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“Neste caminho é fundamental estar aberto à mudança”

Nídia Teixeira licenciou-se em economia e, ao longo do tempo, tem vindo a fazer formação contínua em diversas áreas. Atualmente, assume funções de Executive Board Member numa instituição bancária e integra o corpo de mentores do programa “Voice Leadership Initiative”, da NOVA School of Business and Economics.

Antes de mais, gostaríamos de conhecer melhor quem é a profissional Nídia Teixeira. Pode falar-nos, de forma resumida, sobre o seu percurso?

A minha passagem pela auditoria financeira, numa sociedade de revisores oficiais de contas, levou-me a desenvolver competências nas mais variadas áreas de negócio, nomeadamente a bancária. Foi desta forma que contactei pela primeira vez com a Instituição onde exerço, no âmbito da auditoria/revisão legal de contas, após esse período integrei o Conselho Fiscal e em 2013 fui convidada para assumir funções de Executive Board Member. A minha formação académica base é a licenciatura em economia, pela Universidade Lusíada de Lisboa, efetuando formação permanente e continua em diferentes áreas, como é o caso da governança, sustentabilidade, greenfinance, responsible business, transformação digital e ainda a formação avançada de Corporate Governance – Advanced Corporate Governance Certificate, pela NOVA SBE Executive Education. Atualmente, integro o corpo de mentores na NOVA SBE no Voice Leadership Initiative, que é um programa de capacitação para Pequenas e Médias Empresas (PME), visando contribuir para uma maior produtividade e crescimento destas. Neste sentido o programa tem como objetivo contribuir para o crescimento da economia portuguesa e para elevar os negócios das PME, através de formação e mentoria.

O que lhe desperta mais interesse no setor bancário, que a fez enveredar por esta área?

O setor bancário surgiu de forma natural, sendo uma área com um propósito e um alinhamento para um bem maior – criação de valor na organização e na comunidade. Os bancos de raiz cooperativa, por exemplo as Caixas de Crédito Agrícola Mútuo, historicamente, orientam-se tendo em atenção as considerações sociais, ambientais e a visão a longo prazo. Atualmente, é prioritário promover uma transição para uma economia mais verde, em articulação com as partes interessadas. O propósito destas instituições assenta no financiamento da sustentabilidade ambiental, económica e social, que é a expressão de uma cultura, de uma governance, centrada na criação de valor a longo prazo e no crescimento sustentável da comunidade onde se insere. Outra das prioridades é a inclusão financeira no sentido de facultar o acesso a serviços financeiros a custos comportáveis de modo justo e transparente.

Para quem não sabe, quais são as funções de uma pessoa que ocupa um cargo como o seu?

As funções visam alcançar um equilíbrio entre os interesses económicos e as aspirações sociais da instituição e da comunidade onde se insere, minimizando, ao mesmo tempo, os impactos ambientais em articulação com o desafio de manter a transparência e a ética e de promover e garantir uma cultura de Compliance, em constante evolução e exigência, que se traduza no desenvolvimento de competências chave na instituição que a capacitem a navegar a complexidade e a impulsionar as mudanças necessárias.

Acredito que ao longo da sua carreira se tenha deparado com certos obstáculos que fazem parte do caminho a traçar. De que forma os ultrapassa?

Os obstáculos surgem permanentemente e obrigam a refletir, possibilitando a sua transformação em desafios/oportunidades, com foco, determinação, resiliência e, acima de tudo, com confiança no futuro. Neste caminho é fundamental estar aberto à mudança, saber adaptar-se com agilidade e de forma contínua, sair muitas vezes da zona de conforto, colaborar e não ter medo do erro, só assim é possível o crescimento profissional e pessoal.

“Saber adaptar-se com agilidade e de forma contínua, sair muitas vezes da zona de conforto,
colaborar e não ter medo do erro, só assim é possível o crescimento profissional e pessoal”

Segundo dados divulgados pelo Banco de Portugal, no ano passado, o número de mulheres nos órgãos sociais dos sete maiores bancos do nosso país atingiu, em 2022, um terço, mas a maioria exerce cargos não executivos. Na sua opinião, o que pode ser feito para que sejam atingidas metas mais desejáveis e termos da nomeação para a banca de mulheres com funções executivas?

O caminho faz-se caminhando. Atualmente, o regulador dá um sinal claro ao setor, em direção à igualdade, estando a dar passos significativos e a construir bases para promover igualdade de género nas funções de responsabilidade na banca, seguindo algumas das boas práticas europeias. A legislação existente promove um crescimento com vista a uma maior paridade de género, não só ao nível das lideranças, mas também na gestão, seja ou não no setor bancário. Enquanto integrante de um conselho executivo, quais considera serem as caraterísticas necessárias para atingir o patamar de uma empreendedora/líder de sucesso? Atualmente, temos de lidar com a cultura das organizações num mundo em constante mudança, evolução e incerteza. Cada vez mais existe a necessidade de qualificações/talento associadas a caraterísticas pessoais de liderança, resiliência, humildade, inteligência emocional, empatia e conhecimento, em estreita ligação com o saber e o saber fazer, pois só assim é possível antecipar tendências, criando valor e impacto positivo, para todos e para cada um.

“Cada vez mais existe a necessidade de qualificações/talento associadas a caraterísticas pessoais de liderança, resiliência, humildade, inteligência emocional, empatia e conhecimento”

Enquanto integrante de um conselho executivo, quais considera serem as caraterísticas necessárias para atingir o patamar de uma empreendedora/líder de sucesso?

Atualmente, temos de lidar com a cultura das organizações num mundo em constante mudança, evolução e incerteza. Cada vez mais existe a necessidade de qualificações/talento associadas a caraterísticas pessoais de liderança, resiliência, humildade, inteligência emocional, empatia e conhecimento, em estreita ligação com o saber e o saber fazer, pois só assim é possível antecipar tendências, criando valor e impacto positivo, para todos e para cada um.

Segundo o Jornal de Negócios, o setor da banca na Europa alcançou, na primeira segunda-feira de novembro, máximos de quase uma década. Como vê o futuro do setor a curto e a longo prazo?

O setor bancário enfrenta diversos desafios, mas também oportunidades. O modelo de negócio da banca do presente/futuro vai ter de satisfazer clientes digitais e tradicionais, ser capaz de atrair novos talentos e requalificar o existente. A utilização de ferramentas digitais e a sua aplicação obriga, inevitavelmente, a olhar para dentro, no duplo sentido de mobilizar talento, de o atrair e de requalificar o existente. O investimento na formação é a melhor forma de responder aos desafios. Os bancos estão a operar num quadro regulatório exigente, com necessidades de investimento significativos, mas existem, igualmente, oportunidades para o setor bancário, desde que seja capaz de ser o motor do crescimento económico, do emprego da inovação e de assumir um papel critico no contributo para a concretização dos 17 ODS, uma vez que são os bancos que fornecem a maior quota de financiamento a empresas e projetos de investimento, nos diversos setores de atividade. Neste sentido, um dos principais desafios é o de ser capaz de criar um modelo de negócio sustentável, assente em boas práticas e na transparência, apto a financiar o crescimento sustentável como via para uma economia mais verde, sustentável e inclusiva.