Todos os anos, por esta altura, em Penamacor, já só se pensa em ‘pôr mãos à obra’ para ‘dar vida’ ao maior Madeiro de Portugal. Este ícone, que simboliza a fogueira do Menino Jesus, é a maior tradição deste município raiano da Beira Baixa.
“Vem de mansinho com o avançar da estação. Sente-se nos aromas que se evolam das florestas húmidas, nos cheiros que se desprendem dos telhados, no brilho das luzes, no calor do fogo”. É assim que o município de Penamacor nos recebe no site dedicado ao ícone do concelho (www.vilamadeiro.pt). Fala-nos de sensações que se multiplicam e se ampliam, todos os anos, com o aproximar do Natal. É, precisamente, por esta altura que, em todas as freguesias do concelho, os jovens em idade de cumprir o serviço militar se unem para cortar e transportar os troncos que alimentarão a fogueira destinada a aquecer o Menino Jesus.
O trabalho prático tem início a 7 de dezembro, com o corte e a recolha da madeira das árvores secas e doentes. No final do dia, depois de concluir a primeira etapa, os intervenientes fazem um convívio, que dura a noite toda. No dia a seguir, 8 de dezembro, feriado, a partir das 13 horas, a população e visitantes juntam-se nas ruas para saudar o cortejo de tratores e reboques, em número que procura sempre bater o precedente, onde os “jovens do ano”, outrora só os rapazes e agora também as raparigas, empoleirados nos troncos, atiram à rebatina os frutos do ramo de laranjeira que a praxe manda trazer, cantando e tocando modinhas, para alegrar os transeuntes.
Ao chegarem ao adro da igreja inicia-se o descarregar das diversas peças de lenha, um trabalho que, habitualmente, dura a tarde toda. Nesta fase há sempre muita gente que se deixa levar pelo som das concertinas e dos acordeões, com a finalidade de poder observar de perto o descarregar do que até ali foi transportado. O processo de montagem do enorme monte de madeira, que fica intacto até ao dia 23 de dezembro, é tarefa árdua e realizada por experientes manobradores de máquinas.
Se nas restantes freguesias de Penamacor o ato que a seguir se pretende documentar apenas ocorre no dia 24 de dezembro, com o cair da noite, na sede do município as pessoas reúnem- se por volta da meia-noite de 23 para 24 do último mês do ano, com a finalidade de atear o fogo ao Madeiro. Esta tarefa é levada a cabo pela “malta do ano”, que assim culmina um ciclo completo. Também depois da ceia de Natal, a população tem o hábito de se reunir em redor da fogueira, que se mantém acesa durante vários dias, num gesto ritual de fraterno encontro. “É o Natal, com todas as suas tradições! E aqui, em Penamacor, temos a maior tradição, temos o maior Madeiro de Portugal”.