Para Joana Grácio, CEO da Bloomer, “o respeito não está escrito numa parede. Vive-se”. É este o princípio que transformou a antiga Tox’Inn, uma agência com 20 anos, num lugar onde a cultura de exigência é inseparável da entreajuda. Desta dinâmica de confiança nasce a assinatura da empresa, o Extra Effect, que se traduz em “fazer bem feito e fazer sentir”.
A Bloomer Events tem 20 anos de história, mas um nome recente. O que motivou o rebranding da anterior Tox’Inn e que nova filosofia de trabalho é que este nome representa?
A Bloomer nasceu da experiência da Tox’Inn, mas precisava de uma nova pele. O rebranding não foi só mudança de nome, foi assumir aquilo que realmente somos hoje: emoção com critério, execução com alma. Queremos provocar ligações reais, deixar um rasto emocional que não se apaga, e mostrar que o detalhe – aquele que ninguém pediu, mas todos sentem – é o que nos distingue. Hoje falamos do Extra Effect não como slogan, mas como forma de estar: fazer bem feito e fazer sentir.
A sua liderança na Bloomer parece ter criado um ambiente onde se vive algo mais profundo do que o simples trabalho. O que diria que faz desta equipa e desta empresa um lugar onde se sente verdadeiramente valorizada e respeitada, de um modo que dificilmente encontraria noutro lado?
A forma como lidero a Bloomer é reflexo do meu próprio caminho. Tudo o que vivi moldou esta filosofia que aqui se vive. Acredito que os nossos objetivos profissionais devem andar de mãos dadas com os nossos objetivos pessoais. Conhecer quem está connosco para lá do cargo faz toda a diferença. Saber o que move cada pessoa, o que valoriza, o que precisa — permite-me entregar algo mais do que tarefas: entregar significado. E isso não se impõe, vive-se. A cultura da Bloomer é experienciada no dia a dia, nos detalhes, nas conversas sem pressa, nos silêncios com respeito.

Procuro cultivar uma relação próxima com cada colaborador. Um espaço onde se possa falar sem filtros, sem receios — e onde a crítica, quando existe, é construtiva e serve apenas para crescer. Aqui, todos contam. O promotor, o contabilista, o estafeta, o account. Esta casa é feita de cada um deles. Dos que estão, dos que estiveram – e até dos que estão por surgir. E talvez seja isso que nos diferencia: aqui, o respeito não está escrito numa parede. Está no olhar, na escuta, no gesto. Vive-se.
Num post recente da Bloomer, li uma frase que me ficou na memória: ‘Ser Bloomer não se explica — vive-se›’. O texto falava da entreajuda, do orgulho, mas também de ‹mensagens às 7h e áudios às 23h›. Enquanto CEO, como é que se consegue construir e, sobretudo, manter uma cultura de equipa tão forte e tão exigente? E como é que essa união dos ‘Bloomers’ se traduz, na prática, no sucesso de um evento para o cliente final?
Tudo começa por gostarmos do que fazemos — mas mais ainda, por gostarmos de como nos fazem sentir enquanto o fazemos. Na Bloomer, sabemos que nos momentos desafiantes ninguém fica para trás. Costumo até dizer, em tom de brincadeira, que aqui não deixamos combatentes no campo de batalha. Essa mensagem é passada desde o primeiro dia e reforçada todos os dias. Promovemos o elogio, guardamos a crítica para o privado e sempre com intenção construtiva. O resultado é orgulho coletivo: cada um sente o sucesso como seu, e isso reflete-se no cliente que percebe o tal “little extra” sem que tenhamos de o forçar.
Vi que estiveram por trás de ativações de marca para grandes clientes em festivais de verão. O que é que as marcas procuram hoje numa experiência deste género e qual é o maior desafio logístico e criativo ao montar uma operação no meio de um festival com milhares de pessoas?
Levar uma ativação ao terreno — num festival com milhares de pessoas e dezenas (às vezes centenas) de colaboradores — não é só montar uma estrutura. É construir uma experiência que se sente. Porque palavras passam, mas o que se sente… fica. O segredo? Começa sempre no briefing. Preciso, completo, sem espaços para “logo se vê”. A preparação é onde tudo se alinha: as necessidades da marca, as motivações de quem representa, a logística invisível que sustenta tudo o resto.
