Depois de mais de duas décadas onde as pessoas se habituaram a partilhar cada detalhe das suas vidas online, estamos a assistir a uma mudança significativa. As pessoas estão a partilhar menos nas redes sociais. Segundo recentes inquéritos, quase um terço dos utilizadores publica menos do que há um ano, tendência particularmente forte entre os adultos da Geração Z.
Kyle Chayka, escritor do New Yorker e autor de Filterworld: How Algorithms Flattened Culture, chamou a esta fase emergente “posting zero”. Isto é, o momento em que as pessoas comuns sentem que já não vale a pena expor a sua vida nas plataformas digitais. O que antes era um espaço de partilha social está a tornar-se um lugar dominado por conteúdos comerciais, marcas e influenciadores. Segundo Chayka, a rede que outrora parecia um reflexo imperfeito da vida social passou a ser uma enorme vitrina de conteúdos produzidos e altamente orientados por algoritmos, a roçar a televisão tradicional. Esta questão foi explorada numa entrevista conduzida por Katty Kay a Kyle Chayka, publicada na secção Worklife da BBC.
Para o autor, esta transformação retira o propósito original das redes sociais. Com a diminuição do conteúdo pessoal, as plataformas tornam-se canais para publicidade e promoções, onde a diversidade humana é substituída por mensagens padronizadas e repetitivas. Na mesma entrevista à BBC, Chayka salienta que o modelo de negócio das empresas por trás destas redes permanece focado nos anunciantes, e que a aposta futura mais provável é substituir progressivamente conteúdos humanos por criações geradas por inteligência artificial, que são infinitas, baratas, mas vazias de significado para o utilizador comum.
Esta evolução não significa o fim da comunicação digital, mas sim o seu reposicionamento. A partilha entre amigos e familiares migra para espaços privados, como mensagens diretas e grupos fechados (uma tendência já muito vista no Whatsapp, por exemplo), que reflete uma cultura digital mais reservada e seletiva. Na conversa com Katty Kay, Chayka destaca que as novas gerações, muitas vezes acusadas de descurarem a privacidade, mostram agora maior consciência dos riscos sociais da exposição pública, preferindo redes sociais mais íntimas e controladas.
A sociedade do “postar” entra numa fase de reflexão crítica. Para a maioria, os prejuízos da exposição pública superam os benefícios. A pressão para alimentar uma audiência constante, o risco de humilhação pública e o desencanto com a superficialidade dos conteúdos levam muitos a optar simplesmente por deixar de partilhar e manter as suas conversas longe do olhar público. Olhando para o futuro, prevê-se a continuação de ambientes digitais dominados por conteúdos profissionais e passivos, enquanto as interações sociais mais genuínas migram para plataformas privadas de mensagens ou mesmo para o contacto presencial, reacendendo o valor da partilha cara a cara.





