Com mais de 20 anos de atividade e milhares de quilómetros depois e centenas de visitas a obras por todo o país e estrangeiro a PM Barbosa tornou-se numa referência de Norte a Sul do país. Atualmente a empresa está a apostar na internacionalização em países como Espanha, França, Alemanha, Angola e Brasil. Apesar desta aposta as obras entre fronteiras são muitas, como é o caso da Igreja Matriz de São Clemente de Loulé e da Igreja do Colégio de Portimão. Pedro Barbosa falou à IN sobre o percurso da PM Barbosa.
Estão voltados para produção, conservação e restauro. Qual o maior desafio quando se fala no restauro de Património ou de uma peça de arte?
O maior desafio talvez seja fazer entender que o que fazemos é restauro e não ‘pintura’, ou seja, fazer entender que o nosso trabalho passa sempre pelo respeito pela peça e pela sua história. Claro que esta situação não é geral, mas é algo que acontece quando falamos em peças que estão ao culto e cuja sua função é a devoção. Fazer entender que nós não somos pintores e que a nossa profissão tem um grande teor científico e histórico e que está para além da aptidão artística é muito complicado.
Quem conta um conto, acrescenta um ponto. Quem faz uma restauração acaba por acrescentar uma nova história, ou é sempre possível preservar a originalidade de uma peça?
Claro que a nossa intervenção de restauro vai fazer sempre parte da história da peça, uma vez que, vai permitir que a mesma chegue às gerações vindouras. Contudo é possível preservar a originalidade da peça principalmente com a utilização de materiais reversíveis que permitem que em intervenções futuras os mesmos sejam retirados sem causar danos á peça. No fundo um trabalho de conservação e restauro não tem como fundamento a criação de um falso histórico, mas sim a preservação da peça.
Que tecnologias e metodologias utilizam num trabalho de restauração?
Primeiramente é realizada uma observação detalhada da peça a intervir a fim de identificarmos a suas patologias. Antes de tocar na peça é necessário ver se existem destacamentos e caso existam é necessário a realização de uma pré-fixação de todos os pedacinhos que estejam em risco de queda.
Em peças de madeira como retábulos é feita uma consolidação e desinfestação, passamos à limpeza primeiro mecânica para retirar poeiras e sujidades agregadas, depois passamos a uma limpeza química que nos permite remover por exemplo os vernizes oxidados. Claro que uma limpeza química tem por base, sempre, um estudo prévio da superfície a tratar de forma a definirmos o melhor ou melhores solventes para efetuar esta limpeza. Todos os materiais são devidamente estudados e escolhidos não só em função das suas qualidades, mas também em função das necessidades da própria peça, ou seja, compatibilidade entre materiais e reversibilidade. Quando passamos ao preenchimento de lacunas e à reintegração cromática das mesmas o princípio base está sempre presente “respeito pelo original”, ou seja, limitamo-nos às áreas de lacuna única e exclusivamente.
Que razão levou a PM Barbosa a especializar-se na arte sacra?
Há cerca de 20 anos a arte sacra e a conservação e restauro estava longe de ser o que é hoje, era uma novidade essa foi a razão de iniciar a P. M. Barbosa. Conservação e restauro era uma arte (ofício) pouco conhecida e de muito pouco estudo. Curiosidade, vontade de aprender e gosto pelo património artístico foi sempre a base da P. M. Barbosa.
Para além do restauro também fazem a produção. Que tipo de peças fazem? Existe alguma linha que caracterize a vossa produção?
A nível de produção executamos todo o tipo de trabalhos religiosos desde escultura, entalhes, mobiliário litúrgico, estandartes, etc. Respondemos a projetos e executamos os nossos próprios projetos.
Que trabalhos realizados destaca, do portefólio da PM Barbosa? Há algum trabalho que tenha sido especial?
Com mais de 20 anos no restauro não é fácil citar um ou outro trabalho. Mas alguns trabalhos ficaram na memoria pelo gosto de execução e como referência histórica. A intervenção completa nas Igrejas Matrizes de Ramalde, Gião, Refojos e Lamelas todas elas pertencentes à Diocese do Porto. Também a intervenção completa na Capela da Senhora do Carmo foi outro trabalho importante para nós, este pertencente à Cúria de Vila Real, e a intervenção parcial na Igreja Matriz do Divino Salvador de Ribeira de Pena na Diocese de Vila Real. Intervenção completa da Igreja Paroquial de Pêra na Diocese do Algarve. Quanto a peças novas temos por exemplo a construção da escultura de Nossa Senhora da Conceição com 230 cm para a Paróquia de Alcabideche ou a construção de duas imagens de Nossa Senhora das Águas para a Diocese de Luanda, execução de diversas peças de entalhe para a Catedral de Ourense em Espanha. O Restauro do altar e esculturas da paróquia de Coimbra e Mesquitas na Diocese de Ourense.
Portugal tem feito o possível na conservação do seu Património e da sua história?
Portugal tem feito progressos na conservação do património, mas ainda existe muito a fazer. O crescimento do turismo veio ajudar a que houvesse um maior interesse pela conservação do património, no entanto, o investimento ainda é pouco e apenas em grandes edifícios deixando por vezes um pouco de lado património mais pequeno que sobrevive ate aos nossos dias com a ajuda de benfeitores e comunidades que se unem para promover o seu restauro fazendo com que os mesmos sejam eles edifícios, esculturas, pinturas ou retábulos passem para as gerações futuras e, claro, com eles passam também a sua história que é nossa função ajudar a preservar.
O que falta fazer no contexto da restauração de património?
Primeiro de tudo reconhecer a profissão de Conservador Restaurador que neste momento não é reconhecida por todos, apesar de ser um curso superior. Segundo, entender que é através da conservação e restauro do património que preservamos a nossa cultura, história e identidade.