A reabilitação da obra da Moagem Heritage, em Leiria, levou o atelier António Garcia, Arquitetos, localizado em Lisboa, à nomeação para os prémios ‘Construir’ 19’, na categoria de melhor projeto de reabilitação. O projeto fala por si, mas a IN Corporate quis conhecer mais sobre as linhas que definem António Garcia.
António Garcia iniciou o seu percurso profissional no início da década de 80, numa época em que “a arquitetura era diferente, mais artesanal e poética, ou artística”, relembra. Começou por trabalhar na ASSO com o arquiteto Braula Reis, uma etapa muito importante: “aprendi muito, trabalhei com arquitetos mais experientes e essa passagem influenciou todo o meu percurso”, referiu. Durante esses anos, destacou a sua forte intervenção no Estoril Garden: “foi um empreendimento de habitação que acompanhei do princípio ao fim e um projeto que foi uma escola enorme para mim”.
No início da década de 90 viria a abrir o seu próprio atelier, inicialmente em Campo de Ourique e na passagem para o novo milénio, mudava-se para o atual escritório. Até aos dias de hoje são inúmeros os projetos realizados. Num périplo entre os registos e memórias dos projetos concretizados foi destacando os mais importantes. “Quando comecei sozinho, comecei com algumas moradias, com destaque de uma moradia na Marinha Grande e também o edifício da Tecmolde”, contou o arquiteto.
Em Lisboa fez também o empreendimento do Campo Grande 380, “composto por um edifício de habitação e dois edifícios de escritórios que ‘entalam’ o antigo asilo D. Pedro V, agora transformado em residência de estudantes”, esclareceu. Em Tróia destaca um lote de 32 moradias e o empreendimento do Lago de 80 apartamentos na Soltroia. Realçou ainda uma moradia em São Tomé e Príncipe “que me levou a conhecer a beleza natural do arquipélago”.
Destacam-se também várias obras na zona de Leiria, a reabilitação de uns prédios antigos no centro histórico de Leiria e das Termas de Monte Real, “fundadas em 1914 e totalmente renovadas e reabilitadas em 2009”, ressalva.
Para além da arquitetura também salientou alguns projetos de planeamento urbano: o Parque Linear de Ourém, o Parque urbano de S. Lourenço, em Abrantes, em colaboração com a Proap e o Parque Ribeirinho do Aquapólis, nas margens do Tejo, também em Abrantes.
A “Moagem Heritage”
A Moagem Heritage é o mais recente projeto de António Garcia, nas palavras do arquiteto, também o mais desafiante. “Tivemos de intervir num monumento nacional”, esclareceu.
O edifico de base era um Convento da Ordem de São Francisco, do séc. XIII, classificado como de interesse nacional e, portanto, “toda a intervenção foi acompanhada pela Direção Regional de Cultura e Património. Teve também um acompanhamento de vários arqueólogos e um historiador”. Durante a obra, “foram encontrados e classificados milhares de achados arqueológicos”.
Na concretização do projeto, António Garcia salienta a importância de preservar a história do edifício: “pautámo-nos por respeitar a arquitetura religiosa inicial, assim como a industrial resultante da transformação em fábrica de moagem no início do séc. XX pelo arquiteto Korrodi, mantendo muitas referências quer a nível estrutural, quer ornamental. Quisemos preservar a memória de toda a história do edifício”, concluiu.