Uma mulher que contrariou a mentalidade da sociedade da época, uma artista com um grande talento, Aurélia de Sousa morreu há 100 anos. São muitas as formas de assinalar a data e homenagear o seu talento, distribuídas ao longo deste ano, em vários locais do país, e que se prologam
até 2023. Deixamos aqui um brevíssimo resumo do seu percurso de vida.
A 13 de junho de 1866, em Valparaíso, Chile, nasceu um dos nomes mais marcantes da arte portuguesa, Maria Aurélia Martins de Souza, mais conhecida como Aurélia de Sousa. Filha de emigrantes portugueses, que foram em busca de melhores condições de vida e riqueza, pisou solo português pela primeira vez, aos três anos de idade, no regresso da sua família ao país de origem. Os de Souza, abastados com a fortuna retirada do trabalho na construção dos caminhos de ferro, escolheram a Quinta da China, debruçada sobre o rio Douro e localizada na cidade invicta, para se fixarem.
Oito anos após o falecimento de seu pai, Aurélia, a quarta de sete filhas, iniciou as suas lições de pintura e de desenho aos 16 anos, tal como todas as famílias burguesas, enquanto discípula de Caetano Moreira da Costa Lima. Nesse mesmo ano, realizou o seu primeiro autorretrato onde foi destacada pela sua destreza para a arte do pincel e do papel.
Aos 27 anos, Aurélia entrou na Academia Portuense de Belas Artes juntamente com a sua irmã Sofia de Souza, onde foi aluna de João Marques de Oliveira que influenciou o seu movimento estético de naturalismo com influências realistas, impressionistas e pós-impressionistas.
Em 1899, a Artista mudou-se para Paris para frequentar aulas na Academia de Julian, onde executou as suas primeiras exposições fora de Portugal e ganhou alguns concursos de pintura. Após o término dos seus estudos viajou pela Europa com a sua irmã Sofia, dedicando-se a visitar inúmeras galerias de arte e a percorrer os principais museus de grandes cidades europeias.
Regressou a Portugal com um encanto, despertado durante as suas excursões, pela pintura flamenga e começou, de imediato, a desenvolver a sua atividade artística e a vender alguns dos seus retratos, como é o caso do tão conhecido “Autorretrato”. Deu aulas particulares de desenho e de pintura no seu ateliê privado e iniciou-se no ramo da ilustração e da pintura de azulejos, aventurando-se, mais tarde, na fotografia como atividade artística e como um processo de pintura.
Faleceu com 55 anos no dia 26 de maio de 1922, há 100 anos, deixando o seu nome marcado na história da arte e na história de Portugal. A mulher artista que se expressou através de diferentes correntes artísticas, que executou diversos quadros memoráveis, como “Santo António”, uma pintura a óleo sobre a tela onde associou as suas crenças com a figura feminina. Aquela que viajou e explorou por várias
cidades, realizando exposições e honrando o seu nome e o seu trabalho artístico nelas todas. A mestre da pintura que dedicou a sua vida à arte, que não casou nem deixou descendência e que nunca esqueceu a cidade e o país onde nasceu. Tem o seu nome marcado em ruas portuguesas e numa escola, tem a sua arte exposta em museus e o seu nome gravado na cidade invicta e um pouco por todo o país.
Aurélia de Sousa foi, e é, um exemplo da emancipação da mulher e da força de expressão que a arte tem.
A mais relevante coleção pública de Aurélia de Sousa pertence à Câmara do Porto, e encontra-se na Casa Marta Ortigão Sampaio, aberta ao público na Rua de Nossa Senhora de Fátima. Um local que convidamos a uma merecida visita, a dois passos da Rotunda da Boavista.