Luís Paixão Martins, consultor de comunicação, reitera, no seu mais recente livro, “Como Mentem as Sondagens”, o quão enganadoras estas acabam por se revelar. Uma responsabilidade partilhada pelos técnicos de sondagens e jornalistas. Nesta obra de seis capítulos, cada um deles destina-se a uma “mentira” ou erro, desde as amostras, aos indecisos e à mediatização.
Em “Como Mentem as Sondagens”, Luís Paixão Martins denuncia o problema que a sociedade tem com as sondagens. “Ou melhor, com a bola de cristal em que a comunicação social as transformou. Os media servem-nos doses cada vez maiores de sondagens. Aquilo que passa por informação transformou-se em conteúdo político. Uma bola de cristal atrevida e avariada”, reitera.
Paixão Martins, que tem nos estudos de opinião um dos seus instrumentos de trabalho, “traça-lhes a evolução histórica — uma história fascinante e pouco conhecida — e faz a autópsia do que está a correr mal, analisando à lupa um caso concreto recente”. Trata-se das eleições na Região Autónoma da Madeira, embora o histórico de previsões eleitorais falhadas seja já “longo”. Outro exemplo que apresenta é o das eleições legislativas de 2022, uma vez que, a poucos dias dos cidadãos se dirigirem às urnas de voto, a previsão mais frequente da comunicação social portuguesa era de empate técnico. “Nenhuma sondagem previu uma maioria absoluta. O mesmo erro tem-se repetido um pouco por todo o mundo”, sublinha.
O consultor de comunicação faz a diferença entre estudos de opinião e sondagens eleitorais, defendendo que estas não foram feitas para prever resultados, mas que, no entanto, é esse o ângulo pelo qual são divulgadas. “Numa campanha, a partir do momento em que a sondagem é divulgada, ela, objetivamente, deixa de ter valor científico como indicador. Como os eleitores vão reagir em função daqueles dados, horas, ou um dia depois, se fosse feita uma outra sondagem com as mesmas pessoas, elas iriam dizer algo diferente do que disseram antes”, explica, em entrevista à Agência Lusa.
Na opinião do próprio, a consequência da divulgação das sondagens leva o eleitor a pensar que se determinado partido vai ter maioria absoluta, ele não precisa de exercer voto útil, ou mesmo de votar, “o que provoca abstenção e impede o voto útil, ao estilo ‘se vão ganhar para quê que vou votar naquele partido?’”, exemplifica.
Por fim, disse ter sido a sua reflexão sobre o papel das sondagens que o levou a escrever o livro, cujo objetivo é fazer com que as pessoas percebam o que estão a ver quando veem uma sondagem. “O pontapé de saída foi o facto de na altura se invocar sondagens a três anos das eleições, como potencial motivo para haver dissolução da Assembleia da República e convocarem-se eleições antecipadas, o que me parece ainda mais extraordinário. No fundo, foi para explicar às pessoas que as sondagens para isso não servem”, expõe.