Mulheres Inspiradoras

“Apoiar pessoas no seu processo de desenvolvimento pessoal é o que me motiva”

Das pequenas ações às grandes mudanças, com empatia e ciência: assim se desenha a trajetória de Filipa Rijo, a psicóloga que transformou o voluntariado numa vocação. Com mais de quinze anos de experiência, é doula e especialista em hipnose clínica nas várias etapas da vida. No futuro, promete lançar um projeto que aproxime a psicologia da Natureza, com o objetivo de “promover a saúde mental e o bem-estar psicológico e físico”.

Para começar a entrevista, gostaríamos de conhecer melhor a história por detrás da sua trajetória profissional. É licenciada em Psicologia desde 2007. O que a motivou a seguir esse caminho?

O “Efeito Borboleta” ajuda a descrever o meu caminho. Pequenas ações podem desencadear grandes mudanças. Foi assim comigo. Comecei, muito jovem, a fazer voluntariado e isso fez-me acreditar que podia ter impacto positivo na vida das pessoas. Esse valor foi orientando as minhas escolhas pessoais e profissionais e fez-me chegar até ao dia de hoje. Apoiar pessoas no seu processo de desenvolvimento pessoal é o que me motiva. Procuro ser um agente positivo na sua evolução.

Ser psicólogo envolve lidar com situações sensíveis, que exigem atenção constante e cuidado. Como costuma conduzir o seu trabalho em situações delicadas? O que os pacientes podem esperar ao ser atendidos por si?

Podem esperar empatia e respeito. Ir a uma consulta de psicologia é um ato de coragem e força interior. As pessoas procuram-me porque estão “em dor” por algum motivo. Isso faz com que queira chegar até elas da forma mais próxima e humana possível. Procuro adequar a minha intervenção a cada situação e a cada pessoa em particular. Foco-me não só na redução dos sintomas, mas também na promoção do bem-estar psicológico, na autorregulação emocional e no contacto com o momento presente. Quero que as pessoas se sintam apoiadas, independentemente do motivo que as leve até mim, e ajudá-las a ter uma relação mais saudável com as suas emoções e os seus pensamentos.

A procura por acompanhamento psicológico online tem vindo a aumentar. Concorda com esta abordagem ou no seu entender as consultas presenciais têm maior eficácia? Acredita que os pacientes vivenciam de forma distinta os dois atendimentos?

Percebo nas pessoas que a flexibilidade é libertadora. Gostam de poder escolher onde têm a consulta: no consultório ou em qualquer outro lugar onde sintam ter as condições adequadas. Muitas falam da satisfação de não terem de enfrentar trânsito e logísticas difíceis que as fazem correr para chegar a horas ao consultório. Sentem que já passam o dia numa azáfama e a consulta é para usufruir. A verdade é que viabilizamos possibilidades depois da pandemia que até então pareciam difíceis. Quebramos barreiras.

A teleconsulta é uma prova disso. Atualmente uma grande parte da minha agenda é feita com pessoas espalhadas pelo país ou que estão fora de Portugal. Algumas pessoas iniciam com consultas presenciais e depois escolhem a teleconsulta ou passam para um sistema híbrido. Estudos realizados, assim como a minha experiência, indicam que a eficácia dos dois atendimentos é equiparável.

A Hipnose é uma das ferramentas terapêuticas que utiliza no seu trabalho. Fale-nos um pouco sobre esta técnica e o que a levou a investir nesta especialização, e em particular, por que motivo escolheu o London College of Clinical Hypnosis?

A Hipnose clínica é fascinante e traz muitas vantagens quando conjugada com a psicoterapia. Permite que se atinjam os resultados pretendidos com mais eficácia e rapidez. O relaxamento que esta técnica proporciona a alguns processos terapêuticos acrescenta leveza e liberta tensão, o que é particularmente interessante quando temos quadros clínicos associados à ansiedade. É uma ferramenta que faz todo o sentido para mim e que é aconselhada em diversas situações em que a psicoterapia é utilizada. Escolhi a LCCH pela sua credibilidade, orientação clínica e conhecimento prático, já que a hipnose é usada de forma mais comum no Reino Unido.

A aposta contínua em formação está presente na sua carreira. Percebemos que a última pós-graduação que realizou foi na área das Psicoterapias Cognitivo Comportamentais de Terceira Geração. De onde surgiu este interesse?

Da procura partilhada pela felicidade. As Terapias de Terceira Geração trazem uma visão inovadora da saúde mental. Fomentam uma ação comprometida e ativa face ao que é possível ser mudado, e estratégias mais funcionais e flexíveis para lidar com aquilo que não se pode mudar. Cria-se um mindset de menor ruminação sobre acontecimentos passados e de menor antecipação de acontecimentos futuros receados. Criam-se estratégias para viver mais o momento presente e isso aproxima-nos de estados de felicidade.

Além da prática clínica, o seu trabalho inclui o acompanhamento especializado em fases importantes da vida da mulher, como a gestação, o parto e o pós-parto. De que forma este acompanhamento influencia a experiência e o bem-estar das mulheres ao longo destas etapas?

Traz-lhes segurança e suporte emocional e isso é fundamental em fases tão singulares como as que mencionou. Recebo mulheres em todas as fases de vida. A preparar-se para a maternidade, a enfrentar desafios para engravidar, com receios associados à gravidez, a lidar com questões pessoais depois da maternidade; e tento ter resposta de forma individualizada, quer com as técnicas específicas de hipnose, quer com a formação de Doula que me trouxe ainda mais aporte emocional e científico.

Viver o presente é pensar também no que ambicionamos para o futuro. Tem algum projeto em vista que possa partilhar?

Sim, existe um projeto que começa a ganhar forma, apesar de estar ainda numa fase embrionária. Tenho o desejo de proporcionar atividades na área da psicologia, que são realizadas em contacto com a Natureza, com o propósito de promover a saúde mental e o bem-estar psicológico e físico. Cada vez mais a ciência relaciona o contacto com a Natureza com o aumento das hormonas da Felicidade e a diminuição das hormonas associadas ao stress e ao medo, proporcionando melhorias em diversos sintomas associados, por exemplo, a quadros clínicos de ansiedade, depressão, oncológicos e cardíacos.

Que conselho daria a quem quer seguir a sua área e não sabe por onde começar?

Vivemos na era do algoritmo e isso parece ditar quem devemos ser e como nos devemos comportar. Acredito que é premente apostar na singularidade do que fazemos e de quem somos. Creio que o que trará distinção a longo prazo serão as ações comprometidas com os valores pessoais e o bem comum, apesar de ser mais fácil diluirmo-nos nas massas.