A Ovibeira – Associação de Produtores Agropecuários, foi fundada em 1984 por produtores de ovinos dos concelhos da Beira Interior Sul. A Associação apresentou à IN as raças de ovino Merino Beira Baixa (MBB) e Charnequeira.
A atividade pecuária é de grande importância económica na região e tem um significado muito relevante na identidade cultural e na vida rural das populações. Os ovinos e caprinos, apesar da diminuição dos últimos anos, continuam a ser das espécies mais exploradas na região da Beira Interior Sul, atingindo, atualmente, cerca de 140.000 animais. Esta atividade pecuária emprega cerca de 4.000 pessoas na região, sendo em muitos dos casos explorações de cariz familiar e, posteriormente, a única fonte de rendimento de algumas famílias.
A Ovibeira é a associação mais representativa do sector agropecuário na região da Beira Interior, e tem como principais objetivos:
Um dos principais objetivos desta associação é prestar serviços nos efetivos dos associados, nomeadamente no que se refere à saúde e bem-estar animal e na promoção socioprofissional dos seus associados. Além disso a Ovibeira pretende incentivar a produção de leite e carne, e o seu melhoramento qualitativo. Ressalva-se ainda que o grande objetivo, e também o grande desafio é promover a conservação e melhoramento das raças autóctones locais – o Merino da Beira Baixa e Charnequeira.
É na defesa e promoção destas duas raças, que se centra uma das principais atividades da Ovibeira, assumindo desde logo a gestão dos Livro Genealógicos, e a elaboração e implementação do programa de melhoramento genético das raças. Dentro das ações de melhoramento, destacam-se os controlos de performance, contrastes leiteiros, avaliação genética e demográfica, caracterização de características de interesse e indesejáveis, exames de paternidade, genotipagem e inseminação artificial. A Ovibeira colabora também com o Banco Português de Germoplasma Animal e realiza, anualmente, várias ações de promoção das raças nos Concursos Nacionais – com exposição dos melhores exemplares de cada raça.
Raça Charnequeira
Estudos indicam que esta raça procede da Cabra Aegagrus, tendo mais tarde recebido influência do tronco Pirenaico. Porém há opiniões que dizem ser a Cabra Charnequeira descendente da Cabra Falconeri ou da sua representante na Europa – a cabra palustre de Reitimagri ou Capra hircus sterpsicerus ou Cética de August. A raça Charnequeira deve o seu nome à zona onde é explorada – a Charneca.
A cabra Charnequeira é explorada na sua dupla aptidão, carne e leite, e apresenta um padrão morfológico em que se destaca a sua capacidade respiratória e digestiva, o que lhe permite ter uma boa aptidão leiteira. É um animal de estatura média com membros robustos que lhe confere uma boa capacidade de adaptação a terrenos marginais ricos em vegetação arbustiva.
Face ao grande incremento na produção de leite de ovelha e à grande concorrência dos produtos derivados dele, existe uma crescente procura de leite de cabra, muito devido à facilidade de escoamento dos queijos tradicionais, porém, esta procura não tem sido acompanhada pela oferta.
Em termos de produtos de qualidade o leite de cabra pode ser usado no fabrico de queijo à “Cabreira” de Castelo Branco (DOP). Já para a carne existe o ‘Cabrito da Beira’ como produto IGP (produtos tradicionais portugueses).
Raça Merino Beira Baixa
Não está perfeitamente aclarada a origem do Merino da Beira Baixa, podendo encontrar-se mais do que uma hipótese. Parece não haver dúvidas de que esta raça tem grande influência do Merino Espanhol. Os ovinos bordaleiros comuns existentes no Alto Alentejo e a ovelha Serra da Estrela poderão ser os ascendentes do Merino da Beira Baixa.
Esta raça continua a ter uma enorme importância para a agricultura regional, e é também uma das poucas soluções para ocupação de terrenos pobres e com grande dimensão onde se pratica o sistema extensivo de percurso.
O Merino Beira Baixa é explorado na sua tripla aptidão carne, leite e lã, e apresenta um padrão morfológico em que se destaca a sua pequena estatura. A lã merina é de elevada qualidade, com uma estrutura robusta que lhe confere uma grande rusticidade.
Na região da Beira Baixa, em termos de produtos de qualidade, o leite de ovelha MBB pode ser utilizado no fabrico de queijo de Castelo Branco (DOP). Para a carne MBB é também usado o “Borrego da Beira” como produto IGP.
Atualmente verifica-se uma diminuição significativa de efetivos de Ovinos e Caprinos assim como de produtores, fruto da falta de mão-de-obra e falta de valorização dos produtos de excelência que delas derivam. É de ressalvar os modos de produção sustentáveis destas raças, respeitando o bem-estar animal e a biodiversidade dos ecossistemas.
Apesar da sua grande relevância na região, as duas raças correm um sério risco de extinção a médio prazo, torna-se urgente aumentar os incentivos à sua produção e exploração apostando claramente numa valorização dos seus produtos. Para tal, acreditamos ser possível criar cadeias distribuição de proximidade e outras que façam chegar aos centros urbanos produtos diferenciados e de altíssima qualidade.
“Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo…”
Fernando Pessoa