O Dia Internacional da Mulher, celebrado a 8 de Março, é uma data que homenageia as conquistas das mulheres e lembra o longo percurso que ainda existe até ser alcançada a igualdade de género. Mas sobretudo no mundo ocidental muitas mulheres vão já fazendo o seu caminho de liderança e empoderamento que durante tantos séculos lhes foi negado pela sociedade.
Basta abrir as redes sociais a 8 de Março para nos apercebermos se não de uma resistência pelo menos de uma certa ambiguidade que a data provoca. Há quem diga “preferir respeito a flores” ou lembre que o dia da mulher é afinal todos os dias. Porque é-o, de facto, dado os múltiplos papéis que são esperados do género feminino. É também uma data em que como noutras efemérides aparecem muitos números no espaço público mediático.
Em Portugal as mulheres têm menos 61 dias de trabalho remunerado do que os homens: é o que significa ganhar, em média, menos 16,7% (dados de 2015) do que os homens. Há mais de 30 anos que Portugal tem mais mulheres licenciadas do que homens só que o diferencial salarial entre homens e mulheres é ainda maior nos trabalhos que exigem qualificações mais elevadas.
Mas num mercado laboral onde subsistem desigualdades e discriminações surgem pequenas luzes ao fundo do túnel. Tem havido uma tímida aproximação salarial, segundo a Comissão para Igualdade no Trabalho e no Emprego. No último 8 de Março, a CEO da SONAE Cláudia Azevedo revelava que, no final de 2020, 36% das posições de liderança naquele grupo económico já eram assumidas por mulheres.
Há quem veja o 8 de Março como uma forma de homenagear as mulheres das gerações anteriores que lutaram por direitos iguais aos dos homens. É que ao contrário de outras efemérides que são ditadas, por exemplo, pelo consumismo, a data tem raízes históricas operárias. O primeiro Dia Nacional das Mulheres foi assinalado a 28 de fevereiro de 1909 pelo Partido Socialista da América em homenagem à greve das trabalhadoras de fábricas de têxteis em Nova Iorque. Na altura protestaram contra a falta de condições de trabalho, ainda piores que as dos homens. Em 1917, mulheres na Rússia insurgiram-se contra as más condições laborais no último domingo de fevereiro que “caiu” no dia 8 de Março no calendário gregoriano. O seu movimento pelo “Pão e Paz” influenciou outro, o sufragista, e nesse mesmo ano as mulheres russas passaram a poder votar.
Desengane-se quem pensa que a igualdade de género é uma luta de mulheres, ela deve ser assumida como uma luta de todos pela justiça social. É o que defende a ONU que instituiu a data e promove a sua celebração desde 1975. Veja-se o exemplo do Nobel da Paz de 2018, o médico congolês e ativista pelos direitos humanos Denis Mukwege. Foi a sua luta para que a violência sexual contra as mulheres deixe de ser uma “estratégia de guerra” que lhe valeu o prestigiado prémio.
Em 2021 falou-se sobre a COVID-19 e como mulheres na liderança ajudaram a mitigar efeitos da pandemia. Para este ano o tema é “Igualdade de género hoje para um amanhã sustentável” reconhecendo a contribuição de raparigas e mulheres de todo o mundo na resposta às alterações climáticas. Uma luta urgente que será levada aos mais de cem países que celebram a data.