No Terra Viva, em Espinho, não se come carne nem peixe. Sofia Ramos, a proprietária, acredita que o vegetarianismo, mais que um tipo de alimentação é uma forma de estar “em sintonia consigo próprio e com a natureza”. Num espaço acolhedor, que nos faz sentir em casa, percebemos que comer só vegetais “não é comer uma comida sem graça ou sem gosto, mas que pode, também ela, estar cheia de sabor”.
“Nada é por acaso”. É assim que Sofia Ramos começa por explicar este seu percurso profissional na cozinha vegetariana. “Há 23 anos, numa altura em que eu não tinha emprego, entrei no primeiro restaurante que tinha um anúncio a pedir empregados, aqui em Espinho, e comecei a fazer lá umas horas. Nessa altura, fiquei fascinada pela forma como se cozinhava, sem carne e sem peixe, e com os pratos que nos faziam ficar igualmente satisfeitos”. Sofia percebeu, desde logo, que se identificava com este tipo de cozinha. “Era um tipo de alimentação que eu própria gostava de fazer. A carne nunca tinha sido o principal do meu prato”. E assim “foi crescendo essa paixão. Mais tarde fui trabalhar para um novo projeto, em Santa Maria da Feira, e por lá também confecionava refeições vegetarianas. Depois, surgiu ainda a possibilidade de abrir em sociedade um outro restaurante”. Mas Sofia queria “voar mais alto” e foi em dois de fevereiro de 2013 que abriu o Terra Viva, em Espinho, o seu “primeiro espaço próprio”.
“Abri este espaço numa altura de crise, mas houve alguém que me disse: não te preocupes. Quando as coisas estiverem melhores, muitas pessoas vão começar e tu já estarás no caminho certo”. E, de facto, tem sido assim. Sofia reconhece que “na altura, foi com muito esforço, muito investimento, mas agora o Terra Viva é uma aposta ganha”. E acredita que a fórmula de sucesso é “ter muito amor e muita paixão ao que se faz. Se assim for “as coisas realmente acontecem. A nossa paixão é imensa, não só minha, mas das pessoas que fazem parte da equipa. Quando não se trabalha dessa forma é mais difícil de vingar”, remata, sem dúvidas.
O Terra Viva é “um restaurante que tenta inovar todos os dias, não só na comida, mas em toda a casa”. Ao longo destes anos, o espaço foi crescendo, “embora ainda seja limitado”, como reconhece Sofia, para o número de clientes que o procuram. “A minha missão é mostrar o que de melhor tem a terra para nos nutrir, sem sacrificar
animais”, avança Sofia. “A terra tem muito realmente que nos dar, mas é cada vez mais importante apresentar os pratos de forma apelativa”. Aos poucos, acredita, “já se começa a desfazer a ideia de que o vegetarianismo é comida aborrecida. As nossas refeições podem ser na mesma comida de conforto”.
No Terra Viva, a preocupação é fazer “o melhor todos os dias, aproveitando, sempre que possível, produtos biológicos, quer frescos, quer secos”. No entanto, Sofia alerta. “Há frutas e legumes que não existem todo o ano. Não vou criar expectativas, dizendo que somos 100 por cento biológicos, porque isso ainda não é possível. Mas estamos atentos para consumir o mais local e biológico que podemos”.
“Ser vegetariano é ir ao encontro, o mais possível, da natureza e estar em sintonia connosco próprios e com ela”. Esta é a filosofia de Sofia e do seu Terra Viva. No restaurante, além de refeições deliciosas, acontecem também imensos workshops e palestras. “A principal temática é desmistificar esse conceito de que este tipo de alimentação é muito caro. Não é. Quando nos alimentamos de forma natural e não com os processados que também existem, percebemos que não é caro. O vegetarianismo é voltar a ser natural. Se se alimentarem como há 40 ou 50 anos, vão perceber que a carne era um adorno. E se fizerem isso, já estão a criar um impacto muito bom a nível mundial, porque o consumo de carne em excesso já iria baixar”.
Mais do que só aquilo que ingerimos, o vegetarianismo tem impacto em nós pelas sensações que provoca. Sofia explica, “toda a comida provoca um impacto emocional. E a nossa saúde é também muito feita disso. Não só do que ingerimos, mas também do equilíbrio emocional que mantemos ao longo de todo o ano. Todos nós temos sensações ou registos da comida da avó, da mãe… mas quando começamos a fazer transição para uma cozinha mais vegetariana vai-se descobrindo esses mesmos sabores com a utilização dos mesmos temperos. Isso comprova que a maior parte dos sabores da comida dita ‘normal’ é sempre conseguida com o que cresce da Terra e com a dedicação e o amor que se colocam na confeção da mesma”.
Sofia não come carne nem peixe “há dez anos”, e isso foi sendo “um processo gradual”, como acha que deve ser para todas as pessoas. “Chega a um dia que é o nosso próprio corpo que já nos rejeita esses alimentos”.
Durante todos os dias da semana, o Terra Viva dispõe de um buffet de almoço, com pratos quentes, sobremesas, vários chás frios e quentes e sumos feitos na hora. Nas noites de sextas e sábados é também possível jantar, com serviço à carta. Cada vez mais os pratos “não incluem glúten” e aproximam-se muito da cozinha tradicional, como é o caso das “massas, feijoada ou lasanha”.
Quanto ao futuro do Terra Viva, Sofia não tem dúvidas de que “será feito de crescimento e evolução. Eu sou muito positiva. No Terra Viva queremos continuar o nosso projeto, evoluir e crescer cada vez mais, todos os dias. Além da comida, queremos alimentar sentimentalmente as pessoas, fazendo-as sentirem-se acolhidas, como se estivessem em casa”.