Empresa fundada em 1928 é a única em Portugal a fazer a distribuição própria de vidro de grandes dimensões – vidro em chapa – Jumbo. Além de trabalhar com as três maiores fábricas europeias de vidro, tem sempre todos os produtos que existem no mercado.
Biseladora do Norte é uma empresa nascida em 1928 e virada para o comércio e indústria. Os tempos mudam, o setor também e assim, desde 2005, os irmãos e sócios José Carvalho e Fernando Carvalho – terceira geração da empresa – aproveitaram uma abertura do mercado para apostarem mais na distribuição do vidro. Eles, que também são importadores de vidro de várias origens, conseguiram ser bem-sucedidos ao ponto de, atualmente, 70 por cento do volume de negócio e trabalho vir da distribuição e 30 por cento da transformação de vidro.
“Existem mais empresas de distribuição, mas algumas com fragilidades no transporte e prazo de entrega. Percebemos que tínhamos espaço no mercado, em vez de ter transporte fretado e estar dependentes dos outros”, explicou José Carvalho. Começaram com um camião, foram somando viaturas aos poucos até chegarem à frota própria de oito pesados. “Temos oito camiões, sendo que dois deles são camiões Jumbo. Temos uma área bastante abrangente: de norte a sul do país, incluindo ilhas. Desde que nos dedicamos à distribuição, o crescimento tem sido notório. Temos um serviço expresso de entrega rápida no mesmo dia, toda e qualquer quantidade e dimensão de produtos”, resumiu o administrador.
Os números não enganam. “Tirando os três players europeus, somos a única empresa em Portugal que faz distribuição própria de vidro Jumbo. Este vidro tem mais metragem quadrada e dá mais rentabilidade”, contou à IN.
Têm uma capacidade de movimentar, todos os meses, cerca de 80 a 90 camiões de 24 toneladas cada, o que é um “número ímpar em Portugal”. “É uma estrutura que fatura muito, trabalha muito, mas também gasta cinco mil litros de gasóleo por semana e paga 30 salários mensais. Gastamos 20 mil litros de gasóleo por mês na distribuição. Temos a preocupação de servir a necessidade de cada cliente com a máxima brevidade possível”, enumerou.
Os custos são acrescidos, porém o retorno é positivo. “Trabalhamos com as três maiores fábricas europeias de vidro. Temos sempre uma panóplia de todos os produtos que existem no mercado. Num camião conseguimos encapotar produtos exclusivos de cada uma dessas fábricas. A Biseladora tem essa capacidade”.
Por isso é que começaram a funcionar num pequeno espaço na rua Formosa, no Porto, passando depois para umas instalações novas em Serzedo, Gaia, onde funciona ainda o armazém para stock de chapa de vidro. A produção está toda em Grijó desde 2007. “Temos uma área aproximada de 4500/5000 m2, dividida em três áreas distintas: para vidro Jumbo (6 metros por 3,21); para vidro pequeno (3,21 por 2,55); e para stock de contentores de vidro de importação”.
Foi com os netos do fundador José Carvalho da Silva que houve uma evolução tecnológica. “Em termos de armazém temos um custo de dois milhões de euros, por causa das máquinas. Com a 3.ª geração houve um boom na empresa de 2000%. É uma visão de mercado e necessidade de afirmação”, reconheceu um dos atuais gerentes.
José Carvalho sempre teve vocação para o negócio da família, onde trabalha desde 1984, e os resultados estão à vista. “O meu pai – Flórido César de Carvalho – não tinha maquinaria de ponta. Em 1988 compramos a primeira máquina industrial de vidro”, prosseguiu.
A par com o irmão Fernando, gerem uma empresa com cerca de 30 funcionários, dos mais experientes aos mais novos, e todos com “valias duplas” em termos de funções. A Biseladora do Norte é uma firma de sucesso – ainda que José não goste dessa palavra – e isso é “sempre um polo atrativo para os mais jovens”. Como consequência natural são, há já oito anos consecutivos, PME Excelência. “A palavra ‘sucesso’ não me agrada, mas sim o resultado do trabalho feito, faz com que haja amizades que ultrapassem o negócio, independentemente do preço. No momento é ‘A Biseladora’ que lidera uma grande parte do setor”, garantiu. E isso fê-los sobreviver em tempo de crise. “A área da construção já esteve em baixo e já crescemos com a construção em baixo”, exemplificou.
A fórmula é óbvia. “Os novos tempos trouxeram novas tecnologias e temos acompanhado essa evolução”. Isso e “não falhar com os clientes e ter uma boa relação preço/qualidade/serviço”. A aposta é na distribuição, mas a transformação de vidro não foi esquecida. “Neste ramo existem pessoas que fomentaram determinados setores de atividade e deixaram os setores iniciais da sua atividade para trás. Nunca fizemos isso. Nascemos na transformação, estamos na transformação, mas neste momento apostamos mais na distribuição. Tivemos de fazer uma opção: uma transformação mais branda e uma distribuição mais forte”, confessou, acrescentando que “as empresas que tiveram vontade de sair da crise, estão fora da crise”.
Esse pensamento mantém-se no que à AITVPP (Associação dos Industriais Transformadores de Vidro Plano de Portugal) diz respeito. José Carvalho pertence à associação desde 1992, tendo feito parte da direção. “É um trabalho árduo e difícil, mas só é se o fizermos. Se não, o trabalho não é feito”, disse, referindo-se às críticas de alguns empresários do setor e associados quanto à utilidade da AITVPP. “As pessoas, às vezes, têm uma ideia errada da vida empresarial: ‘tudo se faz, mas nada se paga’. A associação tem de se preparar de uma forma financeira para se mostrar no país. E isso é um trabalho que se vai reiniciar agora, sendo que os alicerces vêm de trás”, rematou. Palavra de quem entrou no setor ainda “era uma criança” e de quem faz questão de mostrar ao mundo que “olhamos o futuro”. Mesmo uma empresa que tem 92 anos de vida.