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Todos os Caminhos vão dar a… Braga

A caminho de Braga, a cidade mais antiga de Portugal, irá caminhar por uma das vias romanas que irradiavam de Bracara Augusta, de onde chegavam e partiam seis vias principais. Esta Via XVII, a mais antiga do noroeste peninsular e parte do Itinerário Antonino, conduzia o soldado, o funcionário imperial, o mensageiro, o comerciante, o viajante e, enfim, o peregrino, a Asturica Augusta (Astorga), passando por Aqua Flaviae (Chaves).

Ainda hoje se preservam diversos miliários desta via, parte deles recolhidos no Museu D. Diogo de Sousa e no Museu Pio XII. Entrando no concelho de Braga, irá percorrer um troço em calçada, que instantaneamente nos transporta a mente para os tempos de há dois mil anos, até chegar ao lugar de Rola, passando depois pelo conjunto rural de Novainho, fronteira entre a freguesia de Este (S. Pedro e S. Mamede) e Gualtar, a caminho da urbe bracarense, entre recantos que preservam a identidade minhota.

Leon de Rosmithal também passou por aqui, considerando que a as vias romanas se mantiveram como a estrutura do sistema viário português até ao século XIX. Reproduzindo os passos deste Barão, o peregrino dos tempos modernos segue pela Serra do Carvalho, outrora palco da célebre “Batalha de Carvalho d’Este”, aquando da segunda invasão francesa comandada pelo Marechal Soult. Diz-se que as balas utilizadas pela resistência portuguesa resultaram da fundição dos sinos de Braga. É aqui também que nasce o rio Este (rio Alestes para os Romanos).

Atravessando calçadas, alminhas, cruzeiros, capelas e igrejas (tantas Igrejas!) não esperará o peregrino encontrar-se com entidades régias, tal como este Barão que foi recebido por Afonso V, rei de Portugal, e que se hospedou aqui durante oito dias, mas poderá visitar todo o património edificado durante o seu percurso. Atravessando a Rua do Souto, principal artéria da cidade, chegará ao derradeiro destino – a Sé Catedral, onde irá encontrar o túmulo de um peregrino, o Infante D. Afonso, herdeiro de D. João I, falecido em 22 de dezembro de 1400, de passagem por Braga a caminho de Santiago.

Sobre a cidade, escreveu o cronista desta viagem que “De Lanhoso a Braga há duas milhas. Braga é uma cidade com o seu castelo, situada entre montes, da qual dista, segundo dizem, trinta milhas não grandes Santiago de Compostela; naquela cidade tem o seu assento o Arcebispo de Portugal e se criam nela árvores do paraíso, laranjeiras, limoeiros, romãzeiras e outras muitas árvores e ervas que eu nunca havia visto em tanto número como nos arredores de Braga; até nas suas ameias cresce a hera (…).” Vestígios do castelo e a sede arquiepiscopal, resistentes ao tempo e aos caprichos humanos, encontram-se à espera para proveito e merecido descanso dos peregrinos. A comitiva continuou viagem, rumo a Santiago. Bom caminho.