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“É a harmonia do conjunto, nesta moldura paisagística, que mais cativa o olhar do crescente número de turistas e visitantes”

Entre paisagens naturais de rara beleza e tradições preservadas, Castanheira de Pera afirma-se como um destino singular no turismo sustentável em Portugal. O Presidente da Câmara, António Henriques Antunes, destaca o compromisso em proporcionar experiências imersivas, que unem património e natureza. Sem parques naturais ou monumentos icónicos, é a harmonia do conjunto – das águas cristalinas às aldeias históricas – que cativa visitantes. Iniciativas como os percursos pedestres e projetos inovadores, como a Rota dos Açudes que aqui antecipamos, reforçam a aposta numa oferta turística sustentável e diversificada.

Castanheira de Pera é um destino de referência para quem valoriza a natureza e a genuinidade. Como é que o município tem trabalhado para reforçar esta identidade única no panorama turístico nacional?

As paisagens naturais transformam-se em paisagens culturais através dos bens patrimoniais que incorporam e das memórias e sensações que preservam a autenticidade dos lugares. Mais do que vender bonitos postais ilustrados é preciso proporcionar aos visitantes experiências únicas e imersivas no contacto com a natureza e na divulgação do património e das tradições locais. É exemplificativa desta visão a forte aposta que temos vindo a empreender no pedestrianismo, através dos roteiros «Doze Meses, Doze Caminhadas» e do «Festival de Caminhadas da Serra da Lousã» dinamizados pela empresa
municipal Prazilândia – Turismo e Ambiente.

António Henriques Antunes – Presidente da Câmara de Castanheira de Pera

No território não há parques naturais, castelos, palácios ou monumentos nacionais. É a harmonia do conjunto, nesta moldura paisagística pintada nos reflexos cristalinos das águas mergulhadas na praia fluvial do Poço Corga e nas ondas do complexo balnear da Praia das Rocas, na arquitetura da Vila perpassada pelos traços da memória industrial e nas cores primaveris do manto de urzes e carquejas da serra, que mais cativa o olhar do crescente número de turistas e visitantes.

Ribeira das Quelhas

O município tem vindo a destacar-se pela integração de práticas de turismo sustentável. Quais iniciativas e boas práticas considera mais emblemáticas neste percurso?

A sustentabilidade no turismo resulta de um compromisso entre a preocupação ecológica com a conservação da natureza e a preservação dos ecossistemas, o contributo da geração de receitas no desenvolvimento económico e o impacto social da atividade turística na vida das comunidades.

Os quatro percursos pedestres homologados existentes no concelho (PR1 Rota dos Coentrais, PR2 Rota da Água e da Pedra, PR3 Rota dos Neveiros – com saída no Coentral; e PR4 Rota Terras de Peralta – com saída de Pera), incluindo os Passadiços da Ribeira das Quelhas, estão equipados com contadores que permitem monitorizar os fluxos de visitantes. Em 2024 contaram-se cerca de 25 mil entradas – um quantitativo com ampla margem de crescimento sem sobrecarregar os recursos naturais. Para responder a esta demanda, a requalificação do Largo do Vidouro visa dotar o Coentral de uma nova centralidade na dinamização do turismo de natureza, através da construção de infraestruturas de apoio, que incluem um novo espaço comercial com cafetaria/bar e loja de produtos regionais, circundante ao monumento a inaugurar dedicado ao “neveiro”.

Até ao momento, o crescente afluxo de visitantes e pedestrianistas tem sido de pouco proveito para a comunidade local, constatando-se a falta de estabelecimentos comercias vocacionados para a dinamização da oferta turística nesta histórica e pitoresca aldeia, que nas últimas décadas tem enfrentado o importante desafio do despovoamento e envelhecimento demográficos. Por outro lado, acrescem a cada ano os gastos com a limpeza dos trilhos e a reparação e manutenção das estruturas em madeira dos passadiços.

Barretim

É entendimento que a sustentabilidade dos investimentos públicos no turismo deve ser mensurada com base nos retornos diretos e indiretos em benefício do desenvolvimento socioeconómica das respetivas comunidades. Efeito que acompanha outras dinâmicas abertas a iniciativas privadas, com destaque para o setor imobiliário e os apoios públicos à reabilitação urbana nas aldeias, patentes na expansão da oferta do alojamento local, no mercado de segunda habitação e, a um ritmo mais lento, na fixação de novas famílias e residentes.

A diversificação da oferta e a valorização dos produtos endógenos têm sido fundamentais no desenvolvimento do setor do turismo em Castanheira de Pera. Que projetos têm ajudado a promover estas riquezas locais?

São entre 80 a 100 mil as entradas que animam a Praia das Rocas nos meses de verão. Números que multiplicam o movimento nas ruas da Vila, mas ainda assim limitados na expansão da oferta turística a outros pontos de interesse do concelho e da região. Alargar o tempo de estadia dos veraneantes e diversificar a oferta turística ao longo do ano são objetivos de monta traçados na estratégia do executivo municipal, que explicam a forte aposta no turismo de natureza e no turismo de eventos. A mostra dos produtos endógenos – a castanha, o azeite, o mel, etc. – acompanha os programas de caminhadas e, em finais de abril, fixou-se na agenda cultural o festival «Gastronomia em Movimento».

Santo António da Neve

O município tem olhado para o futuro com iniciativas inovadoras. Pode partilhar alguns projetos ou planos que prometem reforçar o turismo sustentável na região?

No cruzamento do turismo de natureza com o património industrial, a Rota dos Açudes percorrerá as margens da Ribeira de Pera, num percurso linear com partida da Praia das Rocas. A exuberância natural da galeria ripícola recortada por deslumbrantes quedas-d’água e ruínas de antigas fábricas fará desta rota um dos mais belos trilhos de Portugal. Especialmente concebido para os pedestrianistas e amantes da natureza, o barretim preserva os métodos de fabrico da bolsa do barrete tradicional português, como
continua a ser produzido, exclusivamente, em Castanheira de Pera.

Abraçada pelas serranias que se abrem ao vale do Zêzere, Castanheira de Pera diferencia-se pelas paisagens de montanha. Na imensidão do xisto, que anima os roteiros turísticos nas aldeias entre as serras da Lousã e do Açor, no Coentral saltam à vista os muros e as cantarias das casas de granito. Dos velhos castanheiros ao redor da aldeia, trepando as escarpas das ribeiras do Cavalete e das Quelhas, e subindo à cumeada do Santo António da Neve, no correr dos trilhos calcorreados por agricultores e pastores de outros tempos, conta-se a singular história do povo que, para incremento do modesto sustento, foi também neveiro. Tempos idos de abundantes nevões que enchiam os poços da neve servida em gelados e refrescantes bebidas na Casa Real e nos botequins oitocentistas de Lisboa. Descendo o vale, dezenas de açudes alimentavam no manancial das quedas-de-água que foram força motriz dos moinhos e do progresso fabril dos lanifícios de outrora. Hoje, a Ribeira de Pera espraia-se nas ondas do complexo balnear da Praia das Rocas.