Aquele que é o mais célebre dos mártires hispânicos – único que se encontra incorporado na liturgia da igreja universal -, foi desde cedo objeto de um culto amplamente difundido.
As relíquias de São Vicente, que morreu a 22 de janeiro do ano 304 (dia onde agora se celebra a sua vida), chegaram a Portugal no século VIII. Quando Lisboa foi conquistada aos mouros, D. Afonso Henriques cumpriu a promessa de trazer as suas ossadas de Sagres para Lisboa e erguer uma igreja em sua memória.
A nau que trazia as ossadas do Santo, em 1173, terá sido protegida por dois corvos, imagem que ficou associada ao símbolo da capital portuguesa. Mas a história de São Vicente enquanto localidade do concelho de Braga, sendo freguesia desde 6 de dezembro de 1933, tem raízes mais antigas, pese embora só tenha visto a restauração da sua paróquia em 1926.
Aquela que é uma freguesia urbana forte em comércio e serviços é liderada atualmente pelo presidente da Junta Jorge Pires. O futuro, esse, rima com inovação.
ANTES
Quando São Vicente subiu ao posto de freguesia, em 1933, juntava-se, então, à numerosa família territorial que compunha o concelho de Braga, num total de 62 freguesias (agora são 37). Urbana, juntamente com outras oito freguesias, S. Vicente (que não sofreu alterações após a reorganização administrativa local) é forte em comércio e serviços e rica em registos que dão respeitável antiguidade.
Tem como vizinhas as freguesias de S. Vítor (a leste), Palmeira (a nordeste), Dume (a noroeste), Sé (a ocidente) e S. João do Souto e S. José de S. Lázaro (ambas a sul).
Com quase 16 mil habitantes, ocupando 142 hectares, tem a maioria da sua população espalhada por bairros e lugares: Misericórdia, Nossa Senhora do Monte, Andorinhas e Quinta das Fontainhas, Boavista, Confeiteira e S. Romão. Rezam documentos históricos que numa extremidade que S. Vicente partilha com a freguesia de Dume haverá um outeiro castrejo com vestígios de estruturas defensivas, hoje pouco pronunciadas.
Nessa elevação existiria o “Castro Máximo”, já referido em termos documentais no ano de 873. Atualmente tal outeiro está muito alterado devido à exploração de granitos.
Como referência da romanização, refiram-se os fragmentos de tijolo e tégula que terão sido recolhidos no lugar de Montariol, junto à designada Fonte de S. Vicente. No Museu Pio XII há uma ara votiva dada como proveniente desse lugar. Outro vestígio será um fragmento de inscrição romana encaixado “sob as escadas fronteiras à Igreja Paroquial de S. Vicente”, conforme A. Bellino noticiou em 1895.
As raízes de S. Vicente são tão desconhecidas como as do concelho de que, urbanamente, faz parte. E ninguém tem respostas sobre as origens e os primeiros povos que povoaram Braga, cuja história é bimilenária, mas recheada de lendas que a ausência de documentação forte sustenta. Segundo dados documentais, a história do concelho bracarense só se pode fazer, em consciência, a partir da dominação romana. Graças ao geógrafo Cláudio Ptolomeu pode ter-se como referência certa que, quando as legiões romanas “avassalaram a Península, vieram encontrar em Braga uns povos a quem denominaram de Bracaros”. “Povo heroico e valente, sediados nos cimos dos montes, nos castros, depressa desceram dos píncaros e assimilaram nova civilização trazida pelos romanos. E de tal modo assimilaram que, quando César Augusto, os pacificou – 45 anos aC – lhes concedeu prerrogativas especiais, considerando-os, tais como os cidadãos de Roma e à cidade deu o título de Bracara Augusta”, lê-se em documentos oficiais.
“Depois, mais tarde, ao dividirem a península, criando a Província da Galécia, o imperador romano Caracala eleva a Bracara Augusta a capital da nova província”.
AGORA
É vasto o património cultural e de interesse turístico desta freguesia, que festeja o padroeiro, com o mesmo nome, de 21 para 22 de janeiro. Seria grave não referir, à partida, a Casa do Vale das Flores ou de Infias, conjunto da Praça Mouzinho de Albuquerque ou Campo Novo, a Igreja de S. Vicente, a Igreja do Carmo (que mereceu, recentemente, obras de restauro no seu interior), a Igreja de Santa Teresa, a Capela de S. Romão, o Nicho do Senhor do Socorro e a Fonte do Mundo.
E, quanto mais não seja pela curiosidade que devoções locais merecem, lembrem-se os nichos do Senhor das Ânsias, de Nossa Senhora do Monte (no bairro com o mesmo nome), do Sagrado Coração de Maria (no Bairro da Misericórdia) e a Capela do Senhor das Injúrias como motivos de visita.
