A reabilitação urbana consolidou-se como um dos grandes motores de transformação das cidades portuguesas, com impacto direto no mercado imobiliário, no turismo e, sobretudo, na qualidade de vida urbana.
Se antes a expansão se fazia “apenas” à custa de novas construções, há já vários anos que a aposta recai na revitalização do património edificado, respondendo ao duplo desafio de preservar a identidade e responder às exigências de habitação e sustentabilidade.
Dinamismo e Tendências
Os dados mais recentes do INE mostram que o licenciamento de edifícios para reabilitação cresceu 17,4% no terceiro trimestre de 2024 face ao ano anterior, com particular destaque para o Norte do país, que lidera em número de edifícios licenciados para este fim. Este dinamismo resulta de incentivos fiscais, maior procura por habitação em zonas centrais e uma crescente valorização do património. No entanto, apesar do aumento do licenciamento, a concretização das obras enfrenta desafios: o número de edifícios efetivamente reabilitados caiu 5,8% no mesmo período, refletindo entraves burocráticos, custos elevados e dificuldades de execução em edifícios antigos.

Impacto no Mercado Imobiliário
A reabilitação urbana tem sido fundamental para dinamizar o mercado imobiliário, sobretudo em Lisboa e Porto, onde a escassez de solos disponíveis e a pressão turística aceleraram a recuperação de edifícios devolutos. Esta aposta permitiu diversificar a oferta habitacional, atrair investimento e valorizar zonas antes degradadas. Contudo, a reabilitação também trouxe desafios, como o natural aumento dos preços, tornando essencial o equilíbrio entre renovação e acessibilidade.
Turismo e Imagem Urbana
O impacto no turismo é visível. Centros históricos reabilitados tornaram-se polos de atração, não só para visitantes, mas também para novos residentes e negócios. A melhoria do espaço público, a criação de percursos pedonais e a valorização do património arquitetónico reforçaram a imagem das cidades portuguesas como destinos autênticos e sustentáveis. Esta regeneração contribui para a sustentabilidade ambiental, reduzindo o consumo de solos e promovendo a reutilização de materiais.
Qualidade de Vida e Sustentabilidade
Do ponto de vista social, a reabilitação melhora as condições de habitabilidade, reforça o sentimento de pertença e combate a exclusão em bairros vulneráveis. A regeneração urbana, quando articulada com políticas de inclusão e mobilidade, pode contrariar estigmas sociais e promover maior coesão. Ambientalmente, a reabilitação é uma das formas mais eficazes de reduzir emissões e promover cidades mais compactas e eficientes.

Desafios e Futuro
Apesar dos avanços, persistem desafios: a necessidade de acelerar processos, garantir financiamento e evitar que a reabilitação se resuma a obras “de fachada” ou à monocultura turística. O futuro passará por políticas integradas, que promovam a reabilitação como resposta à crise habitacional e ao mesmo tempo como instrumento de valorização do património e de promoção da qualidade de vida urbana.
A reabilitação urbana transformou a face de muitas cidades portuguesas que, há pouco mais de uma década, estavam literalmente a ruir.
Devolveu vida a centros históricos abandonados, atraiu investimento onde antes havia apenas abandono e criou dinâmicas residenciais, comerciais e culturais. No entanto, nem sempre este impacto é reconhecido. Persiste a expectativa de soluções rápidas, baratas e universais, como se regenerar o edificado fosse um exercício automático, sem risco, custo ou complexidade. A verdade é que reabilitar exige tempo, muito investimento e visão estratégica. Só com este compromisso será possível continuar a transformar as cidades portuguesas por dentro, sem as descaraterizar por fora.
