Há muita(s) Histórias(s) para descobrir na zona Oeste de Portugal. É um território com uma imensa riqueza a vários níveis: patrimonial, histórico, cultural e geológico. É natural que esta zona tão associada aos dinossauros (mas não só) aspire legitimamente a ser um Geoparque Mundial da UNESCO. Os argumentos são-nos descritos por Bruno Pereira (geólogo) e Miguel Reis Silva (coordenador executivo) do Aspiring Geoparque Oeste.
O aspirante Geoparque Oeste (aGO) é um território que ambiciona o reconhecimento como Geoparque Mundial da UNESCO. Localizado no litoral de Portugal continental, é composto pelos municípios de Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Peniche e Torres Vedras. Com cerca de 1154 km2, fica a cerca de 30km a norte da cidade de Lisboa.
Este foi, e ainda é, um território importante para a nossa afirmação nacional, pela posição geoestratégica que ocupa e pela riqueza do seu património cultural. Por aqui passearam e enamoraram D. Pedro e D. Inês de Castro, um amor proibido que aqui encontrou refugiu. Mais tarde, foi aqui que a Rainha D. Leonor construiu o primeiro hospital termal do mundo, ainda em funcionamento após cinco séculos.
Alguns dos maiores feitos bélicos nas invasões francesas (Século XIX) aconteceram no aGO, onde foram travadas as principais batalhas que levaram ao fim da 1ª invasão francesa. Marcas de batalhas que chegam aos nossos dias através da toponímia, dos monumentos, mas também das estórias e lendas.
Este é um território marcado por inúmeros conventos e santuários, dos quais nasceram inúmeras tradições e costumes que ainda hoje se refletem na forma de viver, sentir e celebrar das gentes locais. Na azulejaria e cerâmica, este território é uma referência nacional, tal como na pintura antiga.
Falar do aGO é também falar da agricultura, do vinho e da vinha. Este é um dos principais territórios agrícolas do país, com hortícolas e frutícolas como produtos de excelência. Tem também produtos únicos, como é o caso da Pera Rocha e da abóbora. Para além dos excelentes vinhos aqui produzidos, destacamos a Aguardente DOC Lourinhã, uma das três regiões demarcadas de aguardente vínica do mundo.
Com 72km de costa, a pesca, o peixe e os mariscos têm uma importância estratégica e territorial para as comunidades locais, as suas tradições e os seus cultos. Para além de uma dezena de pequenos portos
espalhados pela costa, temos instalado um cluster da pesca, onde se destaca um dos maiores portos piscatórios, mas também, um polo científico e de investigação dedicado ao mar e aos recursos marinhos.
Não são só a tradição e a cultura que fazem um Geoparque Mundial da UNESCO, mas também o seu património natural. Aqui, destaca-se como património geológico de relevância internacional:
a) A Ponta do Trovão (Peniche), como uma referência mundial para o estudo do período de tempo do nosso planeta. Classificado internacionalmente como Global Boundary Stratotype Section and Point, em 2014, é uma referência mundial para estudar o limite entre dois andares geológicos, o Pliensbaquiano e o Toarciano. A Ponta do Trovão, juntamente com a restante Península de Peniche, é frequentemente visitada por investigadores de todo o mundo e utilizada para promover atividades de divulgação e educação.
b) Os dinossauros jurássicos, encontrados um pouco por todo o território do aGO. O primeiro fóssil de dinossauro português foi encontrado em 1863, na Praia da Peralta (Lourinhã), um conjunto de dentes atribuídos à espécie Torvosaurus gurneyi. Esta foi a primeira de milhares de outras descobertas no território aGO, sendo reconhecido internacionalmente pelas 13 espécies de dinossauros definidas com base nos fósseis aqui encontrados.
Também de grande relevância internacional, a descoberta de quatro ninhos de dinossauro neste território, facto bastante incomum em todo o mundo. Algo que torna esta região no epicentro nacional
para os dinossauros, achados com cerca de 150 milhões de anos (Jurássico Superior).
c) As flores fósseis do Cretácico deste território. Trabalhos científicos efetuados nas últimas décadas têm revelado vestígios fósseis das primeiras plantas com flor. Devido à sua natureza terrestre e ao tipo de tecidos biológicos, os seus fósseis são altamente relevantes, pois trazem luz à evolução deste grupo de plantas. Se este facto por si só não é cientificamente importante, mais de 20 novos géneros e 28 novas espécies foram descritas com base neste material.
d) Os afloramentos de classe mundial documentam a longa evolução do Oceano Atlântico e da evolução alpina. O território do aGO é também importante pelo seu rico registo geológico, desde o final do Triássico até ao Holocénico, mostrando-nos evidências de muitos momentos e fases diferentes da evolução da Terra. As falésias costeiras são geralmente um local privilegiado de observação, expondo continuamente unidades sedimentares mesozoicas numa paisagem fantástica. Também o património biológico do aGO é bastante diversificado. As suas paisagens de contrastes, entre a serra e o oceano, proporcionam diferentes ecossistemas seminaturais para uma variedade de animais e plantas. A importância destes habitats é reconhecida pelas três áreas protegidas e pelas três zonas especiais de conservação.
Esta é notoriamente uma região com um património natural e cultural muito rico, em muitos casos, estreitamente relacionados com as características geológicas do território. Estas incluem lagoas costeiras com rica fauna, paisagens cársicas com grutas pré-históricas, fortificações em vários topos de colinas, vinhedos e pomares em solos ricos em argila. Frequentes viagens de campo científicas e técnicas visitam esta região, que demonstram a atenção de académicos e profissionais, durante muito tempo.
Mas este é também um território de visita obrigatória para grupos escolares de vários graus de ensino.
Quem o visita tem à disposição um conjunto de experiências que dão a conhecer as inúmeras valências deste território, quer através dos 20 percursos pedestres reconhecidos ou da gastronomia local única.