A fama de José Leal Soares estende-se a toda a ilha Terceira. É das suas mãos que sai a melhor alcatra de peixe da região e da sua boca o melhor discurso provocador. O ‘mau feitio’ do cozinheiro e dono do restaurante é da mesma proporção do sucesso do Boca Negra.
Não deve haver um terceirense que não conheça o José Leal Soares. Qualquer um deles recomenda a visita obrigatória ao restaurante Boca Negra, em Porto Judeu, para comer a alcatra de peixe, com o devido aviso: “Não se assustem com o dono”. É que o ex-emigrante nos EUA, adepto incondicional do Sporting, é conhecido por ser muito desbocado, independentemente do cliente. “Adoro provocar. Então os benfiquistas, adoro”, brincou. “Quando venho cá acima [da cozinha à sala das refeições], a sala fica alegre. Antes era eu que servia sozinho aqui em cima. Dizia aos clientes: ‘Olha, vai partir pão’, ‘Desenrasquem-se’, ‘Os vinhos estão aí’. Eles é que eram os meus empregados”, continua, divertido.
Feitios e palavrões à parte, o que é certo é que a alcatra de peixe, feita pelo José, é o que faz as pessoas visitarem e voltarem ao restaurante. “Toda a gente quer provar a alcatra de peixe. É um prato regional, feito no alguidar de barro, leva vinho verdelho e depende do peixe fresco do dia. O boca negra [peixe que dá nome ao espaço] tem de ir sempre, assim como o congro, porque tem muitas espinhas”, explica.
Se não quiser ter o trabalho de tirar espinhas, há na ementa a versão sem espinhas. “Mas acho mais saboroso com as espinhas, porque leva mais variedade de peixe”. Tendo em conta que tem feito todos os dias as alcatras, ao longo dos quase 34 anos de existência do restaurante, é de se levar em atenção o seu conselho. Até porque o hábito é tal “que nem sequer as provo”.
A lista de clientes também tem muita variedade. “Já esteve aqui o Bruno de Carvalho, o Pinto da Costa, o Ramalho Eanes e a mulher, o Lito Vidigal esteve cá no ano passado. Muitas pessoas de fora vêm cá e querem provar a alcatra”, enumerou.
A ementa é composta por outros pratos regionais, como polvo guisado, filetes de abrótea, espadarte, lapas grelhadas e cracas. “A tarte D. Amélia é feita aqui, assim como todas as sobremesas. São os empregados que as fazem e a minha filha está a aprender, porque eu não duro sempre”, disse, referindo-se a Melinda Soares que está agora responsável pela sala. Quanto a vinhos, o destaque também é dado aos regionais, “especialmente do Pico e da Terceira”, ainda que haja outros tantos do continente.
O espaço, que abriu a 3 de agosto de 1986, depois de José ter regressado dos EUA com o sonho de “abrir um restaurante com pratos regionais da ilha”, foi renovado em 2019 e tem capacidade para 46 pessoas, “mas pode ir, no máximo, até às 60”.
José Leal Soares está na cozinha ao almoço e ao jantar. Quando é que folga, perguntamos nós? “Quando quisermos. Fechamos quando estamos cansados”, disse, prontamente. E se Cristiano Ronaldo – o único que José gostava de conhecer – vier ao restaurante? “Mandava-o servir-se na mesma”, remata. É que o Boca Negra é bom, é bom, é! Diz a ilha Terceira, diz a IN e diz o José.