A Escola Profissional de Desenvolvimento Rural do Rodo (EPDRR) é a única instituição de ensino que se pode orgulhar de produzir e comercializar há já vários anos uma marca registada de vinho do Porto, a Quinta do Rodo. Situada no Peso da Régua, no coração do Douro, esta escola cinquentenária distingue-se também pela orientação vocacional que proporciona aos alunos desde o primeiro momento.
À pergunta sobre qual é a mensagem que gostaria de deixar a alunos interessados em frequentar a Escola, a diretora Susana Massa é assertiva. “Aqui a orientação vocacional funciona”, começa por dizer, para acrescentar que “Acompanhamos o aluno e as famílias desde o primeiro momento em que chegam à escola”. A base deste acompanhamento é o “plano de exploração vocacional” que se realiza no início do ano letivo aos alunos do 1º ano. Os percursos escolares podem ser redefinidos encaminhando os alunos para outras ofertas formativas. Nesse sentido, realizam-se atividades como a aplicação de inquéritos de aferição e organização de webinars com antigos alunos da EPDRR com percursos variados de sucesso, os que ingressaram no mercado de trabalho e/ou prosseguiram estudos.
Este é um cuidado que se estende ao longo dos três anos do percurso formativo “onde tratamos cada aluno como se fosse único”. Prova disso, conta a diretora, são os casos que aconteceram este ano de alunos que chegaram para tirar o Curso Técnico Auxiliar de Saúde, e “porque de facto não era aquele curso que queriam ou não era aquilo que idealizaram, estão neste momento no curso de Técnico de Cozinha/Pastelaria e estão completamente integrados”. Mas esta forma que a Escola encontrou para reduzir o absentismo e o abandono escolar exige recursos: há neste momento três psicólogos e uma assistente social que asseguram esta valência aos alunos e famílias.
Vinho do Porto “Quinta do Rodo”
Parte dos cerca de oito hectares da Quinta do Rodo onde está situada a Escola Profissional da Régua, como é também conhecida, é uma exploração vitícola. A instituição tem autorização de fabrico de Vinho do Porto desde 2003, a comercialização começou em 2005, e em plena produção atinge as 50 toneladas de uvas. “Somos a única escola a produzir o lendário vinho generoso”, diz com orgulho a diretora Susana Massa. A marca “Quinta do Rodo” existe nas categorias “Porto Tawny 10 anos” e “Porto Tawny 20 anos” e todas as fases de produção e engarrafamento são garantidas pelos alunos, professores e funcionários envolvidos no Curso Técnico de Vitivinícola. Para uma instituição que mantém uma matriz agrícola há mais de 50 anos, Susana Massa considera que este curso “representa a essência da nossa escola”. O vinho é visto sobretudo como um “produto pedagógico-científico”, e os interessados entram em contacto com a Escola para comprar o vinho que pode depois ser recolhido na respetiva adega. “Não temos uma campanha de publicidade montada, digamos assim, porque o nosso objetivo é comercializar esse vinho, claro que sim, mas há também a questão pedagógica que aqui está envolvida”.
Para se adaptar às necessidades económicas e empresariais da região, a EPDRR tem vindo a diversificar a oferta formativa para áreas como Técnico de Instalações Elétricas, turismo e saúde. A proximidade às termas das Caldas do Moledo, que estão a ser reabilitadas, justificou a criação de um curso na área do termalismo e este ano letivo começou a funcionar o Curso Técnico Auxiliar de Saúde, motivado pela situação pandémica. Para o próximo ano está prevista a reabertura do curso Técnico de Desporto e o funcionamento do Curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural. A ideia é dar reposta ao “boom” turístico que o Douro Vinhateiro tem vindo a registar. A Escola tem um conjunto de equipamentos e infraestruturas como salas de termalismo, uma cozinha e um restaurante pedagógico, uma padaria/pastelaria, assim como um Laboratório de Enologia e de Provas. O parque de máquinas, a estufa para produção de produtos hortícolas, o pavilhão gimnodesportivo, o anfiteatro exterior e as residências para estudantes ajudam a garantir a qualidade da formação.
Na Escola funciona também um Centro Qualifica. À imagem dos seus congéneres o Centro desenvolve processos de reconhecimento, validação e certificação de competências adquiridas pelos adultos ao longo da vida.
Dinamizar a região
A taxa de empregabilidade é muito alta, com as solicitações, sobretudo na área do turismo, a superar o número de alunos disponíveis. A Escola tem reforçado os protocolos com entidades diversas como instituições, empresas, autarquias e, além disso, organiza uma “mostra profissional” que é uma oportunidade para se dar a conhecer numa lógica de abertura à sociedade. A maioria dos alunos fica colocada nos locais onde fazem o estágio, seja na região ou em locais mais afastados. Outra aposta da Escola é no plano anual de atividades que inclui workshops, formações complementares, visitas de estudo nacionais e internacionais, proporcionando assim aos alunos experiências a que talvez não tivessem acesso de outra forma. É que a EPDRR preocupa-se não só em qualificar os alunos, mas em dar-lhe uma formação integral. “Pretendemos dar outros valores como a saúde, solidariedade, entreajuda, equidade, justiça e inclusão”, diz Susana Massa. Isto além da sustentabilidade, ou não fosse a EPDRR uma “Eco-Escola” que segue os princípios da economia circular. “É muito importante para nós não só formar jovens qualificados para entrar no mercado de trabalho mas também formar cidadãos que sejam intervenientes numa sociedade que cada vez é mais exigente e que está em constante mudança”.
O que permanece em muitos casos, muito para além do fim do curso e de uma forma talvez pouco comum, é a relação entre a escola e os alunos. Na rede social Facebook, na página “Clube dos Antigos Alunos da Escola do Rodo”, é visível a nostalgia por parte de quem frequentou a Escola Profissional da Régua quando ainda não tinha sequer essa nomenclatura. Há também irmãos e outros parentes de antigos alunos que a escolhem por influência familiar. “Quando necessitam da escola nós estamos sempre presentes para os acompanhar e ajudar a encaminhar naquilo que for preciso. Nunca deixamos quebrar essa ligação”, assegura a diretora.