Ainda a dar os primeiros passos, a Tasca Ramo Grande, nas Lajes, é um conceito inovador. Além de apostar no setor cervejeiro, ao estilo de um ‘pub’, tem carne maturada e peixe fumado, que não é usual ver na restauração dos Açores.
Miguel Linhares, guia turístico, é um apaixonado por cerveja. Ciente da lacuna que existia no arquipélago (mais ‘dado’ ao vinho), decidiu criar um restaurante e bar na freguesia rural de Ramo Grande, na Vila das Lajes, ilha Terceira. A porta abriu-se em setembro de 2019, mas o balanço já é bem positivo. “Sou, de longe, a casa dos Açores que vende mais cervejas. Tenho casa cheia aos fins-de-semana, com as mesas cheias de cerveja, em vez de vinho. Isso não é habitual”, confessou o proprietário. Trabalhador,
em tempos, na restauração, “ficou sempre o bichinho de investir num projeto muito semelhante a isto”. Ou seja, uma espécie de ‘pub’, com essa estética e a oferta variada de cervejas e petiscos regionais, tendo ainda música ao vivo ao fim-de-semana. No fundo, “um restaurante com um bom bar”.
A ideia era abrir no centro de Angra do Heroísmo, mas a oportunidade surgiu na Vila das Lajes e tem sido bem aproveitada. “Estamos muito perto do aeroporto, mas também da Base das Lajes. São muitos clientes americanos que vêm cá. O conceito é muito pouco habitual nos Açores. Na Terceira não há igual, especialmente com este core business das cervejas”, continuou Miguel. Para quem não conhece, Ramo Grande, no nordeste da Terceira, “era o celeiro da ilha. Agora é um enorme dormitório, o que traz algumas vantagens: os portugueses que trabalham nas Lajes e os americanos que saem do trabalho vêm cá tomar um copo. Penso que isto no verão fará a diferença”.
Na tasca Ramo Grande existem mais de 100 variedades de cervejas, “com referências da Bélgica, Alemanha, EUA, Austrália e República Checa” e marcas artesanais portuguesas. Apesar de ser uma tarefa injusta, Miguel destaca a “cerveja artesanal Brianda, da ilha Terceira, que é excecional”. Mas para acompanhar o bife tomahawk (bife grande com um quilo de costelão), uma das grandes apostas gastronómicas deste espaço, costuma aconselhar a cerveja preta alemã Köstritzer. “É suave, bebe-se bem e enquadra muito bem com a carne maturada. Alguém que venha cá, aconselharia esse prato, que tem de ser mal passado, e a cerveja”, confessou o dono.
Este é dos poucos espaços onde se pode comer carne maturada Angus e Limousine – e pontualmente da raça de gado bovino Ramo Grande, a única raça bovina autóctone dos Açores e conhecida por ser de grande porte – e peixe fumado dos Açores. “A minha grande aposta é a carne dos Açores e maturada, como o tomahawk e o t-bone [tipo de corte do bife, sendo o osso em forma de ‘T’]. Isso faz a diferença do menu. Também quis apostar no hambúrguer com carne local, feito por nós, assim como o pão, que acaba por ser um ponto forte da casa”, descreveu Miguel Linhares. Quanto ao peixe fumado dos Açores, trata-se do “produto de um amigo meu, de uma empresa nova. É atum, cavala, chicharro ou lírio e fumam depois. Sou dos poucos restaurantes nos Açores a vender isso”.
Ciente do conceito e oferta inovadora da Tasca do Ramo Grande, mostrando assim “o que de melhor se faz nos Açores, mas também as coisas novas”, Miguel não tem dúvidas. “Em parte estamos a educar o público em algo que não é muito português: o setor cervejeiro”, sintetizou.