Em setembro, a cada ano, é como se a vida nos oferecesse um novo ponto de partida, um tempo para reajustar o azimute e decidir para onde seguir. Um regresso ao trabalho, à rotina, até a nós próprios, com tudo o que o verão nos trouxe, de luz ou de sombra. Um regresso à arena, palco onde se digladiam argumentos, por vezes tão acutilantes como as mais afiadas espadas. “Sombras e pó”, repetia Proximo, uma das personagens mais icónicas do filme Gladiador (2000).
É difícil ignorar o ruído que vem do mundo. Os desafios económicos, as transformações tecnológicas, as incertezas que pairam sobre o futuro com um pano de fundo de ameaça constante. Perante este cenário, a tentação é procurar respostas prontas, soluções imediatas. Mas a verdadeira força não está na velocidade, mas na profundidade. Na capacidade de escavar para lá do óbvio, de encontrar motivação onde menos se espera, e de perceber que o recomeço não tem de ser perfeito. Apenas tem de ser.
Como nas grandes marés, há momentos em que a vida nos puxa para trás, obrigando-nos a repensar tudo. É nesses momentos que as nossas fundações são testadas. A resiliência não é a ausência de dor, mas sim a capacidade de regressar, de reconstruir, de voltar a erguermo-nos, mesmo quando o cansaço e o peso de um verão pessoalmente exigente nos fazem querer parar. Não há pressa que resista ao que é feito com raízes.
Quem vai lendo este espaço reconhecerá a minha relutância em amontoar palavras vazias para encher espaço. Ou a minha recusa instintiva à repetição constante, à frase manipuladora e à falta de clareza. Se há um espaço para falar, escrever ou debater, que esse seja usado para combater a cultura do silêncio, reforçar a força do argumento, da lógica, do pensamento esclarecido e culto como soluções para um mundo mais justo.
Há momentos decisivos em que temos de falar, de tomar decisões. Se nos arrependermos de alguma coisa, que seja daquilo que fizemos e não daquilo que deixámos por dizer.
A maior arma para enfrentar a volatilidade continua a ser o bom senso, e a verdadeira força de um projeto mede-se pela sua capacidade de pensar, criar e construir com convicção.
Como escreveu José Saramago: “É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.” Acreditamos que o triunfo, esse “grande impostor”, nas palavras de Rudyard Kipling, não é tanto o destino, mas sobretudo a forma como construímos o nosso caminho, mesmo quando tudo à nossa volta nos convida ao efémero. É no regresso, após o recuo, que a verdadeira força de alguém se manifesta. Esperamos que estas páginas o inspirem a enfrentar os desafios que se avizinham, e também a celebrar os recomeços.