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“O futuro do IPBeja e do Alentejo passa por mais indústria, orgulho local e políticas públicas que valorizem o interior”

Com uma aposta em áreas que vão da bioindústria de insetos a um investimento de 22 milhões de euros numa nova residência de estudantes, o Politécnico de Beja está a combater a desertificação da região. A estratégia garante empregabilidade total em setores-chave e, como nos conta a presidente Maria de Fátima Carvalho, afirma a instituição como um polo de inovação e fixação de talento no interior.

O IPBeja tem vindo a afirmar-se como um polo de inovação e desenvolvimento no Alentejo. Que projetos recentes considera mais emblemáticos para a afirmação da instituição e da região?

O IPBeja destaca-se com projetos estruturantes como a nova residência estudantil, aprovada em 2022, num investimento de cerca de 22 milhões de euros, com capacidade para 503 camas, colocando a instituição entre as melhores do sul do país em rácio cama/aluno.

Num tempo record, o IPBeja irá oferecer a partir de 2026, 327 quartos: 126 individuais, 150 duplos, 25 estúdios individuais e 26 estúdios duplos, localizados numa nova residência de 11 000 m² distribuídos por quatro blocos com área comum, zonas de convívio, áreas de estudo, ginásio, cozinhas, lavandaria e áreas técnicas.

No plano europeu, integra a aliança HEROES, com nove universidades, potenciando o impacto na região através de investigação, mobilidade e cooperação. Estes projetos reforçam a atratividade do IPBeja e contribuem para o desenvolvimento do Baixo Alentejo.

O ensino superior politécnico enfrenta desafios específicos, da captação de alunos à fixação de talento no território. Que estratégias tem o IPBeja adotado para responder a estes desafios?

O IPBeja aposta na valorização dos seus laboratórios vivos agrícolas, transformando-os em motores de inovação e atração de talento científico na área da agricultura. Lançámos também uma política de ensino de proximidade, que leva a formação superior a adultos e populações afastadas, promovendo a qualificação e inclusão. Estas ações respondem aos desafios da interioridade, enquanto reforçam o papel do IPBeja na coesão social e territorial.

Neste contexto de transição digital e de novas exigências do mercado de trabalho, como é que o IPBeja está a reinventar a sua oferta formativa e a relação com as empresas e a comunidade local?

Temos apostado em formação desenhada em parceria com empresas, como nas pós-graduações para o setor olivícola, e no desenvolvimento de microcredenciais para a administração pública e transformação digital. O IPBeja está atento às necessidades do tecido empresarial e colabora com o Centro de Emprego para identificar lacunas de formação. Através de um ensino dirigido, promovemos a empregabilidade e o desenvolvimento regional, respondendo às exigências do mercado atual.

O papel das instituições de ensino superior no combate à desertificação do interior é frequentemente debatido. Na sua visão, que contributos concretos pode (ou deve) o IPBeja dar para contrariar esta tendência?

O IPBeja atua no combate à desertificação com investigação aplicada e parcerias locais. Projetos como o ClimACTION, que cria planos de resiliência climática em cinco municípios da região, ou o Ares de Beja, que monitoriza a qualidade do ar, mostram este compromisso. Destaca-se, ainda, o InsectERA, com um novo laboratório de imagem hiperespectral, que posiciona o IPBeja nas áreas emergentes da bioindústria dos insetos e das imagens hiperespectrais, com impacto direto na sustentabilidade e inovação regional. Além disso, o IPBeja participa na “Insect Training Network” com quatro CTeSP, na investigação de um processo de tratamento de águas residuais de queijarias recorrendo a insetos e na análise sensorial de produtos para alimentação humana com aditivos derivados de insetos.

“A empregabilidade dos diplomados do IPBeja é elevada, sobretudo nas áreas da saúde e educação, onde, atualmente, é total”

A empregabilidade dos diplomados é um dos grandes critérios de avaliação do ensino superior. Que dados pode destacar sobre a integração dos vossos alunos no mercado de trabalho e que áreas de formação se têm revelado mais procuradas?

A empregabilidade dos diplomados do IPBeja é elevada, sobretudo nas áreas da saúde e educação, onde, atualmente, é total. Engenharia Informática e Engenharia da Segurança Informática também apresentam empregabilidade plena. Na área agrícola, o IPBeja continua a formar profissionais essenciais para a região. Cursos como Engenharia do Ambiente estão a ganhar relevância no mercado, refletindo a crescente preocupação com a sustentabilidade e as oportunidades emergentes nas áreas ambientais.

Que tema gostaria de ver mais debatido na agenda pública sobre o ensino superior politécnico, e que mensagem gostaria de deixar, enquanto Presidente, sobre o futuro do IPBeja e do Alentejo?

As acessibilidades, físicas e digitais, são cruciais. É inadmissível demorar quase duas horas de Beja a Odemira. A cobertura de rede em todo o território é essencial para atrair estudantes e desenvolver a economia local. Defendo também um financiamento mais justo para instituições do interior, com medidas compensatórias pela sua condição geográfica. O futuro do IPBeja e do Alentejo passa por mais indústria, orgulho local e políticas públicas que valorizem o interior.

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