Conhecida pelas suas obras lúdicas e abrasadoras sobre a escravidão e a história dos afro-americanos, a romancista Toni Morrison foi amplamente considerada uma das principais referências da literatura norte-americana e uma defensora das minorias reprimidas.
Toni Morrison morreu esta terça-feira aos 88 anos de idade, vítima de uma doença curta – explicou a família. A escritora ficou reconhecida mundialmente pela forma como retratava a experiência afro-americana nos seus livros. O romance “Amada” valeu-lhe o prémio Pulitzer para melhor ficção em 1988, que viria mais tarde a ser adaptado para cinema.
É impossível falar de Toni Morrison, da sua vida que esta segunda-feira se extinguiu, aos 88 anos, e da sua obra, sem mergulhar na América, nas suas questões de raça e de género, na complexidade das múltiplas culturas que ali se encontram e desencontram, na tensão constante entre ricos e pobres, entre comunidades rurais e sociedades urbanas. Chloe Ardelia Wofford, Morrison pelo casamento, definitivamente Toni Morrison, nasceu a pouco mais de um quilómetro da fábrica de aço de Lorain, no estado de Ohio, em plena Grande Depressão, quando os empregos escasseavam e as cidades industrializadas conheciam uma degradação sem precedentes.
Uma escritora prolífica de romances, ensaios e também letras de músicas que se destacaram no início dos anos 70, Morrison focou-se particularmente na experiência das mulheres dentro da comunidade negra. O seu trabalho rendeu-lhe inúmeros prémios, entre eles, o mais notavelmente foi o Prémio Nobel de Literatura, em 1993, referenciando-se como a primeira vencedora afro-americana e a primeira mulher negra a receber este reconhecimento.
No discurso que fez quando recebeu o Nobel da Literatura, Toni Morrison volta às raízes da comunidade negra e conta a história de uma mulher “filha de escravos, negra, americana e que vive sozinha numa pequena casa fora da cidade”. A história continua com a mulher, que é cega, a ser questionada por dois homens que entraram na sua casa com a intenção de gozar da sua condição: “Velha mulher, tenho na mão um pássaro. Diz-me se está vivo ou morto”. A mulher não sabe, mas, conta Toni, há uma certeza: “Se estiver morto, encontraram-no assim ou mataram-no. Se estiver vivo, ainda o podem matar. Independentemente do caso, é da vossa responsabilidade”.
A meio do discurso, Toni Morrison conclui com uma frase marcante: “Nós morremos. Esse pode ser o significado da vida. Mas nós fazemos a linguagem. Essa pode ser a medida das nossas vidas”.
A autora escreveu 11 romances e alguns livros para crianças, obras que levaram a escritora a ganhar o prémio National Book Critics Circle. Entre outras obras memoráveis da escritora estão “Os Olhos Mais Azuis”, publicado em 1970, “Amada”, publicado em 1987, “Jazz”, publicado em 1992, “Paraíso”, publicado em 1997, “Amor”, publicado em 2003, “Song of Solomon” e “A Nossa Casa é Onde Está o Coração”, de 2015, e também levaram Morrison.
Consulte os vencedores do Nobel da Literatura 2018 e 2019 na In.