A poesia tem um tempo muito diferente da prosa, que se manifesta na sua leitura, nas suas interpretações, mas desde longo também na sua execução. Dir-se-á até que os poetas vivem, eles próprios, num tempo diferente. Mas desengane-se quem julga que esta ideia possa significar algum alheamento da realidade. Basta olhar para as profissões abraçadas por tantos poetas para percebermos que contacto com a realidade é coisa que nunca lhes faltou. Agradeçamos antes que os seus horizontes de escape desse quotidiano laboral opressivo, e até depressivo, tenham sido partilhados connosco.
Mas porque me lembrei eu de poesia ao fechar esta primeira edição de 2023? Porque a Madeira está aqui em grande destaque, como o nosso leitor já se terá apercebido ao ver a nossa capa, e a Madeira é a ilha de Herberto Helder, um dos maiores poetas portugueses de sempre. Um dos mais misteriosos também, seja porque se negava a aparecer publicamente ou porque recusava prémios e homenagens. Mas que essa faceta, particularmente estranha aos olhos de hoje onde a fama e a exposição parecem fazer valer tudo, não nos distraia das suas palavras. Herberto Helder chegou a ser repórter também e, em vários artigos, foi revelando algumas referências e gostos pessoais seus, lembra-nos o Expresso, num perfil traçado em 2010: Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Leonard Cohen ou Patti Smith são alguns dos nomes citados. A sua poesia não é seguramente a mais fácil, mas deixo aqui só uma imagem, o início de um poema seu:
“Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente…”
Quando já lá estão todas as palavras, o melhor a fazer é não dizer mais nada.
E para além de mulheres da Madeira, mulheres “resilientes”, “empreendedoras”, “dedicadas e muito trabalhadoras”, como nos descreve a Secretária Regional de Inclusão e Cidadania, Rita Andrade, na entrevista que nos concedeu para esta edição, que mais temos? Temos empresas de grande valor, criadoras de riqueza e com uma capacidade de gestão muito acima da média. São “PME Excelência” e explicamos porquê.
Continuamos a entrevistar muitos empresários e profissionais nas mais variadas áreas. Da advocacia ao sindicalismo, do imobiliário à contabilidade, do turismo à administração portuária, entre tantas outras. Vemos projetos pessoais a nascer, empresas a crescer, empenho e vontade em construir um futuro melhor.
Começamos assim 2023, sentindo genuinamente que temos conteúdos com interesse para quem nos lê. É fruto também da confiança e da energia que nos são passadas pelos nossos intervenientes a cada número que fechamos.