Com formas orgânicas, fluidas e inspiradas no meio natural, as joias de Patrícia Andrade são intemporais, oriundas de uma criatividade livre e fruto de um trabalho minucioso – mais que joias, verdadeiros retalhos de natureza.
Patrícia caminha até ao seu atelier, uma sala de janelas amplas recheada de pedras preciosas com uma desordenação característica dos espaços de criação. Começa por explicar como é que surgiu o seu interesse pela joalharia enquanto mostra as diversas criações.
“Eu adorava brincos e não conseguia sair sem brincos. Por vezes acontecia não ter nenhuns a condizer com a roupa que estava a utilizar e decidi começar a comprar pedras e fazer os meus próprios brincos”, explica com o sorriso que torna fácil adivinhar que o que vemos sob a mesa e nas vitrinas é uma extensão de si.
O interesse era crescente e por isso Patrícia Andrade decidiu apostar na formação em Gemologia na APG e em joalharia – em 2010, sob a alçada do Professor Filomeno, nome de destaque nacional. Quando deu início à formação, Patrícia já tinha em mente vender as suas joias. “Queria vender as minhas joias porque sabia que não havia e era uma necessidade no mercado”, exclama Patrícia.
Ao lado, a amiga Nádia Machado que apoia Patrícia desde os primeiros passos na joalharia, acena afirmativamente com a cabeça e a joalheira apressa-se a ilustrar as lacunas do mercado: “eu aparecia todos os dias com brincos diferentes a condizer com a roupa que levava. Aparecia sempre com brincos que não tinha no dia anterior. Todos me perguntavam onde é que os tinha ido buscar e como é que também podiam ter uns iguais”, conta.
“Comecei a ir a muitas feiras e eventos da área. Fiz pesquisa e consegui realmente incluir todo o tipo de pedras naturais nas minhas peças”. Daí até às exposições foi um salto e não tardou a participar na PortoJoia e Jubinale, realizada na Polónia.
A sua primeira coleção girava à volta do conjunto anel-brinco. “A inspiração para essa coleção foi a natureza. É sempre a natureza e os animais. E também a liberdade, a fluidez e a água”, um claro reflexo da paisagem que rodeia o atelier -pintada a verde, com arvoredo até perder vista e iluminada a todo o redor.
“Nessa altura, andava sempre atrás das libelinhas para conseguir observá-las. Até tentei fazer o molde de uma libelinha. Levei-a a um senhor que disse que não era possível” – solta uma gargalhada – “hoje já o conseguiria fazer”.
A paixão pela natureza e o amor inabalável pelos animais são marcas indeléveis na vida e nas coleções de Patrícia Andrade. Com formas orgânicas e cuidado minucioso no tratamento dos contornos, é clara a influência do meio natural no imaginário criativo da artista.
A primazia da forma nas suas criações é fruto do árduo trabalho de cinzelagem em que Patrícia Andrade se especializou. Lado a lado com Il Maestro Acquafresca, nascido em Florença e parte integrante da 17ª geração de cinzeladores da família italiana, Patrícia aperfeiçoou todos os meandros da arte da cinzelagem.
O lagarto à volta do pescoço e o irmão enrolado no braço – ambos cinzelados em prata pelas mãos de Patrícia – abafam qualquer suspeita acerca do engenho da artista, mas Patrícia Andrade propõe-se a fazer mostras da sua habilidade e salta para a sua bancada de trabalho, um tronco rústico ao nível dos joelhos que lhe serve para apoiar as peças em que trabalha.
De martelo em punho e segurando o cinzel cuidadosamente, um sorriso ganha forma no rosto de Patrícia e é fácil perceber para qualquer presente na sala, que é ali naquele atelier, com metal a bater em metal, que a artista consegue voar e materializar a sua criatividade.
De volta à mesa onde a conversa se iniciou, Patrícia confessa já não lhe apetecer parar, mas rapidamente retoma num tom mais sério e recomeça, apresentando novas peças. “Esta coleção nasceu como forma de ajudar uma associação local, do meu concelho, Santa Maria da Feira, a Aanifeira que alberga perto de 300 animais. É preciso fazer obras e tratar dos que temos e ajudar os que ainda estão na rua. E pensei que podia juntar o útil ao agradável e enquanto vendo uma coisa que as pessoas gostam, consigo reunir fundos para ajudar a associação”, explica a artista.
Patrícia Andrade aponta para peças de joalharia, com pegadas felinas e inspiradas na causa animal e começa a explicar o processo criativo: “as peças têm patinhas, pegadas – marcas – as marcas que os animais deixam no nosso coração, nas nossas vidas.”
De há dois meses para cá, Patrícia Andrade é presidente da Aanifeira – Associação dos Animais da Feira, e irá ser criada uma nova dinâmica ao redor desta coleção com o objetivo de aumentar os fundos disponíveis à associação sem fins lucrativos. Um quarto do volume de vendas reverte a favor da Aanifeira.
“Estas peças têm sete anos, tenho consciência que hoje em dia são muito comuns e existem muitas peças assim, mas na altura não havia nada relacionado com este tema. Ainda assim, as pessoas gostam de animais e consequentemente das peças e por isso vamos promover a marca com mais dinamismo”, explica Patrícia Andrade.
A troca de impressões acerca da singularidade presente nas peças de Patrícia Andrade continua. Do meio da conversa ressaltam palavras que caracterizam o seu universo: intemporal, criativo e elegante. A artista explica que a única loja que faz revenda das suas peças é a Panamar Porto, junto ao Mercado Ferreira Borges, as restantes peças são todas vendidas diretamente ao público. Por isso, o futuro passará por ter um espaço próprio.
“Quero abrir a minha loja, que vai ter uma parte de joalharia. Uma loja à minha medida, criada nos meus termos. Não é aquilo que o mercado vai pedir, é o que eu gosto. Esta loja será também uma loja de decoração – peças diferentes de escala diferente”, narra Patrícia Andrade com um brilho no olhar que transparece a dimensão do sonho.