Estamos a falar de horas de recrutamento, contratos, fardas, briefings detalhados e emocionais (porque sim, queremos que cada pessoa sinta o que está a representar). Existe todo um trabalho de bastidores — gestão de materiais, armazenamento, bem-estar das equipas no terreno — que ninguém vê, mas que é o que garante que tudo corre com o tal “extra”. As marcas, hoje, não procuram só visibilidade — procuram presença. Querem que cada interação seja uma extensão da sua essência. E nós estamos cá para isso: para fazer sentir – e isso não se esquece.
O mercado dos eventos vive de tendências e “momentos”. Como percebe o equilíbrio entre tradição e inovação na Bloomer? Há algo de que nunca abdique, independentemente das modas?
As modas mudam, mas há princípios inegociáveis. O bem-estar da minha equipa é um deles – sobretudo o emocional, porque o burnout é um risco real. Estou atenta aos sinais para não deixar crescer problemas silenciosos. Outro ponto claro: tolerância zero ao assédio. Prefiro perder um cliente a expor a minha equipa a um momento menos digno. O respeito é a base. Sem ele, não há tradição que valha nem inovação que resista.
“A cultura Bloomer: adaptação, resiliência e capacidade de tornar um obstáculo numa oportunidade”
A Bloomer distingue-se por ser uma “ponte entre ideias e ação”. Que desafios enfrenta ao tentar transformar conceitos em experiências autênticas, no contexto de marcas cada vez mais exigentes?
Transformar ideias em experiências autênticas é equilibrar exigência e verdade. As marcas pedem impacto, diferenciação e resultados. O nosso papel é garantir que, no meio disso tudo, não se perde a autenticidade. Fazemos isso com dois pilares: escuta ativa e execução rigorosa. Escutamos para perceber o que realmente se quer provocar e depois planeamos ao detalhe. No terreno, surgem imprevistos, mas aí entra a cultura Bloomer: adaptação, resiliência e capacidade de tornar um obstáculo numa oportunidade.
De que forma recruta e forma profissionais para que sejam “embaixadores de marca” e não apenas staff de evento? Como coloca a empatia e o rigor a funcionar no terreno?
Recrutar embaixadores não é só preencher vagas. Entrevistamos pessoalmente, transmitimos cultura, percebemos quem tem o brilho certo. Acompanhamos, damos formação e feedback constante; temos o cuidado de lançar benefícios exclusivos com regularidade, criamos apps que facilitam o seu dia a dia, temos canal aberto de comunicação 24h/7. Não largamos os nossos embaixadores ao acaso. Porque na prática, empatia e rigor caminham juntos. É isso que transforma staff em verdadeiros embaixadores de marca – e cria o Extra Effect.
Quais são os grandes desafios e oportunidades que vislumbra para a Bloomer nos próximos anos? Existe algum projeto ou inovação que a entusiasme particularmente?
O futuro será exigente mas entusiasmante. Acredito no papel decisivo da inteligência artificial, mas sou segura ao afirmar que nada substitui a interação humana. O nosso caminho será equilibrar tecnologia que potencia – com pessoas que transformam. Continuaremos a investir em formação constante, porque recusamos conformismo. Temos projetos-chave e novas atividades prestes a nascer que me entusiasmam particularmente, incluindo formações em inovação que estão, neste momento, ainda no segredo dos deuses.
Sendo mulher e CEO num setor exigente, que conselho daria a quem também quer liderar num ambiente que pode ser duro, mas também cheio de potencial?
Liderar neste setor exige resiliência e humildade. Não há fórmulas milagrosas. Possivelmente diria: “vais falhar, vais cair – e ainda bem. O que nos define é como nos escolhemos levantar”. Para mim, errar é parte do caminho: só não erra quem não tenta. É também fundamental manter equilíbrio: família, amigos e equipa são pilares (a maternidade trouxe-me ainda mais consciência desse desafio). Não somos nada sozinhos. Por isso, é fundamental manter o foco nos nossos princípios e não ceder ao caminho mais fácil se ele não estiver alinhado com o nosso projeto de vida. E, acima de tudo, liderar com humildade e pés bem assentes no chão. Porque é isso que sustenta qualquer percurso sólido.