao detalhe, são produzidas pelos artesãos de Gestaçô milhares de bengalas para as queimas das fitas. Dada a particularidade do seu processo de manufatura, foram inscritas no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial em 2023.

Mas os territórios são também reconhecidos pelos seus sabores, e a gastronomia local é pontuada por sabores inconfundíveis, bem presentes no fumeiro tradicional, no anho assado com arroz do forno, no bazulaque ou no cozido à portuguesa, adocicados pelo “Biscoito da Teixeira” e acompanhados pelos vinhos verdes, onde se destacam os da casta Avesso, casta autóctone da sub-região de Baião.

Visitar Baião é visitar um território com uma história longínqua, em que a importância do passado está bem presente nos nossos dias, impulsionando e projetando o futuro, assente nos valores da sustentabilidade social, económica, cultural e ambiental, não fosse Baião o 1.º município português internacionalmente certificado com “Destino Turístico Sustentável”.