Apesar de ter formação em contabilidade e gestão de empresas, é como personal organizer que Sónia Garcia se sente realizada a nível profissional. Fascinada por transformar a vida das pessoas no dia a dia, organiza o evento “Women Talks in Azores”, dedicado ao empoderamento feminino.
De que forma se desenrolou o seu percurso profissional até se tornar personal organizer?
Tem sido uma grande aprendizagem de um sonho antigo, de uma forma que nunca pensei em fazê-lo. Tirei a licenciatura de gestão de empresas, mas desde pequena, “distraía-me” a organizar livros e gavetas por tamanhos. Costumo dizer, a brincar, que me ajudou neste percurso ter jogado muito Tetris também. O primeiro clique sobre o poder da organização surgiu quando li o livro da guru japonesa nessa área Marie Kondo: “organiza a tua casa, organiza a tua vida”, há muitos anos, uma vez que na altura conhecia pessoas que precisavam de apoio emocional e mental e os seus espaços refletiam como se sentiam interiormente, desorganizados e desestruturados a um nível extremo.
Entretanto, também me aventurei por um curso de decoração de interiores, apesar de nunca ter exercido, o que já era uma pista para o gosto de ter espaços harmoniosos e funcionais.
O segundo clique foi quando uma grande amiga engravidou, disponibilizei a minha ajuda para preparar o quarto da bebé e ao fazê-lo percebi que queria enveredar por esta área ajudando mais pessoas e famílias. Surgiu, depois, o primeiro curso em novembro de 2023 e desde aí, sinto que tem sido um crescimento lento, mas consistente, sempre em aprendizagem e reconhecendo que aprendo com cada casa e com cada família.
O que mais a fascina nesta área onde tem a possibilidade de transformar vidas através da organização?
É precisamente transformar a vida e as rotinas dos utilizadores dos espaços, ver tudo de forma clara, funcional, harmoniosa e bonita, como se fosse numa loja, onde tem impacto direto na vida da pessoa, da família ou até de negócios, como já aconteceu em algumas reorganizações que já fiz de espaços profissionais. É um alavancar na vida de quem utiliza os espaços e uma poupança de tempo para o que realmente importa.
Como é obvio, as casas são e devem ser dinâmicas. É normal que não estejam imaculadas como se fossem apenas e só objetos de decoração, de museu ou casas de revistas. Isso é utópico e um mito. Agora, quanto mais organizada, categorizada com lógica e estrutura e recheada apenas com os artigos que fazem sentido a cada cliente e que sejam rápida e devidamente alocados, mais bonitas, funcionais e acolhedoras se tornam as casas e espaços.
Quais são os serviços que disponibiliza atualmente e quem mais a procura?
Atualmente, o principal e o mais requisitado é o serviço de reorganização de ambientes e espaços residenciais, mas o apoio ao destralhe, pré/pós mudança ou remodelação, e o planeamento de armários e roupeiros também são serviços que presto. Quem mais me procura são mulheres entre os 30 e os 60 anos que trabalham, normalmente mães que querem alinhar os seus espaços, principalmente roupeiros, e pretendem redescobrir-se enquanto mulheres, para além das suas várias facetas.
“É um alavancar na vida de quem utiliza os espaços e uma poupança de tempo para o que realmente importa”
Acredito que depois de terminar cada serviço receba feedback de quem recorreu ao seu profissionalismo. O que mais lhe costumam dizer?
No geral, que o meu trabalho supera as expetativas e que consigo entender e atender à rotina dos clientes de forma prática e funcional, facilitando e surpreendendo mais do que o esperado. Mesmo que não seja de forma explicitamente direta, a vida de todos os meus clientes que já me contactaram, ao fim de algum tempo muda de alguma forma, ou mudam de emprego, ou aumentam a família, ou mudam de casa.
Como se costuma dizer, qualquer caminho serve se não soubermos para onde ir. Nesta profissão, acredito muito que o cliente ao definir ou idealizar como gostaria de ter o seu dia-a- dia e porquê, seja para ter mais tempo em família, desenvolver algum hobbie ou investir na carreira, por exemplo, já tem e vai ter uma perceção do que precisa e não precisa em casa e para mim agiliza muito o processo, até porque cada cliente e cada família têm objetivos e dinâmicas diferentes.
No dia 2 de novembro, após um “teste” com “nota positiva”, acontece o tão aguardado Women Talks in Azores. Para quem não sabe, no que consiste esta iniciativa?
É um evento de empoderamento feminino onde várias mulheres, de diversas áreas, vão palestrar, desde organização, saúde mental, inteligência emocional, espiritualidade, saúde, menopausa, sexualidade, maternidade, finanças, ao empreendedorismo, para darem o seu testemunho e conhecimento credenciado e proporcionarem algum do seu vasto conhecimento a outras mulheres que queiram evoluir e aprender. Tudo isto através de interação, conversas, dinâmicas de grupo, networking, de forma que as oradoras também possam, depois do evento, acompanhar através do seu trabalho as mulheres que quiserem. É um despertar para essas áreas, onde algumas delas ainda são tabus, mesmo entre mulheres, onde podem ouvir e sentir-se acolhidas num espaço sem julgamento onde todas podemos aprender de alguma forma umas com as outras.
O que a motivou a criar um evento desta envergadura?
Ao longo da minha vida, tenho tido diversas mulheres que me têm ajudado a desenvolver a minha vida profissional e pessoal de diversas formas. Dava por mim a apresentar estas mulheres a amigas e outras conhecidas e percebi o potencial de networking e de as colocar ao serviço umas das outras, com as suas ferramentas, tal como me ajudaram a mim.
Muitas mulheres diziam que se inspiravam em mim porque de alguma forma as ajudei, mas no fundo vou aprendendo com todas e transmitindo esse conhecimento e desenvolvimento que fui adquirindo. Daí ter escolhido algumas dessas mulheres que me têm ajudado para palestrarem no evento. Só assim me fazia sentido e ainda para mais terem todas ligações ou serem dos Açores, por forma a conseguirem fazer o acompanhamento às que assim o entenderem.
