Máscara do vilão de Batman passou a ser usada por quem tem protestado contra o sistema político em vigor em vários países do mundo. Tudo devido à personagem que Joaquin Phoenix criou para o filme ‘Joker’.
A máscara de Joker, ainda com a cara da personagem feita pelo falecido ator Heath Ledger em ‘The Dark Knight’ (2008), é um must-have em quase todos os Carnaváis. Afinal estamos a falar de um dos maiores vilões da história.
Este ano seria de esperar que dominasse os disfarces de Halloween, pois o filme ‘Joker’, interpretado magistralmente por Joaquin Phoenix, estreou em outubro. Mas o fenómeno foi muito além disso. Agora, a máscara do vilão de Batman é o novo símbolo dos protestos políticos e do anti-sistema.
O fenómeno foi constatado pela CNN que, como tem dado cobertura noticiosa aos protestos por todo o mundo, percebeu que tem havido manifestantes mascarados de Joker. Quer seja América Latina, quer seja Médio Oriente ou mesmo Hong Kong. Ao ponto de, na rede social Twitter, já haver a hashtag #JokerProtests (protestos do Joker).
O que une todos estes manifestantes que têm incendiado, literalmente, as suas batalhas? A luta contra o sistema político atual. Para quem viu o recente filme da Warner Bros. – para quem não viu, pode ler a crónica que fizemos no nosso blog -, o foco está na forma como a sociedade e o Estado trataram ‘Arthur Fleck’, um doente mental que se transforma no palhaço assassino e psicopata que é ‘Joker’. No fundo, um paralelismo entre a ficção e a realidade atual.
Passemos aos exemplos. No Iraque, onde se luta contra a corrupção, um designer usou a imagem do Joker para criar imagens que se têm tornado num dos símbolos dos protestos.
No Líbano, onde cada vez mais se protesta contra o governo devido ao mais recente pacote de medidas económicas, a personagem Joker é uma representação fiel dos sentimentos do povo, que se sente oprimido e frustrado.
Em Hong Kong, que desde há meses contesta a lei da extradição para a China, as pinturas faciais características de Joker até foram uma forma de contornar a proibição de usar máscaras em manifestações, punível até um ano de prisão.
No Chile, que atravessa a crise política e social mais profunda dos últimos 30 anos da sua história depois do governo ter decidido aumentar o preço dos bilhetes de metro num país já de si com um custo de vida bem superior ao que a população consegue suportar, vê-se Joker em todo o lado. “O Joker é uma personagem incompreendida, vulnerável e abandonada. Os chilenos, os que não pertencem a uma classe social privilegiada — que são a maioria de nós — sentem-se da mesma forma”, disse uma manifestante à CNN.
A revista norte-americana Wired também quis perceber um pouco mais o fenómeno, que comparou a outros como a máscara de Dali da série ‘La Casa de Papel’, a máscara de Guy Fawkes de ‘V de Vingança’ ou as vestes longas pretas da série ‘The Handmaid’s Tale’.
Em conversa com Mattias Frey, académico especialista em cinema e comunicação, percebe-se que a personagem se abre à interpretação de cada espectador. Na vida real, Joker está a ser o rosto da luta contra o sistema, mas no filme não há qualquer ideologia política.
“É como uma tela em branco onde podemos projetar as nossas próprias preocupações”, resumiu o académico. E em 2019 são várias as preocupações. Um pouco por todo o mundo.