A Casa do Vale das Flores (ou de Infias) localiza-se num edifício de arquitetura seiscentista, num interessante conjunto de três corpos que um muro ameado circunda. No seu portal há um brasão com as armas de Pacheco Pereira e Robys. Desde 1977 é considerado Imóvel de Interesse
Público.
A parte mais preciosa da história da freguesia estará, todavia, gravada numa pedra da igreja paroquial. Melhor, estará registada numa das suas cartelas (pedras lapidares de fachada). Nela se gravou o ano de 618 como data do aparecimento de um templo naquele local e que terá sido dedicado ao mártir São Vicente, orago da freguesia. Em tal pedra está escrito: “Aqui descansa Remismuera desde o primeiro de maio de 618, dia de segunda-feira, em paz, amén”. Diz-se que é o monumento autêntico do Cristianismo em Braga.
A pedra que hoje encontramos embutida na parede da sacristia da igreja é a única prova de que tal templo existiu. Foi em 1565 que a igreja paroquial foi reedificada, passando a filial da Santa Igreja de Roma em 1598 e ganhando respetivos privilégios. Em 1691, a igreja paroquial foi objeto de restauro e hoje pode admirar-se a sua frontaria barroca, que contém um exuberante trabalho de cantaria e onde se pode ver uma imagem do padroeiro. Dentro do templo aprecie-se os azulejos com quadras da vida de S. Vicente, o retábulo da capelamor (de Miguel Coelho), a talha do arco-cruzeiro, o coro e órgão (tudo desenhado por Carlos Amarante).
Diga-se que a igreja paroquial de S. Vicente foi considerada Imóvel de Interesse Público em 1986. Os miradouros do Sagrado Coração de Jesus (na Rua de Camões) e de Monte Castro (na Avenida Artur Soares) são outros dos pontos de interesse turístico.
AMANHÃ
Inovação é a palavra de ordem quando aqui se fala de futuro. Comecemos pelo BUILD (Braga Urban Innovation Laboratory Demonstrator), projeto de inteligência urbana que cria um ambiente de inovação e é promovido pelo município de Braga com o suporte de parceiros científicos.
Integrado no programa Laboratórios Vivos para a Descarbonização, apoiado pelo Fundo Ambiental, o projeto – que custa 800 mil euros – promove o desenvolvimento, validação e teste de novas tecnologias, serviços e respetivas aplicações em contexto real, tendo em vista reduzir as emissões de gases com efeito estufa e a intensidade carbónica provenientes das atividades e serviços realizados neste espaço.
Isto irá resultar em: iluminação pública eficiente e inteligente; gestão de tráfego; contadores inteligentes; produção de energia para autoconsumo; compostagem/aproveitamento de águas pluviais e monitorização de consumos.
O ‘School BUS’ é um exemplo dos projetos financiados no âmbito do BUILD e será o maior responsável pelo impacto ambiental da alteração de comportamentos. O objetivo é transportar de forma segura os alunos, ligando as quatro principais entradas de Braga às escolas através do autocarro, reduzindo assim o congestionamento automóvel no perímetro escolar.
Ainda no âmbito do BUILD, a freguesia, em conjunto com o município, promoveu uma sessão pública com a população do Pachancho para o desenvolvimento de Projetos Colaborativos a implementar que se intitulou “(Re)pensar as ruas do Pachancho”. Foi um passo fundamental para garantir a implementação de medidas coerentes e que tenham um impacto verdadeiramente positivo no quotidiano das pessoas.
O futuro de São Vicente também se quer com sustentabilidade. No
âmbito do aviso Juntar+ do Fundo Ambiental, a Junta de Freguesia
concorreu à implantação de uma horta urbana, que abrange as três dimensões do desenvolvimento sustentável (económica, social e ambiental) com a consequente: promoção e valorização de recursos locais; promoção de circuitos curtos de produção e consumo; educação produtor/consumidor;
promoção do uso eficiente dos recursos; promoção de uma alimentação saudável; inclusão e envolvimento da população nos novos modelos colaborativos (escolas, associações, etc.); reutilização e extensão de vida útil
de produtos e equipamentos; educação socioambiental da população.
A Horta Urbana de São Vicente, que contou igualmente com o
apoio do município de Braga, está organizada com uma entrada e área
delimitadora, zona comum e talhões/parcelas com uma área mínima de
20 metros quadrados. Atualmente e, devido às questões relacionadas com a COVID-19, o projeto de entrega dos talhões tem vindo a ser sucessivamente adiando, no entanto, a Junta de Freguesia garante estar já em condições de entregar às famílias os cerca de 60 talhões. E é assim, com estes talhões, que se marca a próxima etapa da cultura na freguesia de São Vicente.