Com a alteração territorial, em 2013, Luz de Tavira e Santo Estêvão passaram a União de Freguesia. À frente dos seus destinos está José Liberto Graça e o seu Executivo. O presidente sente que a união de freguesias trouxe um novo alento e maior proximidade entre as pessoas, principalmente nesta altura tão peculiar que o país atravessa.
Comecemos esta entrevista por lhe pedir que dê a conhecer aos nossos leitores as freguesias de Luz de Tavira e Santo Estêvão.
Começo por Santo Estêvão. Em conformidade com a divisão territorial efetuada no século XVI, foram criadas na área da Freguesia de Santiago
de Tavira três freguesias, respetivamente, Santa Catarina da Fonte do Bispo, Nossa Senhora da Luz e Santo Estêvão, todas elas sufragâneas de Santiago. Santo Estêvão foi desanexada no final do século XVI. De características geográficas únicas, esta freguesia integra um vasto património natural e um património arquitetónico que dignifica o contexto em que Santo Estêvão se ergue. A freguesia desde sempre foi constituída por uma população essencialmente agrícola, mas tinha na caça uma fonte não só alimentar, como de rendimento, pois grande parte dos terrenos da freguesia encontravam-se incultos, cheios de mato e pedras, fatores que reuniam excelentes condições para esta prática. Diz o povo que o próprio Rei chegou a vir caçar para estas paragens. O seu desenvolvimento verificou-se com maior incidência no início do século XX. Foram-se fixando indivíduos com as mais diversas profissões, todas elas enquadradas no meio rural onde estavam inseridas, como era o caso dos ferradores, sapateiros, carpinteiros, ferreiros, pedreiros, comerciantes, costureiras, oleiros, abegãos, curandeiros, além dos agricultores, todos constituindo uma comunidade populacional.
Das atividades artesanais que ainda, perduram, destaca-se a cestaria em verga ou cana, as rendas, cadeiras em tábua e a destilaria. Já Luz de Tavira, uma freguesia do concelho de Tavira, da qual dista seis quilómetros, está delimitada a sul pela Ria Formosa, a norte pela freguesia de Santo Estêvão, a nascente pela freguesia de Santiago e a poente por Moncarapacho. A constituição da freguesia remonta ao século XVI e esta é conhecida devido à atividade agrícola aí existente ser muito intensa. Desde sempre a freguesia de Luz de Tavira é rica em pomares e são vários as quintas onde a água era abundante. A macadamização da estrada Faro – Vila Real de Santo António e o desenvolvimento dos transportes vieram catapultar a freguesia para o topo em termo de população e riqueza.
Após ter cumprido todos os requisitos necessários, a freguesia, no dia 19 de Abril do ano 2001, passou a ser elevada à categoria de vila. Com este novo estatuto, os habitantes esperam ver um crescimento da freguesia a nível económico bem como a preservação do seu património edificado e ambiental, de modo a evitar um urbanismo desenfreado e sem qualidade.
O património é um dos elementos mais importantes nestas duas freguesias mas acredito que a que suscita mais curiosidade por parte de visitantes e habitantes seja o Pego do Inferno, tanto pela sua cascata, como pelo belíssimo lago que dela surge. Contudo, que outros elementos considera de visita obrigatória?
Sim, de facto, a cascata suscita muito interesse. A Cascata do Pego do Inferno é a maior de um conjunto de três cascatas (Cascata do Pomarinho e Cascata da Torre) formadas em tufos calcários existentes na ribeira da Asseca em Santo Estêvão. Tufo calcário é um tipo de rocha formada em águas de origem cársica que após perderem dióxido de carbono ficam sobressaturadas em carbonato de cálcio que se acumula no fundo de cursos de água, em cascatas, lagos ou qualquer outro ambiente aquático. Esta cascata, uma das mais curiosas de Portugal, cuja queda de água não é muito alta, pois ronda apenas os três metros e dá origem a uma lagoa de tons verdes azeitona. Cor quente e mediterrânica que lhe advém da profundidade das suas águas e da cor dos terrenos e da vegetação onde se insere.
Numa visita mais atenta por Luz de Tavira, o turista constatará
que o passado histórico da freguesia está refletido no seu património arqueológico e arquitetónico edificado, no qual se destaca Igreja Paroquial de Luz de Tavira, os Vestígios da antiga cidade romana de Balsa, a Torre de Aires ou Ares e a Ermida de Nossa Senhora do Livramento. E em termos de gastronomia. O que têm os nossos leitores
que provar aquando de uma visita?
A nível da gastronomia, os enchidos e outros derivados do porco, o pão caseiro, os doces regionais de amêndoa e os frutos secos marcam os sabores desta zona do Concelho. A Feira de Artesanato da Luz de Tavira e a Feira Franca Anual de Santo Estêvão marcam os principais eventos da região.
Que balanço faz da sua importância para a freguesia e seu dinamismo?
Ambas as Feiras são importantes para a freguesia, pois permitem divulgar, mostrar e promover os nossos produtos regionais. Geralmente são sempre bem sucedidas visto ser em épocas onde ainda temos os emigrante por cá e permite juntar muitas famílias nestas ocasiões.
Não é possível fugir à questão do momento: covid-19. De que forma está o Presidente, o seu Executivo e demais equipa a ajudar os fregueses num momento tão sui generis?
O primeiro paso foi criar um Plano de Contingência. Fizemos a aquisição de material de protecção individual para atribuição aos colaboradores e instituições (máscaras, viseiras, luvas e álcool gel). Numa primeira fase, o atendimento ao público foi assegurado através da comunicação via mail, telefone ou correio, numa segunda fase abrimos em dias alternados. Neste momento estamos a trabalhar nas instalações em horário normal com a execução de divisória em acrílico para permitir retomar o atendimento presencial.
O cemitério passou a estar aberto apenas para funerais, com limitação de pessoas no dia do funeral. Finalmente, houve a criação da iniciativa “TAVIRA SOLIDÁRIA”, um apoio destinado à população em situações de isolamento, do grupo de risco e sem suporte familiar com a aquisição de alimentação e medicação, idas à farmácia, marcação de consultas pedidos de receituário. Fizemos ainda a distribuição à população de máscaras
gratuitamente.
E falando do futuro, como acredita que encontraremos Luz de Tavira e Santo Estêvão no final do seu mandato?
No final, penso e acredito que a freguesia, com esta situação do COVID 19, irei ter uma freguesia mais unida, mais solidária, visto tratar-se de uma União de Freguesias.