Almeida é uma verdadeira ‘Capital Napoleónica da Península Ibérica’, ao nível da promoção e da divulgação do património histórico-cultural alusivo ao período das Invasões Francesas. Em entrevista à In o presidente António Machado falou sobre a aposta no turismo militar para a promoção da região.
O que podemos encontrar no concelho, nesta índole?
Dentro dos testemunhos arquitetónicos/materiais começamos por referir aquela que do ponto de vista militar é a mais singular, a Fortaleza Abaluartada de Almeida. A concretização desta moderna fortificação fronteiriça na raia de Portugal, como desígnio e condição de sucesso da secessão portuguesa, inicia-se com a imediata decisão da fortificação. Quer isto significar que Almeida poderia ser esse enorme quartel de 2500 a 3000 homens.
Dentro das linhas da fortificação encontra-se o campo arqueológico com as ruínas do Castelo Medieval de finais do século XIII, aí residindo extraordinário interesse acerca da evolução da arquitectura militar em Portugal, a par da ideia identitária da fronteira expressa no Tratado de Alcanices, em 1297.
Destaca-se também a ponte sobre o rio Côa, esta sólida obra, foi refeita em 1825, após os estragos causados pelos combatentes da Terceira Invasão Francesa e ainda se mantém de pé. Ainda no contexto do turismo militar, a Casa de Lord Wellington, Freineda pode ser visitada sobre a temática das Guerras Peninsulares.
No concelho destacam-se também as aldeias de Castelo Bom e Castelo Mendo. A primeira teve um papel primordial na defesa da integridade Nacional. Por lá existe um Miradouro que oferece ao visitante uma magnifica vista sobre o Vale recortado do Côa. Já a aldeia Histórica de Castelo Mendo, outrora sede de Concelho, teve talvez das primeiras Feiras Medievais Portuguesas e foram vários os monarcas que olharam para aquela outrora Vila concedendo-lhe vários privilégios. Todos os recantos desta aldeia nos oferecem histórias e valem seguramente a pena uma visita.
Anualmente, podemos ‘vivenciar’ o Cerco de Almeida, uma recriação histórica que nos remete à história militar do país. É por demais evidente o património militar que aqui encontramos…
O Município de Almeida, tem vindo a apostar, há mais de uma década, na realização de eventos histórico-culturais, em colaboração com o Grupo de Reconstituição Histórica do Município de Almeida (GRHMA), uma associação cultural composta por recriadores históricos exclusivamente voluntários. A entrega dos membros do Grupo e dos recriadores convidados, ao preencherem o cenário grandioso da fortaleza com centenas de recriadores em ação, transporta o monumento para uma atualização da explicação da sua razão de ser.
Dentro destas recriações o Cerco de Almeida será o mais especial e possui múltiplas dimensões culturais que, uma vez conjugadas, se traduzem em resultados francamente positivos, tais como: a reconstituição de um acampamento histórico; a realização da messe de soldados e oficiais; o baile oitocentista; as batalhas e combates histórico-militares; as cerimónias e evocações; e o Mercado Oitocentista.
Que outras iniciativas promove a Câmara Municipal com o intuito de dar a conhecer este lado a quem visita Almeida?
Para além dos serviços educativos e dos seus equipamentos (MHMA, BMMNR, CEAMA) promove iniciativas de exploração de monumentos e locais. A título de exemplo a Feira Medieval de Castelo Mendo incluído no Ciclo de eventos ‘12 em Rede Aldeias em Festa’. Como eventos o ‘Cerco de Almeida’ é sem dúvida uma espécie de ‘Joia da Coroa’. No entanto, ao longo dos anos, o Cerco de Almeida tem sido complementado com múltiplas e diversas outras iniciativas histórico-culturais. Uma das mais relevantes é o evento denominado Escola do Soldado, que por via de regra se realiza no mês de março de cada ano.
Este ano está em fase de planeamento a implementação de mais um interessante e inovador projeto, denominado de ‘Rota Equestre Histórico-militar entre Almeida e o Bussaco’. Trata-se de uma iniciativa associada à reconstituição do percurso de retirada das tropas francesas no ano de 1810, após o termo do Cerco de Almeida. Trata- se de uma iniciativa com um cariz intermunicipal, com uma projeção que ultrapassa, em muito, a fronteira do Concelho de Almeida.
Outro projeto inovador que será implementado este ano tem a ver com a criação de um núcleo histórico- militar evocativo da chamada Guerra da Restauração (1640 – 1668), que envolveu Portugal e Espanha em meados do século XVII. Esta dinâmica e conjunto de iniciativas culturais está em grande medida dependente do contributo de um conjunto de cidadãos que, em regime de voluntariado, fazem parte da associação cultural sem fins lucrativos – GRHMA. Trata-se de um conjunto de pessoas que colaboram de um modo efetivo e relevante, na promoção e divulgação do património do Concelho de Almeida.
O turismo continua a ser extremamente importante para a economia nacional. É daí que advêm todas estas iniciativas e promoções?
Sem dúvida que o Turismo é um sector importante para o Concelho de Almeida, que pretende com isso diversificar e dinamizar a economia local. A Câmara Municipal de Almeida tem uma visão de valorização do património histórico e arquitetónico, potenciando deste modo a fixação de pessoas com o surgimento de novos investimentos associados ao turismo.
Qual a realidade em Almeida, no que ao turismo diz respeito? E no que concerne ao turismo militar?
Pela localização do Município junto à principal fronteira terrestre portuguesa, queremos ser uma referência do turismo do Interior, oferecendo um turismo diferente, seletivo, procurando a excelência da oferta, no descanso de espírito e corpo. Tendo um património histórico e arquitetónico com um valor universal, a fortaleza de Almeida é candidata a património da Humanidade, está inserida na Rota das Fortalezas Abaluartadas e na Rede Ibérica Napoleónica. Tal como já referido anteriormente, a realização do Cerco de Almeida, é um dos principais eventos desta temática, e ainda a existência do Museu Histórico Militar de Almeida, que são uma referência no que concerne ao Turismo Militar em Portugal, que agora começa a dar os primeiros passos.