No próximo dia 7 de dezembro, Mário Soares celebraria cem anos de vida. Para assinalar a data, a Tinta da-China e o Colégio Moderno acabam de lançar o livro “Mário Soares, 100 Anos”, com fotografias de Alfredo Cunha e Rui Ochoa e textos de Clara Ferreira Alves.
“Mário Soares amava Portugal e amava a vida, e nunca deixou que a adversidade — e teve muitas: a prisão, a perseguição, o exílio, a solidão, a incompreensão, a ingratidão — perturbasse a linha reta por onde marcou uma passada segura e feliz. Viveu. Viveu bem, com gosto, com elevação, com compunção. Com devoção a uma causa, a liberdade dada pela democracia. Deveria dizer antes, a felicidade dada pela democracia.”
É desta forma que Clara Ferreira Alves descreve Mário Soares, logo na abertura deste livro, onde vemos retratada uma vida que, “indelevelmente, se cruza com a história de Portugal”, como refere a editora em comunicado. E, de facto, será muito difícil encontrar outro nome na nossa história política contemporânea que se compare a Mário Soares. Ideologias à parte, serão pouquíssimos aqueles que não admitam que foi alguém que esteve sempre, nos momentos mais decisivos, no lado certo da história do país. A jornalista não tem dúvidas de que Mário Soares foi único e insubstituível enquanto político, “uma personagem europeia, cosmopolita, de uma Europa culta onde tinha amigos como François Mitterrand, Willy Brandt ou Václav Havel. E uma personagem mundial para ombrear com um Nelson Mandela ou um dos presidentes americanos.”
Este livro divide-se entre o protagonista político, com a enorme visibilidade pública e a relevância internacional que se lhe reconhece, vastamente documentada em retratos, fotografias e reportagens, e o homem privado, com os seus objetos quotidianos, os seus afetos e interesses, numa recolha fotográfica inédita do seu espólio e também dos espaços onde viveu, incluindo a casa no Campo Grande, em Lisboa.
São mais de duzentas fotografias aqui reunidas, da autoria de Alfredo Cunha, amigo e fotógrafo oficial do antigo Presidente da República, entre 1986 e 1996, e também de Rui Ochoa. Os textos, como já referimos, são de Clara Ferreira Alves, que tantas vezes o entrevistou e com quem tinha uma relação próxima e uma profunda admiração, a qual nunca esconde aliás.
Uma intimidade que se revela na sensibilidade deste excerto: “Estranhamente, quando alguém próximo nos morre, é das minudências que nos lembramos, não dos gestos heroicos, não dos gestos históricos e imbuídos de grandeza e precisos na definição do caminho de um país. Recordamos pequenas graças do quotidiano, que humanizam quem as vive e quem as viu.”